Nascido na Espanha mas criado na Argentina, o artista José Luis García-López, 69 anos, é uma lenda dos quadrinhos – com seu traço clássico e preciso, criou versões icônicas de heróis da DC como Super-Homem, Batman e Mulher-Maravilha. García-López é o grande convidado internacional da sétima edição da ComicCon RS, evento que será realizado neste fim de semana, sábado e domingo, das 11h às 20h, no prédio 16 do Campus da Ulbra em Canoas (leia no fim do artigo a programação e o serviço dos ingressos). Por telefone, de Nova York, onde vive desde 1974, ele concedeu entrevista a ZH:
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Seu trabalho na DC consolidou uma versão mais "solar" de personagens como Superman ou Batman. Como vê o atual momento, mais sombrio?
Concordo com um artigo que li há pouco tempo a respeito disso: muitos daqueles jovens fãs de quadrinhos nos anos 1970 e 1980 cresceram e se converteram em profissionais, e sempre tiveram certa vergonha de dizer que gostavam ou que trabalhavam fazendo quadrinhos. Então trataram de fazer coisas mais sérias, mais trágicas, mais dramáticas, personagens que não sorriam muito ou que deixaram de sorrir para sempre. Isso são ciclos, e é possível que mude outra vez. Ainda que eu duvide que seja logo, porque muitos dos filmes feitos a partir dos quadrinhos também promovem essa visão, buscam mais drama e mais realismo. O que me parece um equívoco, porque os quadrinhos, para mim, continuam sendo um meio que deveria ser agradável e divertido.
O que pensa do atual momento da DC no cinema?
Creio que o melhor momento recente da DC no cinema foi o filme da Mulher-Maravilha, que reivindicou o gênero para si, dado que as produções anteriores da editora não haviam alcançado muito êxito. Pessoalmente, eu as achei um pouco deprimentes, e considero que a Marvel vinha fazendo um trabalho melhor com seus personagens. Mas com a recepção de Mulher-Maravilha, eles estão melhor encaminhados.
É cada vez mais forte a mobilização de grupos de leitores que demandam das editoras ser representados de modo menos estereotipado ou sexista. O que o senhor pensa desse novo cenário?
É um reflexo de tudo o que está passando na sociedade atual, então é inevitável. O tema da sexualização das heroínas surge do impacto provocado pelo maior número de mulheres como leitoras e profissionais do meio. Como produto, os quadrinhos foram por muito tempo majoritariamente voltados para os rapazes adolescentes. Vamos ver o que vai se passar no futuro. Minha filosofia pessoal sempre foi fazer algo para todos, não para um determinado grupo. Mas é possível que, no futuro, os quadrinhos se dividam em nichos: para homens, mulheres, pessoas de distintas preferências sexuais. Os quadrinhos podem ser usados de muitas formas e ser dirigidos a muitos públicos.
O senhor cresceu na Argentina, terra de Fontanarrosa, Breccia, Quino. Sua formação foi influenciada pela tradição do desenho gráfico argentino?
Claro. Eu comecei a desenhar super-heróis só quando vim para os Estados Unidos. Na minha infância na Argentina, quadrinho de super-herói quase não existia. Havia uma grande variedade de temas e de estilos, coisa que não encontrei quando me mudei. Aqui, já estavam desaparecendo os quadrinhos de guerra, romance, noir, western, substituídos pelos de super-heróis.
O senhor acha que o mercado hoje tem mais diversidade de estilos e de publicações do que em seu início de carreira?
No caso das grandes editoras, como Marvel e DC, pouco mudou. Mas há um bom número de editoras independentes que têm variado sua produção. O problema com quadrinhos, e com parte do entretenimento popular, é ser é gerido por grandes corporações que administram seus personagens pelo caminho mais rentável. Penso que uma maneira de renovar esse cenário seria correr mais riscos. Os quadrinhos precisam arriscar mais.
Mas hoje as duas grandes editoras do ramo dos quadrinhos de heróis fazem parte de gigantescos conglomerados cinematográficos. Nesse cenário, a tendência que se tomem menos riscos ainda, não?
Penso que vai haver uma saturação e em algum momento as editoras, como corporações, vão precisar voltar a correr riscos. Não estou muito seguro. Neste momento, as editoras não estão comprando projetos dos quais elas não possam também ser donas, pensando em função do lucro presente e futuro. Mas isso mata de algum modo a imaginação criadora e faltam recursos para fomentar novas ideias e estimular criações mais diversas.
No que o senhor está trabalhando agora?
Venho fazendo os desenhos para ilustrar produtos licenciados e para algumas estatuetas (action-figures) de personagens da DC para uma divisão da Warner Bros. Quanto a quadrinhos propriamente ditos, fiz há pouco um número de Kamandi (personagem criado por Jack Kirby nos anos 1970, um garoto de uma tribo selvagem que vive em um futuro pós-apocalíptico), mas o que venho trabalhando mais fortemente é mesmo em ilustrações para licenciamentos.
