A colaboração a seguir foi enviada por Flávio Barcelos Oliveira, de 67 anos, ex-funcionário da antiga Secretaria de Meio Ambiente (Smam), local onde trabalhou por 42 anos, e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana.
Um incêndio, ocorrido no início dos anos de 1970, no antigo prédio administrativo da Divisão de Praças e Jardins (DPJ), sediada no Parque Farroupilha, queimou todo arquivo histórico da arborização, praças e parques de Porto Alegre. Com auxílio da comunidade, técnicos e instituições, organizou-se um novo arquivo, o qual ainda existe na histórica Smam (de quatro letras), atual Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus).
O doutor Ruy Baddo Krug (in memorian) foi fundamental na reconstituição desse arquivo. Ele trabalhou por 42 anos no extinto DPJ. Com a criação da Smam, em 1976, doutor Ruy foi recontratado para reconstituir documentos históricos sobre a arborização pública e áreas verdes urbanizadas de Porto Alegre (arquivo "Divisão de Projetos e Cadastro/Smam").
A mais fantástica história que ouvi do doutor Ruy refere-se ao plantio das palmeiras no canteiro central da Avenida João Pessoa. Ele determinou ao seu melhor chefe de turma para que executasse o plantio daquelas palmeiras. Um croqui com metragens e outras especificações acompanhava a planilha de serviços e, naturalmente, não contemplava o plantio de mudas sobre a ponte que cruza o Arroio Dilúvio.
No turno da manhã, o severo chefe de turma não permitiu que um funcionário se afastasse para comprar lanches numa padaria, nas proximidades. A turma não gostou, mas ficou aparentemente resignada.
Doutor Ruy sempre vistoriava os trabalhos no final da manhã ou da tarde. Naquela manhã, não compareceu. Os servidores concluíram que a vistoria do engenheiro seria à tarde.
O chefe de turma, embora rigoroso com servidores, costumava afastar-se por 30 minutos no horário do intervalo para o lanche da tarde que, formalmente, era de apenas 15 minutos. Na ausência temporária da chefia, os funcionários deixaram seus lanches de lado e fizeram um mutirão de plantio contemplando, inclusive, o canteiro central da ponte, para que ficasse claro que o encarregado da turma não estava presente e havia se afastado.
"Pura sacanagem", justificou o subordinado ao doutor Ruy, tentando explicar o que acontecera e comprometendo-se a retirar as palmeiras no dia seguinte.
"Pode ter sido ‘uma sacanagem’, mas ficou muito bonito. Mantenha o plantio das palmeiras sobre a ponte", completou o doutor Ruy.
Esse interessante registro, referente ao plantio das palmeiras-da-califórnia (Washingtonia robusta), na Avenida João Pessoa e na ponte sobre o Arroio Dilúvio (esquina com a Avenida Ipiranga), constitui um pequeno caso dentre as muitas histórias curiosas da arborização urbana da Capital, que farão parte de um livro a ser lançado, em breve, pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (Sbav).