Além das emergências dos hospitais, o crescimento do contágio da covid-19 vem pressionando como nunca desde o início da pandemia os quatro locais de referência para pronto-atendimento (PA) da Capital, excluindo os hospitais.
Neste domingo (21), enquanto a emergência de hospital mais cheia da Capital apresentava lotação de 158%, três dos quatro PAs apresentavam lotação maior do que o dobro de sua capacidade: Pronto Atendimento da Bom Jesus (271,4%), da Cruzeiro do Sul (216,6%) e a UPA Moacyr Scliar (229,4%), na Zona Norte. A menos lotada era a da Lomba do Pinheiro, com 133,3% de lotação. Os dados são da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Localizadas em pontos estratégicos para atender às comunidades mais carentes da Capital, os PAs são as principais portas de entrada para o atendimento emergencial pelo SUS. A unidade da Zona Norte é administrada em parceria com o Grupo Hospitalar Conceição, as demais, com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
Em razão da covid-19, elas operam perto da lotação desde junho. Em dezembro, tiveram um crescimento de procura e, na última semana, um novo aumento de demanda que levou a situação à beira do insustentável. Os profissionais das unidades ouvidos nessa reportagem pediram para não serem identificados.
– Quando você enxerga um 300% no gráfico, significa que não há mais leitos e nós estamos utilizando macas de ambulância em corredores, poltronas, cadeiras. Começa a faltar medicação e equipamentos. Na sexta-feira (19), estávamos com três respiradores ocupados e outros seis pacientes ligados ao oxigênio nas paredes – relata um profissional de saúde da Bom Jesus, que chegou a operar com o triplo da capacidade na sexta-feira.
De acordo com servidores da unidade, nos momentos mais críticos da pandemia até dezembro, os pacientes de covid correspondiam a aproximadamente 40% dos atendimentos. Hoje, são 70% e os atendimentos por outras razões não diminuiu. Nos últimos dias, a demanda por testagem de covid-19 ficou além do humanamente possível de atender, conforme relato de funcionários. A unidade realiza aproximadamente cem testes ao dia.
Quando você enxerga um 300% no gráfico, significa que não há mais leitos e nós estamos utilizando macas de ambulância em corredores, poltronas, cadeiras. Começa a faltar medicação e equipamentos.
PROFISSIONAL DE SAÚDE
servidor em UPA na Bom Jesus
Na UPA Moacyr Scliar, na Zona Norte, os atendimentos estão restritos a casos graves, classificados na entrada como amarelo, laranja ou vermelhos. Os atendimentos classificados como azul (não urgente) ou verde (pouco urgente), não estão sendo realizados. Com a expectativa de abertura de mais leitos de UTI nesta segunda-feira (22), isso pode ser reavaliado. Dos seis respiradores, cinco estão ocupados.
- Ali, nunca chegamos a experimentar primeira ou segunda onda, e sim uma pressão constante que agora está aumentando. É também uma unidade muito visada por pessoas de outros municípios, que no desespero de morrer de covid sem atendimento, correm para Porto Alegre. Acontece de utilizarmos uma mangueira em Y nos oxigênios das paredes, para poder alimentar mais de um paciente – declara uma médica que atuou por oito meses na unidade.
Segundo Diego Fraga, coordenador municipal de urgências da SMS, o crescimento da última semana foi intenso e preocupante, mas não chegou ao ponto de comprometer os atendimentos urgentes. Conforme Fraga, o momento requer que as pessoas busquem as unidades básicas de saúde para casos leves, inclusive de covid-19.
– Muita gente procura a UPA para testagem com sintomas leves. Se há suspeita de covid-19, ela pode procurar a unidade básica e realizar o exame em laboratórios conveniados. Dessa forma, as UPAs ficam à disposição de quem tiver sintomas de agravamento, como dor no peito, falta de ar e extrema fadiga – explica, reforçando a recomendação de distanciamento.
Conforme a SMS, os pronto-atendimentos contam com um número limitado de respiradores que devem ser utilizados somente de forma emergencial, até que os pacientes possam ingressar na rede hospitalar. Por isso, não há previsão de aumento significativo da disponibilidade deles nos PAs. A solução para desafogá-los deve vir da ampliação de leitos e respiradores em hospitais.
Há dois respiradores na unidade da Lomba do Pinheiro, três na Bom Jesus, cinco na Cruzeiro e seis na Zona Norte.