O Hospital de Clínicas de Porto Alegre passou a restringir nesta segunda-feira (15) a realização de partos. O motivo é a superlotação dos leitos neonatais. As 20 vagas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e os outros 23 de internação estão ocupados.
A orientação é para que as mães busquem outras instituições de saúde para o nascimento de seus filhos. O motivo principal é o aumento de partos prematuros de mães com a covid-19, algumas delas internadas em UTI. Fêmina, Santa Casa e Presidente Vargas são as alternativas, no momento.
— Nós temos que atender parto na UTI Covid. E geralmente os partos acontecem no Centro Obstétrico — relata a chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital de Clínicas, a médica pediatra e neonatologista Rita de Cássia Silveira.
Ela relata que nunca presenciou uma situação como essa nesse setor do hospital.
— Eu estou desde 94 (no Hospital de Clínicas) e nunca tinha visto um vaga zero na UTI Neonatal — relata a doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, ao se referir ao termo usado para uma vaga que precisa ser criada de urgência, mesmo não existindo.
A médica conta que o aumento das internações de recém-nascidos ocorre no mesmo momento do aumento da ocupação de leitos de UTI por pacientes adultos com coronavírus.
— Se o bebê nasceu mal na UTI Covid, o transporte para a internação dele é mais difícil, é mais longo. Demanda um esforço maior das nossas equipes assistenciais — destaca Rita, ao explicar que existe todo um isolamento necessário do bebê que nasce de uma mãe infectada pelo coronavírus.
Segundo Rita, com mais mães doentes com coronavírus, mais bebês prematuros têm nascido na instituição:
— O bebê não nasce doente pela covid, mas em risco pela prematuridade. Desconforto no pulmão, temperatura baixa.
Segundo a médica, todo bebê que nasce de uma mãe em estado grave pela covid-19 precisa ficar isolado até que sejam feitos todos os testes e se descarte a doença na criança.
— Nós estamos desesperados. A gente está trabalhando no limite — desabafa Rita.
No caso de mães com a doença, mas que não estão em estado grave, elas são levadas para o bloco cirúrgico e o parto é feito numa sala especial, com isolamento e cuidados maiores. Se o bebê dessa mãe com um quadro de coronavírus leve nasce saudável, ele vai para o quarto com ela, com todos os cuidados para não transmitir a doença.
Recém-nascidos que não precisavam de UTIs, mas de internação em razão da prematuridade ou por outros motivos, sempre eram acomodados em bercinhos. Durante a pandemia, os bercinhos deram lugar às incubadoras para afastar ao máximo o risco de que a criança contraia o coronavírus.
Hospital Materno-infantil Presidente Vargas
O diretor-geral do Hospital Materno-infantil Presidente Vargas, Cincinato Fernandes Neto, conta que as instituições possuem equipes que trocam informações sobre a ocupação dos leitos e que, em caso de necessidade, a transferência é feita para o hospital com mais possibilidade de receber o recém-nascido.
— Nós, aqui no Presidente Vargas, estamos com os 10 leitos de UTI ocupados. Mas, se precisar, a gente tem como abrir alguns leitos de retaguarda e deslocar equipes para eles — relata Neto.
Hospital Criança Conceição
A Neonatologia do Hospital Criança Conceição, que atende a Maternidade do Hospital Nossa Senhora Conceição, não está lotada. A responsável técnica da UTI Neonatal, Cátia Soares, diz que a ocupação oscila muito, inclusive dentro do mesmo dia.
- O que temos percebido é que há um nítido aumento na chegada de gestantes com covid. E tivemos nas últimas duas semanas que bloquear duas salas na nossa Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal para permitir receber filhos de mães com covid e fazer o isolamento adequado desses bebês - relata a médica.
Ela conta que a equipe precisou separar bebês graves filhos de mãe com covid dos outros também graves, mas cujas mães não têm doença e, portanto, não precisam de isolamento.
- Com essas medidas limitou bastante nossa capacidade de receber bebês com necessidade de UTI da rede externa. Somos o Serviço de Neonatologia que mais recebia bebês externos, via Regulação Municipal/Estadual. Então, de alguma forma creio que está impactando em toda rede - destaca Cátia.