Obra lançada pela Editora da Universidade de Caxias do Sul (Educs) identifica presença de rede escolar fascista italiana na história do RS. A publicação se originou na tese de doutorado do professor Gelson Leonardo Rech e é a primeira lançada sob o selo Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, pela Editora da UCS. Patrocinada pela empresa Florense, o livro terá toda a receita de vendas revertida para o projeto Mão Amiga, em Flores da Cunha.
O livro Escolas Étnicas Italianas em Porto Alegre/RS (1877-1938): a Formação de uma Rede Escolar e o Fascismo (471 páginas) investiga as escolas étnicas italianas na cidade de Porto Alegre, no período compreendido entre 1877 — marco da fundação da Sociedade Italiana Vittorio Emanuele II — e 1938 — quando ocorreu o fechamento dessas instituições. Na esteira da história cultural, a partir de fontes arquivísticas e periódicos, o livro analisa o processo de constituição dessas escolas e de sua cultura escolar articulado à construção da italianidade e de sua defesa, demonstrando que, na nossa Capital, ocorreu uma trajetória duradoura de manutenção e de preservação da escola étnica.
O autor revela a constituição de uma rede escolar ítalo-brasileira, na década de 1930, subsidiada pelo governo italiano, que se caracterizava por um conjunto de atividades e de programas comuns, por uma unidade de orientação e de acompanhamento, composta por professores e por materiais didáticos enviados da Itália, visando à formação de “perfeitos balillas e bons italianos”, sob a égide da orientação ideológica do fascismo italiano.
Naquele período, o revigoramento do fascismo em Porto Alegre coincide justamente com a chegada de uma nova geração de cônsules que se instalam no Consulado Geral da Itália em nosso Estado. A reorganização das escolas na década de 1930, ou melhor, a unificação das escolas da Capital tinha um propósito evidente de fascistização, a começar pelos pequenos.
Rech é licenciado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, mestre em Filosofia pela PUC/RS e doutor em Educação pela Universidade Federal de Pelotas. Desde agosto de 2019, é diretor executivo da Fundação Universidade de Caxias do Sul, membro do Grupo de Pesquisa História da Educação, Imigração e Memória (Grupheim) da Universidade de Caxias do Sul e membro do Centro de Estudos e Investigações em História da Educação da Universidade Federal de Pelotas. Atua nas áreas de investigação em filosofia da educação, história da educação (imigração italiana e educação étnica), epistemologia e ética.
— Na carreira acadêmica, um dos pontos altos é a produção científica; e o livro sintetiza esse processo. A ciência salva, a ciência ajuda, a ciência melhora o mundo. Nunca havíamos falado de uma rede escolar fascista italiana no RS — pontua o autor.
A pesquisa e a coleta de informações para a realização do livro compreenderam o acesso aos arquivos do Consulado Italiano em Porto Alegre, com materiais antes nunca explorados, bem como do Ministério de Relações Exteriores da Itália.
— A história completa lacunas de entendimento da existência – e a gente vai atrás disso. Todo o resto é consequência — conclui o professor Rech.