Era o fim de fevereiro de 1917 quando Guaporé, em grande alvoroço, acolheu as primeiras quatro irmãs missionárias de São Carlos scalabrinianas, vindas para fundar uma escola destinada a educar as filhas dos imigrantes. Vinham a cavalo desde Bento Gonçalves. Numeroso grupo de moradores, também a cavalo, foi recebê-las a cinco quilômetros da cidade.
As modestas acomodações estavam preparadas, o almoço também. E com repicar de sinos, vivas e aplausos elas entraram na cidade. Poucos dias depois, a 5 de março, sem protocolos nem perda de tempo, na residência de Marina Magnanti, tinha início a grandiosa obra educativa do que é hoje o Colégio Scalabrini.
Pequeno, iniciando na precariedade, em junho já se buscava um local mais espaçoso, pois o número de alunas crescia e em outubro já chegava a 90. A vida das irmãs não era nada fácil, mas era assumida na fé. Os demasiados encargos, dormir no chão duro até ser possível adquirir camas, trabalhar de noite à luz de lampiões e suportar o rigor do inverno foram dificuldades enfrentadas sem lamentos.
A escola ensinava a ciência dos homens, mas impregnava todo o trabalho com os valores da fé. Em 1924, eram 200 alunas, algumas em regime de internato.
Ao celebrar o jubileu de prata, em 1942, a instituição de ensino se instalava no prédio atual, muito mais amplo e com as melhores condições técnico-pedagógicas da época. Nascido para educar as filhas dos imigrantes, o colégio soube sempre adaptar-se aos novos tempos. Assim, um dia, abriu as portas também aos meninos.
Escola primária na origem, mais tarde incorporou o curso ginasial. Em 1960, passou a ministrar o normal de segundo grau, que formaria inúmeras professoras primárias, até que, mais de 40 anos depois, novas leis levaram à extinção do magistério de segundo grau. Atento às demandas locais, durante décadas ministrou o curso de Técnico em Contabilidade, capacitando jovens para o mercado de trabalho. Diversos deles são hoje empresários ou profissionais liberais de sucesso. Fundou também o então chamado científico, que ainda continua a pleno vapor. Não terminam aí as mudanças: a certa altura, mais de 20 religiosas chegaram a compor a comunidade do Scalabrini, atuando também na comunidade (hospital, paróquia, Lar da Menina, Seminário São Carlos). Aos poucos, porém, professores leigos foram sendo incorporados ao corpo docente, vários deles egressos do normal da escola. Hoje, pela primeira vez na história do colégio, a própria diretora, Eliana Reolon, é uma leiga. Desde 2003, o Scalabrini passou a integrar a rede ESI – Educação Scalabriniana Integrada.
No início do século, adotou o método positivo de ensino, agregando mais qualidade ao seu fazer pedagógico. Enfim, o Scalabrini nasceu e cresceu vencendo grandes desafios, educando crianças e jovens. Celebra, neste domingo, cem anos na alegria do dever cumprido, louvando ao Senhor e grato a todos os que lá atuaram.
Colaborou Telvino José Barp, professor aposentado e membro da Comissão do Centenário.