
Não dá para dizer que a Loja Longo, que se estabeleceu em Capão da Canoa em 1949, tem as coisas mais improváveis, porque a quantidade de itens é tamanha que sempre foi lá que os veranistas resolveram os seus problemas. Além dos produtos tradicionais de um “secos e molhados”, alimentos e bebidas, a casa oferecia (e ainda oferece muita coisa): tecidos e armarinho, material escolar e papelaria, vestuário, ferragens e ferramentas, bicicletas e brinquedos, tintas, calçados, sorvetes, jornais e revistas, material de pesca, espingardas e munição, adereços carnavalescos, baralhos e jogos, remédios e medicamentos (quando ainda não havia farmácias), panelas, cuias, erva-mate e bombas para chimarrão, chapéus ou bonés, tamancos, bombas d’água, perucas, cosméticos, cadeiras de praia e guarda-sóis, inseticidas, lampiões, lanternas e lamparinas e até laquê a granel.
A primeira bomba de gasolina em Capão foi instalada diante da porta da loja. Os primeiros fogões a gás e sua instalação também foram vendidos lá. Atualmente, ainda são mais de 12 mil itens, mas atualizações foram sendo adotadas, é claro. As velhas tulhas com cereais foram substituídas por prateleiras com produtos industrializados e embalados. Mas muitos vestígios do passado ainda podem ser encontrados.
Entre e confira, por exemplo, o velho baleiro giratório, de vidro, com 12 compartimentos cheios de guloseimas. Seu João Batista, filho do fundador, Salvador Longo, ainda anda por lá, mas sua filha Maria Amélia é presença mais certa. A família administrou também outros negócios em Capão, como o City Hotel (primeiro em sociedade e depois, a partir de 1953, sozinha) e a Padaria Modelo, adquirida em 1957. A Longo também teve filiais e supermercados em Atlântida, Xangri-lá e Rainha do Mar. O trânsito de caminhões entre o armazém da Rua Voluntários da Pátria, na Capital, e o Litoral, deu origem à Transportadora Longo para cargas e encomendas.
João Batista Longo foi o sucessor natural do pai nos negócios, mas quase toda a família participava de alguma forma. João Batista nasceu em Porto Alegre em 1929. Quando criança, morou numa chácara no bairro Glória e, depois, no apartamento em cima do armazém da Voluntários da Pátria. Com 20 anos, já frequentava e trabalhava em Capão. Lá, além do negócio, desenvolveu várias atividades na comunidade. Participou da campanha para emancipação de Capão, da Cooperativa de Eletricidade e da Associação Comercial e Industrial.
Foi membro, por 39 anos, do conselho deliberativo da Sociedade dos Amigos de Capão da Canoa (SACC) e atuou em outras tantas iniciativas, que sempre contaram com sua presença. Apesar disso, partidos políticos nunca foram a praia dele. Afinal, há quem diga que “comerciante não deve ter partido político nem time de futebol”. No caso do futebol, João Batista nunca escondeu sua paixão pelo Grêmio.
É torcedor desde quando assistia aos jogos no Estádio da Baixada. É ex-integrante do conselho e sócio do clube há 74 anos. Para reforçar a garra tricolor na família, sua esposa, Maria Longo, é irmã de Esmeralda, que se casou com Rudi Armin Petry, um dos maiores dirigentes da história do Grêmio.
Uma empresa com a idade da Super Loja Longo já enfrentou muitos desafios, tais como a enchente de 1941, a perseguição a estrangeiros na Segunda Guerra (Salvador, que era italiano, até preso esteve), crises políticas e institucionais, inúmeros planos econômicos mirabolantes, revoluções no comportamento e nos costumes e por aí segue. Se sobreviveu a tudo, por acaso não foi.