Após o governo brasileiro confirmar casos de coronavírus, em São Paulo, a Igreja Católica está orientando padres e fiéis a mudarem, por um tempo, hábitos milenares em missas. Dentre as alterações, estão: evite abraçar, apertar as mãos, dar as mãos durante o Pai-nosso e receber hóstia direto na boca. As orientações foram divulgadas, na última sexta-feira (28), pela Arquidiocese de Porto Alegre, responsável por 160 paróquias de 29 municípios.
O arcebispo Dom Jaime Spengler, 59 anos, apontou, também, que uma medida a ser pensada é fazer o sinal da cruz sem a água-benta na entrada da igreja. Veja a entrevista a GaúchaZH:
Quais são as recomendações que a Arquidiocese de Porto Alegre está dando às igrejas?
As orientações são muito simples e seguem aquilo que podemos colher do Ministério da Saúde: evitar contato físico, aperto de mão, abraço e contato com a saliva. Durante as celebrações, é evitar o aperto de mão e os abraços, rezar o Pai-nosso de mãos dadas e, na recepção da eucaristia, receber na mão em vez de na boca. É uma questão de corresponsabilidade pela saúde de quem está conosco na celebração. É algo muito simples. Estamos diante de uma doença nova.
Essas recomendações são apenas pra missas ou para outras celebrações, como casamentos, missas de sétimo dia, catequese e crisma?
Tudo que pudermos evitar contato, seja dentro ou fora da celebração.
Por que a Arquidiocese resolveu passar essas orientações?
Publicamos na sexta-feira, repercutindo um pouco o que várias dioceses do Brasil vieram fazendo e seguindo a orientação da Conferência dos Bispos, com esses três pontos levantados (evitar contato no Pai-nosso, nos abraços e na hora da hóstia). E também cuidar para não compartilhar talheres, copos e cuidar a higienização das mãos, sobretudo depois de espirro e tosse.
O fiel também deve evitar agora a água-benta na entrada da igreja?
Isto não colocamos na nossa orientação. Provavelmente, a gente precisaria orientar neste sentido, pode ser um habitat para o vírus.
Medidas assim foram também colocadas em prática durante a epidemia de H1N1?
Foram colocadas. Talvez não tenha tido tanta repercussão, mas orientamos, sim, para cooperar para que a contaminação não se propagasse.
Como foi a missa deste domingo (1º), com as novas orientações?
Eu celebrei na Catedral. Não tivemos nenhuma repercussão maior. Já no início, dei a orientação, disse por que e não tivemos nenhuma reação negativa. Muito pelo contrário.
E como foi em outras igrejas?
Distribuímos orientações para todas as paróquias e padres. Alguns até haviam pedido orientação. Não chegou nenhuma repercussão que contradiga. O pessoal agradece porque quer saber como reagir.
Fiéis estão procurando padres para receber orientações?
Eu não saberia responder de forma objetiva. Se os padres vieram a nós pedindo orientação, é porque foram indagados nas comunidades.
Por acaso diminuiu a movimentação nas missas depois que o coronavírus chegou ao Brasil?
Não. Iniciamos a quaresma, na Quarta-feira de Cinzas, e chegou a informação de que a participação foi expressiva.
Quando houve o auge da epidemia de HN1N1 teve diminuição de movimento nas missas?
Eu era padre em Curitiba, não posso te dizer, não estava em Porto Alegre.
Vocês estão preocupados que o coronavírus diminua a movimentação nas missas?
Eu não diria diminuição ou não diminuição. No período da quaresma, estamos promovendo a Campanha da Fraternidade, cujo tema é Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso. Neste momento em que vivemos, com esse vírus no ar, é uma forma de reconhecer que a vida de cada pessoa humana é um dom e que eu também sou responsável pela vida e pela saúde do outro. A Igreja tem um papel importante na sociedade em termos de conscientizar, ao mesmo tempo em que há a possibilidade de a pessoa de fé manifestar solidariedade e compromisso pela vida do outro.
Alguma recomendação para fiéis que frequentam a igreja?
Que cuidemos de nós mesmos e uns dos outros. Que não sejamos prejudicados ou atingidos por esse vírus. O espaço da igreja é espaço de prece, meditação e orientação. Nos momentos de desafio e dificuldade, a prece e a dimensão religiosa são espaço de conforto e de apoio. Não é momento de ter medo, o contexto não é de criar pânico. É de cuidado pelo outro.