Correção: a gerente da UPA Moacyr Scliar, Jaqueline Cesar Rocha, é farmacêutica, e não médica como publicado entre 18h30min e 21h45min desta terça-feira (23). O texto foi corrigido.
A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, na zona norte da Porto Alegre, esgotou sua capacidade operacional nesta terça-feira (23), devido ao grande aumento no número de pessoas com casos suspeitos e confirmados de covid-19 que estão procurando atendimento na cidade. Em um comunicado anexado na entrada do local, a direção do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) informou que a situação impedia a aceitação de novos pacientes enquanto perdurasse a quantidade excessiva de pessoas em observação.
Na manhã desta terça, sete pacientes que estavam na unidade aguardavam por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A superlotação da UPA era de 323% — 55 pacientes para 17 leitos. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Jaqueline Cesar Rocha, gerente da unidade, falou sobre a situação do local e o crescente número de pessoas em busca de atendimento na Capital por estarem apresentando sintomas da covid-19.
Ela relata que, nas últimas semanas, houve uma “explosão de novos casos” e, além do aumento da procura, as unidades estão recebendo cada vez mais pacientes em estado grave, precisando de internação, diferentemente do que estava sendo visto em outros momentos da pandemia:
— Com esse aumento, chegamos realmente ao esgotamento da nossa capacidade de acomodação, de equipamentos e de equipes para atender esse volume de pacientes que está em observação na nossa unidade.
Jaqueline afirmou que, no momento da entrevista, à tarde, 62 pessoas estavam sendo atendidos na unidade, sendo 51 com diagnóstico confirmado para coronavírus. Segundo ela, desse total, 10 precisariam estar em leitos de UTI.
Para acomodar esses pacientes, a equipe teve que readequar a estrutura da unidade, adaptando salas e aumentando o número de poltronas e macas diariamente. Jaqueline explicou que as salas de medicação, que seriam para passagem rápida dos atendidos, estão sendo utilizadas para observação de pessoas afetadas por outros problemas de saúde, já que o restante do espaço está dedicado a casos de coronavírus.
— O que nós estamos fazendo é dividir os espaços. Onde deveria ter somente uma cama, colocamos dois ou três pacientes, acomodando da melhor maneira que conseguimos, em macas ou poltronas — relatou.
Em relação aos demais recursos, a profissional afirmou que não há problemas com o suprimento de oxigênio, por exemplo, mas que a dificuldade está na limitação dos equipamentos que são necessários para utilizá-los. De acordo com ela, por mais que a equipe tenha feito diariamente acréscimos de materiais e equipamentos, não existe como consegui-los de maneira infinita.
Além disso, ressaltou que as equipes estão com um cansaço acumulado e que a aceleração dos casos e a gravidade do estado de saúde dos pacientes requerem mais profissionais e um cuidado maior:
— Com isso, claro, acaba ocasionando um esgotamento, não só o físico, mas também emocional de toda a equipe. Chegamos em uma condição de não saber até quando conseguiremos dar conta dessa demanda. É um momento muito difícil, porque nós vemos a necessidade (das pessoas), mas a nossa capacidade realmente está esgotando.
Durante a tarde, GZH esteve no local e constatou que algumas pessoas conseguiram atendimento na unidade porque estavam com a saturação de oxigênio muito baixa. Outras, no entanto, foram orientadas a se direcionar para diferentes unidades de saúde.
Rosangela Bairros, 43 anos, e a mãe Natalia Bairros, 71, chegaram à UPA por volta das 15h. Na porta da unidade, uma profissional mediu a saturação de oxigênio da idosa e, ao constatar que estava muito baixa, a levou para a área covid do local.
De acordo com Jaqueline, não há uma previsão para transferência dos pacientes que estão em atendimento na unidade. Ela afirmou que, para conseguir atender normalmente, seria preciso retirar no mínimo 50% dessas pessoas do local:
— Precisamos de um número muito significativo de leitos para realmente conseguir voltar à condição adequada.