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COMICCON RS – PROGRAMAÇÃO COMPLETA
A ComicCON RS, evento de quadrinhos e cultura pop, será realizada das 11h às 20h, sábado e domingo, em dois palcos com atividades simultâneas no Campus da Ulbra em Canoas (Ulbratech, prédio 16, Avenida Farroupilha, 8.001, bairro São José).
Os ingressos antecipados podem ser adquiridos por R$ 35 para cada um dos dias do evento no site comicconrs.com.br/ingressos ou nos seguintes pontos de venda:
Em Porto Alegre: na Nerdz (R. Sarmento Leite, 6267), Nerd Way (Rua dos Andradas, 1001, Rua da Praia Shopping), Tutatis (Av. Assis Brasil, 650), Banca da República (Rua da República, 21) e Piticas Sul no Shopping Iguatemi
Em Canoas: na Game House (Rua Guilherme Schell, 6750), Sebo Colossal (R. Gonçalves Dias, 188), Estação do Livro (Av. Farroupilha, 8001, Prédio 16B, Ulbra),
No Vale do Sinos: nas lojas Piticas Sul do Bourbon Shopping de Novo Hamburgo e do Bourbon de São Leopoldo
No dia do evento, o ingresso direto na bilheteria custa R$ 80 – com meia-entrada de R$ 40 para estudantes, idosos e para todos os que doarem um quilo de alimento não perecível ou R$ 5 para uma instituição parceira do evento.
SÁBADO, 5 DE AGOSTO
PALCO MULTIVERSO
13h: Qual é o futuro da Marvel? - Levi Trindade, Vinicius 2Quadrinhos, Guilherme Smee
14h: Masterclass com Eddy Barrows
15h: DC Comics do pré-crise ao Rebirth - Eddy Barrows, José Luis García-López, Levi Trindade
16h: Desfile Cosplay: Infantil e Adulto
17h: Workshop: Roteiro audiovisual - Verte Filmes
18h: Entrevista: José Luis García-López
PALCO CANINI
11h45: Super-heróis no cinema em 2017 - Edson Gandolfi, Christian Farias, Ticiano Osório, Leandro Domingos
12h45: Quadrinhos autorais: autopublicação e liberdade criativa - César Alcázar, Pedro Leite, Gustavo Borges, Letícia Pusti
13h30: Debate: Vida de Colecionador - José Borba, Vinícius 2Quadrinhos, Alexandre Lopes, Christian Ordoque, Patrick Buzzacaro
14h30: X-Men, a ressurreição nas HQs e no cinema - Claiton Silva, Guilherme Smee, Guilherme Tesch
15h30: Homem-Aranha: por que amamos o Amigão da Vizinhança? - Edson Gandolfi, Vitor Cafaggi
16h30: Batman 66: a importância do ícone Adam West - Sidney Gusman, Émerson Vasconcelos
17h30: Quadrinhos digitais: HQ com som e movimento ainda é HQ? - Émerson Vasconcelos, Thiago Krening, Róger Goulart
18h30: O que esperamos das novas temporadas das séries originais Netflix? - Aline Budzyn, Ana Bandeira, Edson Gandolfi, Verte Filmes
19h15: Jack Kirby, 100 Anos do Rei - Levi Trindade, José Luis García-López, Eddy Barrows
DOMINGO, 6 DE AGOSTO
PALCO MULTIVERSO
13h: Debate: Mundo nerd - o jogo virou, e agora? - Sidney Gusman, Ticiano Osório, Fabiano Denardin, Társis Salvatore
14h: Masterclass com José Luis García-López
15h: Homenagem a Eddy Barrows
16h: Turma da Mônica das Graphic MSP ao cinema - Vitor Cafaggi, Sidney
Gusman
17h: Anúncios e Novidades da Panini - Levi Trindade, Vinicius 2Quadrinhos
18h Desfiles cosplay: Adulto
PALCO CANINI
11h45: Dos Quadrinhos à TV: o que esperar das séries? - Claiton Silva, Aline Budzyn, Marina Pagno, Alexandre Woloski
12h45: Star Wars 40 Anos - Christian Farias, Franciele Bischoff, Adri Amaral, Fabio Mesmo, Stephanie Espindola
13h30: Diferentes faces do quadrinho nacional - José Aguiar, Vitor Cafaggi, Sidney Gusman
14h30: O legado da Vertigo - Fabiano Denardin, Pablo Sarmento e Christian Farias
15h30: O ano da Mulher-Maravilha - Elvis Moura, JR Weingartner Jr., Mariana Couto, Adri Amaral
16h30: Debate: O que é cultura pop gaúcha? - Carol Govari, Otto Guerra, Roger Lerina, Santiago
17h30: Quadrinhos e games: uma relação que dá certo - Edh Müller, Christopher Kastensmidt e Rodrigo "Chips" Scharnberg
18h30: Game of Thrones, o começo do fim - Claiton Silva, Ana Bandeira, Marina Pagno
19h15: Batgirl 50 Anos, rumo ao cinema - Émerson Vasconcelos, Letícia Pusti, Edson Gandolfi