Esta semana, meu filho, Leonel, apareceu aqui em casa e me mostrou a câmera digital que acabara de comprar. Embora hoje em dia quase todo mundo use o telefone celular como máquina fotográfica e filmadora, aqueles que desejam dispor de mais recursos, como teleobjetivas, lentes especiais e outros tantos acessórios, ainda buscam pelos aparelhos cada vez mais sofisticados que são constantemente lançados, sempre trazendo novidades.
Uma das recentes invenções deste mercado é algo fantástico. Já sei há algum tempo que equipamentos profissionais tinham acesso a esse artifício, mas vê-lo integrado ao universo de amadores é espantoso, pelo menos para um velho fotógrafo, como eu, que viveu uma época praticamente jurássica desse meio visual de expressão. No momento em que a foto é obtida na câmera (com qualidade), sem nenhum cabo, ela, simultaneamente, aparece na tela do celular, permitindo, a partir daí, transitar a imagem pela rede.
Fico me lembrando das dificuldades do passado para colocar uma foto, o mais rápido possível, na redação, a tempo de ser publicada. Na pressa, já usei de tudo para conseguir isso: de motociclistas, dentro da cidade, à colaboração de passageiros de aviões, eventuais portadores do meu filme (sim, filme!), além das fotos enviadas por telefoto (o que me obrigava a viajar com um laboratório fotográfico, um transmissor e a usar o banheiro do quarto do hotel como câmara escura para fazer a revelação etc).
Como brincadeira, muitas vezes fui chamado de lambe-lambe, numa referência aos antigos fotógrafos que atuavam nas praças mais movimentadas das cidades. Isso nunca me ofendeu. Pelo contrário, sempre achei que esses nobres profissionais eram artistas que iam onde o povo estava. A população mais pobre, que não podia recorrer aos estúdios de fotógrafos consagrados, obtinha, por meio dos lambe-lambes, os registros familiares e os retratos para enviar aos parentes distantes.
As pessoas continuam nas praças, mas esses românticos profissionais desapareceram delas. Resta um ou outro, como curiosidade arqueológica. A instantaneidade era um atributo do trabalho deles. A grande câmera montada sobre o tripé funcionava também como laboratório para processar o negativo e fazer as cópias. No final, elas eram lavadas num balde d’àgua, que ficava no chão. Logo, o cliente podia ver a cena e, orgulhoso, partir com ela pronta, na mão.
O importante é registrar a vida, e isso talvez seja a única coisa que não mudou.