A 65ª Feira do Livro de Porto Alegre se inicia em 1º de novembro e se encerra no dia 17. No sábado, dia 2, será lançado o livro 1824 – Como os alemães vieram parar no Brasil, criaram as primeiras colônias, participaram do surgimento da Igreja Protestante e de um plano para assassinar D. Pedro I (LeYa Brasil, 368 páginas, R$ 52,90). Essa é a 12ª obra do historiador e escritor Rodrigo Trespach, nascido em 1978 em Osório, no Litoral Norte.
A data do título se refere ao momento oficialmente reconhecido como o da criação da primeira colônia não lusitana no Brasil. Eram 39 pessoas, entre homens e mulheres, jovens e crianças, que chegaram em pequenas embarcações a uma porção de terra próxima ao Rio do Sinos, perto da Capital. Entre pedreiros, carpinteiros e agricultores, esse grupo – composto por alguns católicos e muitos protestantes –, viajou durante mais de cinco meses por mar e terra, por lagunas e rios. Ainda em 1824, um segundo grupo, com mais de 80 pessoas, chegou a São Leopoldo, colônia fundada pela primeira leva de imigrantes. Mas essa história não se restringe à Região Sul. Até o fim do Primeiro Reinado (1822–1831), mais de 5 mil alemães desembarcariam no mesmo local, e outros tantos se espalhariam pelo Brasil, multiplicando as colônias no Sul e no Sudeste.
Para os gaúchos, é especialmente curioso constatar que as primeiras tentativas de formar colônias com alemães foram feitas no sul da Bahia, entre 1816 e 1817. Eram empreendimentos particulares, levados a cabo por cientistas, como uma das primeiras colônias alemãs no país, Leopoldina, no sul da Bahia.
A alentada publicação conta a história do primeiro período imigratório de alemães para o nosso país, desde as tentativas na Bahia, passando pela criação de Nova Friburgo (RJ) e São Leopoldo (RS) e o desenrolar da presença germânica no Sul até 1831.
Mesmo antes de 1824, o Brasil não era completamente desconhecido para os alemães. Desde o século 16, a colônia portuguesa na América do Sul sempre fora atrativa para aventureiros e comerciantes com origem nos diversos países de língua alemã da Europa.
Também é interessante tomar conhecimento das “fofocas” políticas entre os imigrantes, logo após sua chegada, como no caso do abaixo-assinado de 1825, quando um grupo de colonos protesta contra o pastor Ehlers. Os 34 colonos que firmaram o documento queriam que Johann G. Ehlers, o primeiro pastor de São Leopoldo, fosse substituído por C. L. Voges, mais novo e recém-chegado à colônia. Segundo eles, Elhers faria “coisas que já não podemos aceitar. É verdade, prega a moral, mas justamente é a moral que lhe falta”.
Viajando pela conturbada história da Europa e da América do Sul do início do século 19, Rodrigo Trespach entrelaça, por meio de cartas pessoais, documentos e uma vasta bibliografia, a vida de líderes políticos, cientistas, militares, aventureiros e visionários com a de artesãos e camponeses – arruinados, marginalizados e desesperançosos depois das guerras napoleônicas e das revoluções sociais e tecnológicas. Mais não conto para evitar spoilers históricos. E isso, tenham certeza, é possível, o livro confirma.