Criado em 2007 para atender exclusivamente a médicos e enfermeiros de postos de saúde de todo o Brasil, graças a convênio firmado com o Ministério da Saúde, o Serviço Telessaúde RS tem se consolidado como importante ferramenta de telemedicina durante a pandemia de coronavírus. O serviço, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vem se tornando uma referência para profissionais da área da saúde no tratamento da covid-19.
As dúvidas dessas equipes, que geralmente são direcionadas ao Telessaúde RS por telefone, são provenientes, principalmente, de médicos e enfermeiros das mais de 45 mil unidades básicas e unidades de saúde da família, mas também de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais e emergências. Roberto Umpierre, coordenador do Telessaúde RS-UFRGS, conta que, inicialmente, os atendimentos mais comuns tratavam da definição ou não de caso suspeito de covid-19, algo que mudava quase diariamente devido à falta de informações concretas sobre os principais sintomas.
— Depois, começaram a chegar mais questões sobre tempo de afastamento das atividades, afastamento de contatos, uso de equipamentos de proteção. E, nos últimos dias, começaram dúvidas sobre indicação e interpretação de exames laboratoriais que muitos municípios compraram. As dúvidas são sempre respondidas baseadas nas melhores evidências disponíveis e nas recomendações do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais de Saúde — define Umpierre.
Uma dificuldade é promover orientação quando não há respostas definitivas – como é comum acontecer no caso de uma doença ainda muito nova, como a covid-19. Como o serviço trabalha com base em evidências, a incerteza acaba sendo o maior problema. Nessas ocasiões, conforme Umpierre, é preciso deixar claro: as respostas não são formuladas a partir de "achismos", mas em provas científicas.
— O mais complicado estava sendo no início, quando, em um dia, tínhamos mudança de conceitos de um turno para o outro. Agora, já estão melhor estabelecidos e estamos com poucas dificuldades — relata o coordenador.
Mesmo não estando na linha de frente dos atendimentos, a equipe que orienta tantos profissionais de saúde também precisou redobrar os cuidados. Desde o final de março, com o avanço do número de casos pelo mundo, foi ampliado o espaçamento entre os teleconsultores e o local de trabalho passou a manter as janelas sempre abertas. Todos os colaboradores foram orientados a não comparecer ao serviço frente aos mínimos sintomas. Também a estrutura de informática foi preparada para permitir trabalho remoto, e alguns dos colaboradores começaram a migrar para home office, principalmente aqueles que estão atuando também com atendimento a pacientes suspeitos de covid-19.
A experiência de mais de 10 anos de estudos sobre os mais diversos aspectos da telemedicina no grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina da UFRGS tem sido fundamental para o atendimento, e o material já publicado tem servido de inspiração para vários serviços emergenciais do tipo no país. O Telessaúde RS tem apoiado o Serviço de Atenção Primária do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que adaptou a sua realidade de atendimento a ambulatórios de teleconsulta, com avaliação presencial dos pacientes após o contato telefônico.
— Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, estamos entrando em contato com pessoas que internaram em 2019 para avaliar condições crônicas de saúde, orientando em relação à doença e otimizando o tratamento medicamentoso, se necessário, sem necessidade de deslocamentos. Em apoio ao Hospital de Clínicas, estamos auxiliando na transição dos cuidados pós-alta de pacientes internados — completa Umpierre.