O medo de se infectar com o coronavírus fez com que as pessoas evitassem tocar em superfícies possivelmente contaminadas no início da disseminação da covid-19. À época em que foi declarada a pandemia, com as formas de contágio ainda sob estudos, tornou-se comum que cotovelos e pés realizassem o trabalho de abrir e segurar portas, por exemplo: ainda não se sabia, afinal, quanto tempo o vírus poderia sobreviver nas diferentes superfícies.
O conhecimento sobre a transmissão do coronavírus por diferentes superfícies começou a tomar proporções com um estudo publicado em 17 de março de 2020 em uma das mais tradicionais revistas científicas do mundo, a New England Journal of Medicine, dos Estados Unidos. A pesquisa revelou que a estabilidade do vírus nas superfícies depende do tipo de material na qual ele foi depositado. No plástico, por exemplo, a sobrevida pode chegar a três dias.
Convencionou-se, então, adotar medidas que seguem válidas até hoje: limpar as superfícies de uso frequente com álcool gel 70%, água sanitária e sabão. E tomar banho assim que chegar da rua ou, pelo menos, lavar as partes do corpo que estiveram expostas e a roupa com sabão.
Outras recomendações, também eficazes porém mais trabalhosas, como tirar e limpar os sapatos antes de entrar em casa, fazer a higienização de chaves, carteira, celular e óculos com sabão ou álcool 70%, além de lavar cada compra feita no supermercado, acabaram caindo em desuso. E não sem razão: especialistas estão cada vez mais convencidos de que a capacidade de o coronavírus entrar no organismo e provocar estragos a partir de uma superfície contaminada é bem menos comum do que se imaginava.
Transmissão improvável
Há uma aceitação científica, atualmente, de que detectar partes do vírus em algum objeto não é necessariamente motivo de tamanha preocupação.
— É preciso considerar diversas circunstâncias, como a carga viral depositada em cada superfície, o material em questão, o tempo de permanência ali, as condições climáticas e por aí vai — pontua o virologista Jônatas Abrahão.
Em maio de 2020, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos já avisavam que tocar superfícies contaminadas não era o canal mais importante da transmissão. Mais recentemente, em fevereiro, pesquisadores nos Estados Unidos indicaram que é muito improvável a transmissão de coronavírus por alimentos ou por suas embalagens. O comunicado conjunto foi feito pela Food and Drugs Administration (FDA) e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Descobriu-se que, às vezes, é só a carcaça do Sars-CoV-2 que está nesses locais, sem qualquer capacidade de invadir o organismo, replicar-se e desencadear os sintomas da covid-19.
— E mesmo que ele esteja viável, só será realmente preocupante se houver quantidade suficiente para contaminar quem colocar as mãos ali e levá-las ao rosto — destaca o médico Marcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP).
Cuidado ainda é necessário
Mas não vá pensando que é impossível pegar o vírus ao colocar a mão em uma maçaneta contaminada e, depois, na boca ou nos olhos.
— A questão é que a probabilidade é muito baixa, e higienizar as mãos de forma correta já é suficiente para bloquear essa via de transmissão — explica Bittencourt.
O mais importante, conforme especialistas, além de usar máscara ao sair de casa e manter o distanciamento social, continua sendo a atitude de lavar as mãos com frequência e não ficar colocando-as no rosto. A água e o sabão seguem sendo nossos grandes aliados contra o coronavírus. O motivo é que o sabão consegue penetrar a camada de gordura que protege o vírus e faz com que ele morra.
E é fundamental concentrar esforços na prevenção da principal via de transmissão da covid-19: a respiratória. Também é importante evitar ambientes fechados e ventilar ao máximo os cômodos, porque o vento dissipa as partículas contaminadas. Sabe-se que a infecção por coronavírus ocorre, na grande maioria das vezes, por gotículas e aerossóis expelidos no ar quando alguém tosse, espirra ou fala. Essa, sim, deve ser a principal preocupação de cada um para evitar a disseminação do vírus.
Cuidado com as superfícies
- Se você está trazendo compras para casa — ou se chegou alguma encomenda —, higienize as mãos antes e depois de manipulá-las.
- Independentemente de estarmos em uma pandemia, vale limpar coisas que entram em contato direto com a boca. O bocal de latinhas de refrigerante é um exemplo.
- O contato com superfícies em locais onde possivelmente há mais pessoas infectadas, como hospitais, merece atenção redobrada.
- Locais que são tocados por muitas pessoas diferentes (barras de ônibus, maçanetas de salas de aula) exigem cuidado. Após encostar neles, você pode recorrer ao álcool gel, por exemplo.
- Indivíduos com o sistema imunológico fragilizado também podem conversar com seus médicos sobre o assunto.