"Um passageiro é alguma coisa além de um assento ocupado. Um grupo de passageiros significa muito mais do que um bom aproveitamento. O que são eles? Antes de tudo, são seres humanos, com diferentes personalidades e reações. Sorriem se estão satisfeitos. E naturalmente irritam-se quando maltratados. Voltarão a procurar-nos se ficarem satisfeitos. Do contrário, buscarão outros meios para viajar. O passageiro é a personalidade mais importante da nossa empresa quando nos procura no escritório, no aeroporto, quando nos telefona ou escreve. O passageiro não depende de nós. Nós dependemos dele. O passageiro não significa interrupção em nossos afazeres. Ele é a própria justificativa, o principal objetivo de nosso trabalho. Não fazemos nenhum favor em atendê-lo. Ele sim presta um grande favor quando nos procura para servi-lo. O passageiro não é a pessoa com quem devemos discutir ou impor nosso ponto de vista. Às vezes ganhamos a discussão e perdemos o passageiro. Um passageiro perdido é alguém pronto a nos prejudicar e muitos passageiros perdidos podem significar o fim de nossa companhia. Cada passageiro simpático ou não é alguém que contribui diretamente para o nosso sucesso. Temos a obrigação de ser prestativos e corteses para com ele em qualquer circunstância".
O trecho acima é uma mensagem de Ruben Berta aos funcionários da Varig, na década de 1950, e mostra bem o espírito que norteou a empresa enquanto sobreviveu. Atender a todos com competência e cortesia. A companhia aérea, que completaria 90 anos no próximo domingo, dia 7, foi pioneira na aviação comercial, procurando sempre estar na vanguarda e voando com aviões de última geração. Seu serviço de bordo foi considerado o melhor do mundo por décadas. Na relação capital versus trabalho, inovou criando a Fundação dos Funcionários da Varig, em 1945. A ideia de "funcionários donos", uma companhia socializada, com todos trabalhando para si visando ao bem comum, prosperou. Garantir a tranquilidade no futuro foi o que indicou por muito tempo o rumo da empresa.
"Que ninguém queira ser dono dela", dizia Ruben Berta. Infelizmente, suas palavras não foram ouvidas. O que nos resta é lamentar. Os que viveram a época e compartilharam a excelência de seus serviços têm saudade. Nós também sentimos saudade. Através dela, conseguimos realizar nosso sonho profissional. Foi um orgulho, e ainda hoje é motivo de grande emoção, poder dizer: foi um prazer tê-los a bordo. Obrigado por voarem VARIG.
*Colaboração de Vitor Stepansky, comandante da antiga Varig