As escadarias abaixo do pórtico de quatro colunas jônicas do palacete de estilo neoclássico deverão ficar estreitas para acolher os participantes da comemoração do centenário do Instituto Porto Alegre (IPA). A mobilização de ex-alunos é intensa para a celebração agendada para o dia 17 de março, às 17h, no cume do “morro milenar” (como destaca o hino da escola), no bairro Alto Petrópolis, na zona norte da Capital, onde se localiza o IPA.
— Existe uma mística que ninguém sabe explicar. Sabemos apenas que o amor pelo IPA perdura para sempre — afirma o empresário Ricardo Eckert, que faz parte da comissão organizadora do evento.
Fundado em 1923 como Porto Alegre College — a alteração para IPA se deu em 1937, quando o Estado Novo proibiu que as instituições de ensino brasileiras tivessem nomes estrangeiros —, o colégio ocupou, a princípio, um sobrado na esquina da Rua Marechal Floriano com a Avenida Salgado Filho, no centro da cidade. A transferência da escola vinculada à Universidade Metodista do Sul, de Dallas (EUA), para o morro de Alto Petrópolis (então uma área praticamente rural de Porto Alegre) aconteceu em 1924.
— Uma pedreira foi contratada para fazer a terraplanagem do terreno. Parte das rochas extraídas se usou para erguer o prédio. Assim, o IPA foi construído com pedras e sobre pedras — explica Eckert.
Na maior parte do tempo, o IPA operou em regime de internato apenas para meninos. A clientela era formada, sobretudo, por filhos de estancieiros e comerciantes endinheirados, como relata Edni Schroeder, coordenador da comissão que organiza a festa.
— Se a gente der um grito para saber quem é ipaense (que estudou no IPA) ou descendente de ex-aluno por essas bandas do Interior, pulam uns quantos de todo o lado.
Schroeder é um exemplo clássico de ipaense. Ingressou no colégio em 1962, vindo de Cachoeira do Sul (à época, havia 600 alunos, dos quais 480 eram internos). Depois, foi funcionário com o cargo de “cuidador de alunos” – as atribuições eram vigiar os estudantes em áreas como dormitórios e refeitório, além de acompanhá-los na ida ao cinema, já que os pais não permitiam que saíssem sozinhos da escola. Foi ainda professor de Química e, por fim, dirigiu o IPA em duas oportunidades (de 1970 a 1979 e entre 2000 e 2004).
Uma das figuras míticas da história do IPA é Oscar Machado, primeiro brasileiro a ocupar o cargo de reitor (como eram chamados os diretores), de 1934 a 1954. A ele é atribuída a criação do “espírito ipaense”, uma espécie de aura ou sentimento de pertencimento à escola que acompanha os alunos por toda a vida. Parte desse espírito está refletida nas páginas das Colunas, publicações anuais que registravam as fotografias dos formandos e as principais atividades do período (seguindo a tradição das escolas norte-americanas).
Machado também é autor do Hino do IPA, que exalta a “escola majestosa”. Outra melodia na ponta da língua dos alunos era a Canção da Vitória, entoada para incentivar as equipes do colégio em competições estudantis, como Jogos Universitários ou Olimpíadas Metodistas. O IPA destacava-se em futebol, vôlei, atletismo e basquete. À época, um dos professores de educação fisica era Selviro Rodrigues, técnico do time do Renner (extinto clube da Capital), campeão gaúcho de futebol profissional, em 1954.
— O IPA abriu espaço para muita gente no esporte através da concessão de bolsas de estudo — diz o ex-aluno Fabrício Neves Correa, que construiu carreira como árbitro da Série A do futebol brasileiro.
Entre os famosos que estudaram no IPA, estão o escritor Luis Fernando Verissimo, o folclorista Paixão Côrtes e o técnico Luiz Felipe Scolari, além do cantor e compositor Raul Ellwanger. Atualmente, o IPA oferece apenas cursos de nível superior. Ex-alunos que desejam participar das festividades podem entrar em contato pelo WhatsApp (51) 981300008.