A paisagem vai do mar à serra em poucos quilômetros; a gastronomia, do pescado fresco ao queijo de cabra com embutidos. E vinhos há para todos os gostos e bolsos: brancos, tintos, espumantes ou licorosos; complexos para os entendidos, e simples para os iniciantes.
A Península de Setúbal reúne dezenas de opções para enoturistas em uma área de 230 km quadrados, a 50 km de Lisboa. É o berço das vinhas mais antigas da Península Ibérica, com registros de 2 mil anos antes de Cristo.
Hoje, são comuns vinhedos de 80 anos ou mais, em plena produtividade a serviço de adegas fundadas no começo do século XX, que em geral estão na quarta ou quinta geração de descendentes ainda na administração dos negócios. São ao todo 9.500 hectares de vinhas e quase 200 vinícolas. Visitas guiadas com degustação vão dos 7 aos 100 euros, dependendo da quantidade e complexidade das bebidas oferecidas e dos acompanhamentos. E algumas das adegas também têm hospedagem, como a Quinta do Piloto (uma vista esplêndida de Palmela), Fernão Pó (uma casa com piscina que fica cheia no verão, também em Palmela) e La Serenada (hotel boutique em uma propriedade rural, na Serra de Grândola).
Reino de castelão
A principal casta cultivada na região é a castelão, que ocupa a maior parte da área plantada e é valorizada pelos enólogos como uma uva versátil, que dá origem tanto a vinhos tintos quanto brancos e espumantes. Uma planta “com personalidade”, dizem, e perfeitamente adaptada aos tipos de solo da península: o argilo-calcário, mais úmido, e o arenoso, mais seco e próximo ao mar (o que ainda dá ao produto final um toque único de salinidade).
Em homenagem à castelão, três enólogos, de vinícolas diferentes criaram o Projeto Trois. Produzem vinhos 100% castelão com diferentes blends, mas sempre cumprindo a mesma regra: cada um deles faz o seu vinho, e depois os três são misturados em proporções iguais.
Uma joia: moscatel de Setúbal
Doce e licoroso, o moscatel de Setúbal é adequado tanto para as boas-vindas quanto para a sobremesa. Bebida tradiciona da península, é produzido a partir de duas castas: o moscatel graúdo (ou de Alexandria), o mais comum, e o moscatel roxo, mais raro.
Delicado e precoce, o roxo quase foi extinto duas décadas atrás. É colhido em agosto, enquanto o moscatel graúdo é vindimado em setembro. E, se este último rende em média 10 cachos por cepa, a variedade roxo rende três a quatro cachos. E anda por cima é alvo preferido dos pássaros, por dar um fruto mais doce.
- O tratam como um bebezinho – resume, entre discurso e deboche, o enólogo da adega Fernão Pó, João Pedro Freitas Palhoça.
Para envelhecer bem, um moscatel precisa de ausência de luz, temperatura constante e silêncio (ausência de vibração), diz Eric Auriault, diretor de Exportações da Quinta Venâncio da Costa Lima.
Nem só de vinhos...
O Castelo de Palmela é uma visita imperdível em Setúbal. Situado a 238 metros de altitude na parte urbana da Serra da Arrábida, a fortificação proporciona um panorama de quase 360° da cidade, com vistas tanto para o rio Tejo (ao Norte) quanto Sado (Sul). Foi construído como fortaleza pelos muçulmanos no século VIII e passou por diversas modificações desde então. Hoje, o complexo abriga a sede da Ordem de Santiago, embora a igreja gótica de mesmo nome tenha sido desativada e funcione como espaço para exposições. Um antigo convento anexo atende como pousada – a hospedagem com a mais privilegiada vista da região.
Para ver o mar de perto, se pode tomar um ferryboat no porto de Setúbal, na região central da cidade, ao custo de 5,40 euros por pedestre e atravessar para a península de Tróia, uma língua de terra que divide o Sado do Atlântico. São cerca de 30 minutos de travessia (por terra, a viagem leva 1,5 hora). Quem não quiser se arriscar nas águas geladas da região (a temperatura não chega a 20°C nem no verão) pode desfrutar de um dos diversos restaurantes à beira-mar.
Não deixe de provar
Queijo do Azeitão: os queijos de cabra e ovelha são tradicionais na região toda, mas o queijo do Azeitão é um capítulo à parte: completamente cremoso por dentro, é servido como aperitivo em todas as mesas de Setúbal.
Torta de Azeitão: à base de ovos, este doce tem massa feita com amido de milho e recheio feito com gemas, açúcar e canela. É servido no formato de um pequeno rocambole.
Peixe fresco: a pesca é farta na península, portanto prove os frutos do mar frescos. Entre os pescados da região, estão o dourado, o robalo, o massacote e o pregado – grelhados, são imperdíveis. E há também uma variedade de pratos com bacalhau. Destaque para o choco, um tipo de lula carnuda e macia, servida empanada como aperitivo. Omelete e ovos mexidos também são bastante apreciados como entradas.
A repórter viajou a convite da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS)