Na última quarta feira, dia 12, sob o título “Escândalo”, o Almanaque Gaúcho lembrou o fuzuê e a repercussão provocada pela apresentação do monoquíni, uma proposta para a moda praia de 1964, exibida na vitrine e num desfile em uma loja, e também mostrada na TV. A ousadia não pegou, mas criou grande indignação em muita gente. Alguns anos depois, mais precisamente no verão de 1972, o monoquíni voltaria a causar fartos e negativos comentários. Só que, dessa vez, tratava-se da versão masculina da controvertida roupa de banho.
O magazine Taft, cuja matriz ficava em Porto Alegre, levou-o para a sua filial de Capão da Canoa o traje, na verdade, remetia aos antigos maiôs usados pelos banhistas no início do século 20 e que não passavam de um calção com alças incorporadas ao estranho short. Max, o gerente dessa loja no Litoral, comentou com um cliente fiel e famoso, além de tradicional veranista daquele balneário há 40 anos, que ninguém se animava a comprar e, muito menos, usar à beira-mar o tal monoquíni masculino.
Não precisou oferecer duas vezes, e o corajoso radialista Lauro Quadros imediatamente decidiu encarar o desafio e escolheu um deles, na cor abóbora, e, na primeira oportunidade, desfilou na areia lotada de veranistas a sua nova e exótica roupa de banho.
Portanto, antes de Fernando Gabeira causar sensação com sua tanga de crochê, no verão de 1980, Lauro Quadros foi quem tentou lacrar nas fímbrias do Atlântico Sul, oito anos antes. Lauro sempre se sentiu à vontade no inóspito Litoral gaúcho. Não por acaso, uma das grandes lagoas existentes entre o pé da Serra e o mar se chama Lagoa dos Quadros, e o motivo é que seus antepassados, desde longa data, foram proprietários de grande extensão de terras naquela área.
De 1939, quando nasceu, até 1945, o conhecido homem do microfone viveu em Cornélius (hoje pertencente a Terra de Areia). Já como profissional do rádio, na década de 1960, quando os telefones disponíveis eram precários e não havia estradas razoáveis, ele apresentou, durante oito anos, entre janeiro e fevereiro, um programa de utilidade pública, com duas edições diárias, transmitido do Litoral. Locutor e motorista percorriam, numa camionete Rural Willys, levando correntes para as rodas e uma pá, o longo trecho entre Quintão e Torres, eles recolhiam as mensagens, que seriam lidas no ar para os ouvintes e ajudavam os incautos que atolavam seus veículos na areia batida pelas ondas.
Durante todo o verão, a base ficava instalada no tradicional Hotel Bassani, em Capão. A incursão de monoquíni pela orla é, agora, apenas uma das tantas histórias colecionadas pelo consagrado comentarista esportivo durante sua extensa trajetória. Algumas delas, ele reuniu no livro Olha gente! (Editora Age, 94 pág), lançado em 2015.
A tentativa de popularizar o monoquíni masculino, apesar da silhueta esguia do modelo, foi um rotundo fracasso. E Lauro Quadros ainda se diverte com o episódio, afirmando: “Se não estava vendendo, aí é que não vendeu mesmo!”.