Em 1957, uma adolescente de 15 anos foi eleita a mais jovem Rainha do Rádio do Brasil. Maria Helena Andrade tinha chegado há pouco tempo a Porto Alegre, vinda de Rio Grande, e estava prestes a se transformar em uma cantora popular, com direito a fã clube e tudo. Como representante da Farroupilha, superou as concorrentes no último concurso do gênero realizado na Capital.
Na década de 1950, existia uma feroz disputa pela audiência entre Farroupilha, Gaúcha e Itaí, trio conhecido como a Santíssima Trindade do rádio gaúcho. Essa rivalidade se manifestava especialmente na eleição da Rainha do Rádio, promovida pela Casa do Artista Riograndense, instituição que até hoje serve de lar para músicos e atores em idade avançada. A eleição movimentava toda a cidade. As candidatas desfilavam na Rua da Praia ao final da tarde, elegantes, com chapéus, luvas e bolsas. Quando cruzavam com uma concorrente, viravam a cara.
A eleição era decidida pelo público, que indicava a predileta em cupons publicados pelos jornais locais. Para vencer a disputa, Maria Helena confiava, sobretudo, em seus maiores cabos eleitorais, os estivadores da Capital. “Fazia shows no Cais do Porto para mobilizar a turma”. Deu certo. Ela ultrapassou a marca de 20 mil votos, em uma retumbante vitória: a representante da Gaúcha teve 10 mil indicações e a da Itaí, 6 mil. Além da coroa, guardada até hoje no armário como relíquia, ganhou um manto – “caríssimo na época”, como faz questão de destacar –, mas este foi entregue sob custódia à Casa do Artista. Com tamanho sucesso, Maria Helena foi chamada de a Sapoti do Sul – referência a Ângela Maria, cantora de sucesso nacional à época, que ganhara o apelido de Getúlio Vargas. “Essa moça tem a voz mais doce que sapoti!”, disse o ex-presidente acerca da intérprete de Babalu e tantos outros sucessos. As duas chegaram a tirar fotografias juntas.
Em 1958, Maria Helena gravou dois discos de 78 rotações por minuto, com músicas de Lupicínio Rodrigues, Rubem Santos, Hamilton Chaves e Nelson Silva. Assim que foi inaugurada a TV Piratini, primeiro canal de televisão do Estado, em 20 de dezembro de 1959, a popularidade dela aumentou ainda mais.
A moça era atração constante em programas como Grande Show Wallig, patrocinado por uma fábrica de fogões, ou A Voz do Firestone, sob os auspícios da marca de pneus. “Eram musicais belíssimos, montados com corpo de balé e levados ao ar nas noites de domingo. Não tinha quem não visse”. Mas, para tristeza dos fãs, a Rainha do Rádio abandonou a carreira artística em nome do amor – ao final de 1961, com apenas 19 anos, ela se casou com um militar, que exigiu sua renúncia ao estrelato.
Afastada dos meios artísticos, cansou de receber convites para retomar a carreira, inclusive de Rio de Janeiro e São Paulo. “Jamais iria sem a família, tinha medo”, diz. Em seguida, ela suspira: “As gurias de hoje agem de outra maneira. Fazem a mala e, pronto, já foram embora”. Como tudo na vida tem começo, meio e fim, o casamento acabou em 1980. Maria Helena ficou livre para trabalhar fora de casa e, por mais de 40 anos, fez parte da equipe do Hospital São Lucas, da PUCRS, primeiro como auxiliar de enfermagem e, depois, técnica em testes de função pulmonar. Em 2006, lançou Uma Luz a Brilhar, registrando sua bela voz também em CD.