Homenageada ao dar o nome à escola de ensino fundamental da Rua João Alfredo, no bairro Cidade Baixa, na Capital, Leopolda Barnewitz teve uma vida tão cheia de honrarias quanto de aventuras e imprevistos. Ela viajou do Paraguai até o Brasil a cavalo, com a família, sob a guia de um índio guarani e a escolta do cão pastor alemão Lump, antes de se destacar como uma das principais educadoras de Porto Alegre nas primeiras décadas do século 20.
Leopolda nasceu na cidade paraguaia de Encarnación, perto da fronteira com a Argentina, em 28 de novembro de 1873. O pai, Luiz, trabalhou na G. Barnewitz, empresa familiar do ramo de edição e impressão de livros, em Neustrelitz, norte da Alemanha. Após participar como voluntário da guerra franco-prussiano, resolveu, em 1872, viajar para a América do Sul e, em território paraguaio, conheceu a mãe de Leopolda, Candida del Castillos (com quem teria outros cinco filhos).
A razão da transferência do Paraguai para o Brasil, em 1878, é controversa. Reza uma lenda familiar que foi por causa de um dos cães de Luiz, que ficara sob a responsabilidade da vizinhança durante uma viagem do dono. Ao retornar, o pai de Leopolda soube que o animal havia desaparecido ou sido morto, o que o levou a desafiar o vizinho para um duelo de espadas. Com a experiência dos campos de batalha, o oponente não foi páreo para Luiz – consta que, no entrevero, arrancou-lhe a cabeça. Na rota de fuga, os Barnewitz buscaram refúgio no Rio Grande do Sul, estabelecendo-se primeiro em Santa Maria, depois em Cachoeira do Sul, locais em que o patriarca trabalhou como empreiteiro de obras.
Em Cachoeira do Sul, fizeram amizade com o jovem Antônio Augusto Borges de Medeiros (que depois, de 1913 a 1928, governaria o Estado). O político é citado em anotações do diário de Leopolda como uma das primeiras pessoas que ela conheceu na cidade, em 1880. Com a mudança para Porto Alegre, Luiz passou a trabalhar como agrimensor, ganhando estabilidade financeira. Com formação como normalista, Leopolda fez estudos de aperfeiçoamento na França e na Inglaterra, habilitando-se a lecionar História da Antiguidade, das Américas e do Brasil no Instituto de Educação General Flores da Cunha, além de dar aulas particulares de Português e Matemática.
Um pouco pela amizade com Borges de Medeiros, mas, principalmente, pela bagagem cultural, Leopolda foi convidada a participar da recepção a Theodoro Roosevelt na visita do ex-presidente norte-americano a Porto Alegre, em 2 de novembro de 1913. Roosevelt, que havia perdido a reeleição no ano anterior, decidira fazer uma excursão à Amazônia com Candido Randon, aproveitando para conhecer outras regiões brasileiras. Após desembarcar na estação ferroviária, na Rua Voluntários da Pátria, vindo de Santa Maria, dirigiu-se até a Escola de Engenharia e passeou pelo Jardim Zoológico Villa Diamela, na Avenida Ganzo, no Menino Deus (onde apreciou as instalações do “agradável ponto de diversão”, noticiou o jornal A Federação). Por volta do meio dia, o governo do Estado lhe ofereceu um almoço na Pensão Schimitd – neste encontro, Leopolda aparece sentada à mesa ao lado de Margareth, sobrinha de Roosevelt, em foto publicada pela revista Kodak (semanário que circulou na Capital de 1912 a 1920).
Leopolda não se casou e não teve filhos, falecendo em 1954. Pouco antes de sua morte, o sobrinho-neto Luiz Afonso Barnewitz, que à época era criança e morava em Cruz Alta, foi trazido pelo pai até Porto Alegre para conhecê-la. “Ela estava deitada em uma cama grande em um dos últimos aposentos da casa. Tinha sofrido uma queda, o que lhe agravara o estado de saúde. Viria a falecer em seguida”, conta Luiz Afonso, que hoje mora na mesma casa em que Leopolda viveu seus últimos dias, na Rua Barros Cassal, no bairro Floresta.