Os dois municípios mais visitados da Região das Hortênsias, na Serra, decidiram enfrentar de formas diferentes o agravamento da pandemia registrado nas últimas semanas. Enquanto Canela vai seguir as regras da bandeira preta confirmada pelo Estado nesta segunda-feira (23), a vizinha Gramado, distante apenas nove quilômetros, vai manter a atividade econômica em funcionamento. Os dois municípios têm os leitos hospitalares lotados, incluindo as UTIs.
A situação da rede de saúde, inclusive, foi o principal motivo para Canela manter as medidas mais enérgicas, segundo o prefeito Constantino Orsolin (MDB). O município tem os 10 leitos de UTI ocupados e apenas três dos 20 leitos de enfermaria estão livres. As estruturas montadas para atendimentos de pessoas com sintomas, em frente ao hospital e na unidade de saúde central, também operam próximo ao limite da capacidade, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. Outra justificativa é de que o município tradicionalmente segue o que o Estado determina.
— Gramado e Canela têm registrado alta nos casos. Ontem (segunda) nós tivemos até um atendimento em uma maca. Na frente do hospital temos uma tenda e ali perto o Postão. Eles estão atendendo de 200 a 400 pessoas por dia com sintomas. O que nos tranquiliza é que na região tem leitos em outros municípios — observa Orsolin, que não está indo até a prefeitura e passou a trabalhar de casa.
Com a bandeira preta, o comércio não essencial, assim como salões de beleza e enfermarias não podem funcionar. Já restaurantes só podem atender com 25% do quadro de funcionários. As escolas funcionarão presencialmente apenas para educação infantil e 1º e 2º anos do Ensino Fundamental, por determinação do Estado. Ao longo da semana também será implantada fiscalização nos acessos à cidade. A expectativa de Orsolin é que isso faça com que as internações diminuam.
— Não é lockdown, mas se não levarmos a sério, teremos isso. Torço muito para que a bandeira preta dure uma semana, mas temo que não será suficiente — alerta.
Apesar das medidas rigorosas, a população recebeu bem as regras, na avaliação do prefeito. Já com relação à cidade vizinha, afirma que cada comunidade decide de acordo com sua realidade.
— Cada um tem que olhar sua situação. Nós fizemos uma análise muito criteriosa. O pessoal se deu conta (do problema) porque é difícil uma família em que alguém não tenha tido covid-19. Estamos pagando um preço elevado pela irresponsabilidade de todos nós — aponta.
Em Gramado, onde todos os 18 leitos de UTI e nove de enfermaria estão ocupados, a prefeitura decidiu seguir o protocolo de cogestão. As regras permitem o funcionamento do comércio não essencial, de salões de beleza e barbearias, além de um percentual maior de funcionários nas empresas. O decreto publicado ainda na segunda-feira (22) também permite o funcionamento de supermercados, bancos e lotéricas (além de estabelecimentos semelhantes) com 50% do quadro de funcionários. No caso de instituições financeiras o atendimento deve ser agendado.
A reportagem não conseguiu contato com o prefeito de Gramado, Nestor Tissot (Progressistas). Em vídeo publicado na página do Facebook do município, contudo, o prefeito justificou as regras menos rígidas com o intuito de não prejudicar a economia.
— A ideia sempre foi cuidar da saúde, mas também da economia, e estamos fazendo isso, apesar das dificuldades. Essa flexibilização nada mais é do que auxiliar os negócios econômicos do município — afirmou no vídeo.
Nesta terça, a prefeitura de Gramado divulgou mais quatro mortes de moradores da cidade causadas pelo coronavírus. O primeiro óbito ocorreu no sábado (20) e foi de um idoso de 73 anos que estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O paciente deu entrada no São Miguel na sexta-feira (19) e morreu no sábado. A segunda morte ocorreu às 7h50min desta terça-feira. A 57ª vítima da doença na cidade é um homem de 58 anos, que foi hospitalizado na UTI-Covid-19 no domingo (21). A 58ª é uma mulher de 84 anos que estava internada desde o dia 17 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI-Covid-19). Já a 59ª vítima, um homem de 65 anos, morreu após permanecer internado por 27 dias.