
O trocadilho é quase inevitável. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), existem em nosso país apenas 200 empresas com cem anos ou mais, 148 entre 80 e 99 anos e 813 entre 60 e 79 anos de fundação. De cada cinco empresas que abrem, três não passam dos cinco anos. Outro dia, eu fiz referência à antiga casa de comércio Loja Longo, de Capão da Canoa, que está incluída nessa elite de resiliência e longevidade, com mais de sete décadas em atividade.
Maria Amélia, neta do fundador, e o pai dela, João Batista, são os atuais administradores. Em mensagem, ela agradeceu pela citação e informou que, em 2019, coordenou um livro sobre a firma familiar. Apanhei ontem o exemplar que ela me ofereceu. Muito legal saber que a obra confirma as minhas reminiscências.
O fundador Salvador Longo nasceu em Pedace, Cosenza, Itália, em 1891, e morreu em Capão, em 1974. Casou-se primeiro com Égide Rossato, com quem teve três filhos: Antônio (comerciante), Julieta (professora) e João Batista (comerciante). Égide faleceu jovem, com apenas 40 anos, na véspera da Segunda Guerra. Anos depois, o viúvo Salvador conheceu, em Porto Alegre, Enedina de Moraes (dona Neda), nascida em Veranópolis, em 1917. Tiveram os filhos Égide Maria (a Neca, professora) e Marco Antônio (militar).
Salvador veio para o Brasil em 1913 para trabalhar no hotel de um tio, na Rua 7 de Setembro, na Capital. Quatro anos depois, fundou o Armazém dos Viajantes, um atacado e varejo de alimentos na Rua Voluntários da Pátria. Em 1946, já pensando em se estabelecer no Litoral, montou um armazém em Osório que fornecia alimentos aos comerciantes das praias.
Em 30 de junho de 1949, surgia o Longo em Capão. Começou num chalé de madeira, depois ampliado em alvenaria. Finalmente, em 1954, foi construído o Edifício Longo, um dos primeiros do balneário. No térreo do prédio de dois andares funcionava o armazém e, na parte superior, havia 18 apartamentos para locação (semelhante aos apart-hotéis de agora), oferecendo roupas de cama e serviços de camareira.
O primeiro inquilino foi o pai do jornalista Tatata Pimentel, quando a construção ainda estava sendo finalizada. Muito tempo depois, sempre que Tatata aparecia na loja, fazia questão de lembrar que seu primeiro veraneio em Capão foi no Edifício Longo.
Numa época em que Capão da Canoa tinha quase nada, a loja do Longo tinha quase tudo do que se precisava.