Assustado com o número crescente de casos e com a proliferação de aglomerações diante da quantidade tímida de UTIs na rede de saúde, o prefeito de Alegrete, Márcio Amaral, anunciou na quinta-feira (23) um final de semana em lockdown mesmo o município da Fronteira Oeste estando em bandeira laranja conforme o modelo de distanciamento do governo do Estado.
Segundo Amaral, o período de reclusão — que começou às 21h30min de sexta-feira (24) e se estende até as 6h de segunda-feira (26) — é uma "medida educativa". Para que a população possa vislumbrar um cenário de restrições caso se repitam cenas que vinham se tornando corriqueiras durante as últimas semanas, de desrespeito ao distanciamento social.
— A gota d'água foi a noite do Gre-Nal (22), em que pequenos grupos se formaram em tudo o que foi lugar, ignorando os nossos apelos. E não é por falta de fiscalização, foi um desrespeito deliberado mesmo — conta o prefeito, citando que a prefeitura já arrecadou mais de R$ 600 mil em multas a pessoas e estabelecimentos por descumprimento dos decretos.
A noite chuvosa de sexta-feira ajudou, mas havia dúvidas se a população deixaria de aproveitar o sábado invernal ensolarado nas praças do município. Pois a surpresa foi positiva: a região do Centro teve ruas desertas durante a manhã. Pontos que estariam com bom movimento em um dia de sol, como os quiosques da Praça Getúlio Vargas e o Calçadão ficaram desertos.
— Ontem, tivemos um movimento louco. Acho que o pessoal não sabia direito o que estaria aberto ou se poderia sair de casa para comprar. Já hoje pela manhã foi muito parado. Também fui ao caixa eletrônico fazer um depósito e o banco estava vazio, passei por apenas duas pessoas — conta o funcionário de uma farmácia em meio às demais portas cerradas da Rua dos Andradas.
No posto de combustíveis da Praça General Osório, o movimento também foi tímido. Segundo um dos frentistas, enquanto o normal para um sábado de manhã seria vender em torno de 1 mil litros, até o meio-dia haviam sido vendidos 200 litros.
— Acho que foi importante para se dar conta que a vida não está normal. Uns 30% do pessoal já não estava dando a mínima para as restrições. Passeavam aqui pela praça sem máscara como se não tivesse vírus nenhum circulando — conta um dos frentistas, preocupado com a saúde dos pais, com mais de 90 anos.
Conforme as primeiras informações sobre o lockdown, seriam liberados apenas postos, farmácias e hospitais. Porém o decreto acabou sendo menos restritivo, permitindo atividades como motoristas de aplicativos, hotelaria e pet shops (desde que apenas para venda de ração e emergências veterinárias). Conforme o prefeito, a lista foi baseada nas restrições e liberações da bandeira preta, porém um pouco mais severas.
— Supermercado, por exemplo, decidimos fechar. E restaurantes somente em telentrega. O pegue e leve nós proibimos para evitar que saiam de casa para buscar — explica Amaral.
Embora a prefeitura tenha colocado Brigada Militar, Guarda Municipal, Polícia Civil e até mesmo o Exército na fiscalização das medidas, não havia fiscais no Centro. Segundo a coordenadora da fiscalização, Rosimere Martins, isso se deu porque foi necessário, pela manhã, atuar de forma descentralizada nos bairros, onde houve uma série de ocorrências. Somente pela manhã, 36 casos foram comunicados à prefeitura.
— Recebemos diversos comunicados de pequenos mercados e mercearias que insistiam em atender entre as grades. Na parte da tarde, estaremos mais presentes em pontos que funcionam como áreas de lazer. Estou avaliando a experiência como muito positiva, para as pessoas perceberem como pode ficar caso percamos o controle.
Cidadãos que circularem pelas ruas devem ser abordados. Se não tiverem uma boa justificativa para estarem fora de casa, podem ser multados em R$ 183.
Conforme a prefeitura, até sexta-feira, Alegrete tinha 173 casos de covid-19 confirmados, destes, 112 recuperados e 52 em acompanhamento, dos quais 46 estão em isolamento domiciliar e seis hospitalizados. Nove pessoas morreram. O município conta com 10 leitos de UTI, 10 para casos menos graves e outros 30 de campanha.
Se a pandemia se agravar, o município mais próximo com maior estrutura é Uruguaiana, distante cerca de 140 quilômetros.