Já que estamos em fevereiro — apesar da pandemia, ou até por causa dela —, não custa lembrar de momentos bons do Carnaval, como os que foram proporcionados pela Banda da Saldanha, hoje patrimônio sociocultural de Porto Alegre.
Curiosamente, ela não estreou em um dia oficial da folia, e sim em 1º de janeiro de 1979. Naquele ano, a Festa de Momo estava agendada para começar quase dois meses depois, em 24 de fevereiro, mas o pessoal estava afoito para brincar nas ruas da cidade e, por isso, não teve remorso de atropelar o calendário.
A bem da verdade, a história do bloco havia começado em 1975, quando o fundador Pedro Diogo da Fonseca — morador da Rua Saldanha Marinho, no Menino Deus — ganhou um barril de chope de presente de aniversário de César Garcia Unanuê. A partir daí, passou a reunir amigos e vizinhos no bar São Jorge – localizado a poucos passos de casa, entre a Gonçalves Dias e a Barão de Teffé — para esvaziar o barril em churrascos que, invariavelmente, acabavam em rodas de samba.
Com afluência cada vez maior, essas reuniões festivas extrapolaram os limites do bar e ganharam as ruas da cidade. Naquele primeiro desfile, apareceram 500 foliões. Pedro Diogo achou pouco, esperava a adesão de mais gente. Nos dias subsequentes, distribuiu panfletos de propaganda na Rua da Praia e em ensaios de escolas de samba como Bambas da Orgia, Praiana e Imperadores do Samba.
— No desfile seguinte, vieram mais de mil pessoas — contava ele.
No início, a Banda da Saldanha ocupava a Avenida Getúlio Vargas. Depois, com o aumento da mobilização, os desfiles foram transferidos para a Avenida Erico Verissimo, passando a atrair não apenas a comunidade local mas também pessoas de todos os cantos da Capital.
Para não perder o costume, além de sair no sábado de Carnaval (quando geralmente invadia a Avenida Edvaldo Pereira Paiva, entre a Usina do Gasômetro e o Anfiteatro Pôr do Sol), a Banda da Saldanha desfilava também em outras datas ao longo do ano (antes da pandemia, é claro). Exemplos? Dia do Trabalhador (1º de maio) e Dia Nacional do Samba (2 de dezembro).
— Quando não tinha razão, inventávamos motivo — registrou, certa vez, Pedro Diogo, que morreu, aos 64 anos, em 2016.
O recorde, em Porto Alegre, foi de 30 mil foliões. Já no Rio de Janeiro – a partir de 2007, a banda passou a se apresentar, com trio elétrico, pelas ruas e avenidas de Copacabana –, a animação chegou a contagiar 50 mil carnavalescos. Ela também desfilou em São Paulo, Brasília, Salvador e Campo Grande, percorrendo ainda o interior gaúcho.
Em 2016, recebeu a Comenda Porto do Sol, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, por ser “uma instituição de mobilização popular histórica de Porto Alegre”.