Há 40 anos, dois vereadores foram cassados pelo AI-5. Em fevereiro de 1977, Porto Alegre foi vítima da ditadura militar. No dia 2, foi cassado o vereador Glênio Peres, e no dia 15 foi cassado o vereador Marcos Klassmann. O país vivia o regime de exceção imposto pelo golpe civil-militar de 1967. A base da cassação que atingiu os vereadores do antigo MDB, partido de oposição à ditadura, foi o AI-5, pelo então presidente general Ernesto Geisel (1974-1979). A cidade era administrada pelo prefeito Guilherme Socias Villela, e a Câmara Municipal, presidida pelo vereador Cleon Guatimozin. Os vereadores eram integrantes do partido que conquistara a maioria na Câmara e derrotara a situação, a Arena. Foi o seu "Discurso na Terra do Silêncio", que denunciava a tortura e a falta de liberdade, o motivo da cassação de Glênio. "Esta é uma Casa para falar dos buracos da rua; esta é uma Casa para falar da falta de luz, mas esta é uma Casa também para falar da ausência de liberdade" (Glênio Peres, 31/01/1977).
Marcos Klassmann tinha 24 anos e ao subir à tribuna como nova liderança do partido, no dia 9 de fevereiro, fez um discurso em solidariedade a Glênio, repetindo a fala do colega recém-cassado, que entrou para a história da Câmara Municipal da Capital. "Estamos certos de que, enquanto vigorarem os atos repressivos, a atividade política, seja parlamentar, seja de base, não terá a menor segurança" (Marcos Klassmann, 09/02/1977).
No dia 16 de fevereiro de 1977, Zero Hora publica a manchete "Nova cassação na Câmara" (capa abaixo) e matéria onde registra que o Ministério da Justiça divulgou, no dia anterior, a suspensão dos direitos políticos de Marcos Klassmann por 10 anos. O ato foi assinado pelo ministro da Justiça, Armando Falcão. O MDB passa de maioria a minoria, já que ambos não poderiam ser substituídos por suplentes. A Rádio Continental FM, de Porto Alegre, também foi punida por ter divulgado o discurso de Glênio Peres.
Os mandatos de Glênio Peres e Marcos Klassmann só foram recuperados no final de 1979, com a Lei de Anistia. A retomada dos vereadores foi polêmica, sob o cerco da Polícia Federal, já que o ministro Petrônio Portela recusava-se a reconhecer a legitimidade do retorno.
A Câmara assumiu o risco e restituiu os mandatos.
Colaboração de Jorge Barcellos, historiador e doutor em educação