Em outubro passado, Vitor Ramil lançou um disco de canções inéditas com o título de Campos Neutrais. Muita gente ficou se perguntando sobre a razão desse nome. Parecia mais um capricho do músico que anteriormente já havia lançado uma obra chamada Satolep (a palavra Pelotas lida ao contrário). Na verdade, Campos Neutrais tem a ver com uma antiga e extensa área de terra na região sul do Estado.
Sua origem vem de longa data. Em 1777, os impérios de Espanha e Portugal assinaram o Tratado de Santo Ildefonso, encerrando a disputa pela posse da Colônia do Sacramento, que ficou com os lusos e, a partir de 1828, passou a pertencer ao Uruguai. Entre os dois territórios, restou uma faixa de terras, limitada pela Lagoa Mirim, a Lagoa Mangueira e a costa marítima, que ficou conhecida como Campos Neutrais.
Ali, nem portugueses, nem espanhóis podiam construir povoações e fortalezas. Com o tempo, a área transformou-se numa espécie de terra sem dono, zona de contrabando e refúgio de malfeitores.
Do ponto de vista geográfico, hoje o território integra espaços onde ficam os municípios do Chuí e de Santa Vitória do Palmar, bem como a Reserva do Taim.
Segundo Ramil, no imaginário contemporâneo, os Campos Neutrais abrigam ideias como liberdade, diversidade humana e linguística, miscigenação, comunhão, criatividade, fantasia e realidade.
Foi com a intenção de corresponder a esse significado que o músico pelotense compôs suas canções, em parceria com o paraibano Chico César e o maranhense Zeca Baleiro, com a participação dos poetas Joãozinho Gomes, de Belém do Pará, e Angélica Freitas, de Pelotas.