Em meados dos anos 1930, quando não havia televisão no Brasil e o rádio ainda engatinhava – com uma programação baseada principalmente na transmissão de músicas –, surgiu uma novidade que cativou o público: o radioteatro. Era o teatro para “ver com os ouvidos”, substituindo os cenários, figurinos e a presença física dos artistas nos palcos pela interpretação vocal e pelos efeitos sonoros levados às residências via ondas hertzianas (a “ribalta do espaço” ou “ribalta do éter”, como se dizia na época).
No RS, o radioteatro, que recém começava a aparecer no centro do país, foi introduzido por Pery Borges e Estelita Bell, dois artistas que resolveram se aventurar e acabaram tornando-se estrelas idolatradas pelo público durante três décadas. Começando na Rádio Difusora e depois se transferindo para a Farroupilha, criaram o Teatro Farroupilha, encenando, todos os domingos à noite, peças que eram a “coqueluche” da época – e o terror dos cinemas, que foram esvaziados pelas famílias que preferiam se reunir na sala de casa, em torno dos receptores, para acompanhar as narrativas.
A história de Luiz Borges e Esther Daniotti é resgatada no livro Pery e Estelita na Ribalta do Espaço – Um Romance nas Ondas do Rádio (Editora Viseu, 286 páginas, R$ 75), da jornalista Elisa Kopplin Ferraretto. A obra foi produzida a partir do acervo de roteiros, recortes de jornais e revistas, fotografias e outros materiais deixados pelos artistas, além de pesquisa na imprensa da época. O livro apresenta um relato romanceado e amplamente ilustrado da vida e trajetória do casal.
Pery e Estelita também atuaram na Rádio Sociedade Gaúcha, a convite do então diretor artístico Cândido Norberto, e tiveram longa carreira na Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro. Na emissora carioca, Estelita foi a grande incentivadora de um jovem talento nascente. Chico Anysio, que a considerava a melhor radioatriz brasileira, a levou à televisão e ao cinema. Ela esteve presente em todos os programas de Chico (um de seus personagens era a mãe do jogador Coalhada, em Chico City), fez várias novelas e programas especiais. Também atuou como dubladora, fazendo, por exemplo, a voz da Bruxa Má na segunda versão brasileira de Branca de Neve e os Sete Anões, da Disney.
Pery e Estelita na Ribalta do Espaço traz uma viagem no tempo, relembrando cenários da Porto Alegre das décadas de 1930 e 1940 e a magia daqueles anos de início do rádio. É, também, uma história de amor, trabalho e dedicação.
O livro está à venda, nas versões impressa e em e-book, no site da Editora Viseu (eviseu.com) e nas principais livrarias virtuais.