Um dos destinos preferidos pelos brasileiros na Europa, para onde viajaram 270 mil turistas do país no último ano antes da pandemia, a tradicional região do Porto, no noroeste de Portugal, vem ganhando cara nova. A área é conhecida pelo casario histórico e pelo célebre vinho que leva o mesmo nome, mas, na margem sul do Rio Douro, uma cidade vizinha - chamada Vila Nova de Gaia - tem procurado combinar as referências do passado com investimentos de tom contemporâneo.
Essas iniciativas incluem um processo de revitalização urbana recém-entregue pela iniciativa privada que envolve a criação de um quarteirão cultural com sete museus e 12 restaurantes e bares erguido a um custo superior a meio bilhão de reais – com foco na bebida típica portuguesa, mas também novos elementos a exemplo de chocolate e moda.
Embora o tradicional vinho português leve o nome do Porto, município localizado na ribeira Norte, na verdade era em Vila Nova de Gaia, na outra extremidade da famosa ponte Luís I, que a bebida costumava ser guardada em grandes armazéns. A razão para isso é que a margem Sul do Douro recebe menos radiação solar e, por isso, favorece a conservação da bebida. Por razões logísticas, ao longo do tempo esse tipo de operação foi transferido para outros pontos do país. Parte dos prédios deu lugar a caves de degustação, e outro tanto foi desativado e acabou sem uso.
Há cerca de uma década, buscando seguir o mesmo caminho de outras cidades ao redor do mundo, Gaia reforçou o investimento público e privado em melhorias para compensar esse esvaziamento e ampliar o apelo turístico. O calçadão da beira-rio foi reformado pelo município, e a instalação de um teleférico proporciona uma visão panorâmica da região (o passeio de ida e volta no trajeto de pouco mais de 600 metros custa 9 euros, ou cerca de R$ 50).
As mudanças incluíram ainda a inauguração de um hotel de luxo vinculado ao universo do vinho, o Yeatman, onde também funciona um restaurante com duas estrelas da Michelin, e, agora, o lançamento do empreendimento gastronômico-cultural com 55 mil metros quadrados de área construída chamado World of Wine (Wow). O lugar abriu em plena pandemia, em 2020, mas só nos últimos meses passou a operar sem restrições.
Esses dois espaços são vinculados à holding Fladgate Partnership, que também abriga marcas de vinho do Porto como Taylor’s, Fonseca e Croft.
— Para termos turismo sustentável, é preciso ter conteúdo. Praia e sol tem em qualquer lugar — afirma o CEO da Fladgate, Adrian Bridge, lembrando que mais de 50% dos antigos armazéns da cidade se encontravam vazios antes da atual onda de revitalização.
Parte deles foi transformada pela companhia, com apoio fiscal do poder público, em sete museus temáticos: sobre vinho do Porto, vinho rosé, cortiça (de que são feitas as rolhas igualmente tradicionais), chocolate, moda, história do Porto e uma coleção pessoal de Adrian Bridge de itens ligados à bebida como copos, taças e assemelhados. Este último, por sinal, reúne um dos acervos mais surpreendentes do complexo.
Se o visitante espera encontrar um museu superficial, com pouco mais do que algumas curiosidades, já que se trata de uma coleção particular, logo na entrada depara com raridades. Ali há materiais com até 9 mil anos de idade – desde uma vasilha japonesa do período Jomon, passando pela Grécia e pela Roma antigas, itens vikings, até taças mais modernas feitas com urânio que brilham no escuro (mas não oferecem risco à saúde).
— Estamos hospedados no Porto, mas, quando lemos sobre esse lugar, dissemos que tínhamos de vir aqui também. Nunca havíamos conhecido algo parecido, em que o vinho é o assunto central, mas há moda, cultura, uma série de outros temas — afirma o administrador paulista Alexandre Vida, 52 anos, mais interessado no vinho, ao lado da mulher, a estilista Juliana Vida, 49 anos, focada no museu da moda.
O complexo conta ainda com a Escola do Vinho, onde é possível fazer desde degustações mais rápidas a partir de 18 euros (cerca de R$ 100 para três rótulos), sem necessidade de marcação prévia, até cursos mais imersivos sobre a bebida – tudo diante da vista do Porto e seu rio por onde costumava viajar o célebre vinho português rumo ao resto do mundo.
Os museus do World of Wine
O preço para visitar cada local é de 20 euros para adultos, ou cerca de R$ 110. É possível adquirir passes para dois (34 euros) ou três museus (45 euros). Crianças e famílias contam com valores reduzidos. Mais informações no site.
Museu do vinho
Uma viagem abrangente pelo universo do vinho, que não se limita à bebida típica do Porto ou a Portugal. Tudo sobre as diferentes castas de uvas, como é o processo de colheita e de produção da bebida, testes para identificar seu tipo de vinho, degustação guiada, entre outras atrações.
Museu da cortiça
Tudo sobre a produção da cortiça a partir da casca da árvore chamada sobreiro, múltiplos usos para a cortiça (desde rolhas de garrafa até materiais para foguetes). Você também pode descobrir a quantas rolhas equivale seu peso e gravar uma mensagem personalizada em uma delas.
Museu do chocolate
Em 3 mil metros quadrados, informações sobre origens históricas do cacau, produção atual no mundo, diferentes tipos de chocolate, embalagens e propagandas históricas. Há aromas de cacau de diferentes partes do mundo. Também é possível acompanhar parte do processo de fabricação da marca própria chamada Vinte Vinte - cuja fábrica fica no local.
The Bridge Collection
Museus de artefatos ligados ao vinho e outras bebidas, como copos, taças e vasilhas, datando de até 9 mil anos atrás que fazem parte da coleção particular do CEO da empresa Fladgate Partnership, Adrian Bridge. Materiais incluem desde civilizações antigas, como grega e romana, até peças recentes.
Pink Palace
Mais descontraído, o museu tem um nome que faz referência à coloração do vinho rosé e suas mais de 140 tonalidades. As salas contam a história da bebida e desfazem mitos como o de que seria um produto de qualidade inferior ou fruto da mistura de vinhos tinto e branco. Permite degustação de cinco rótulos, se jogar em uma piscina de bolinhas cor de rosa, fingir que está dirigindo um cadillac (rosa, claro) e tirar foto em uma garrafa gigante. Inclui ainda uma réplica de saloon americano do velho-oeste.
Museu da Moda
Informações sobre a história da produção têxtil em Portugal, diferentes tipos de fibra que existem, relação entre moda e cultura, e dezenas de peças produzidas pelos principais estilistas portugueses das últimas décadas.
Museu da região do Porto
Um mergulho na rica história de toda a região do Porto, desde a povoação da cidade até os dias atuais, passando pela relação com o célebre vinho do Porto, batalhas como a luta para expulsar invasores franceses, arquitetura da cidade, entre outros pontos.
Dicas para visitar a Vila Nova de Gaia
- Hospedagem: é possível ficar em Vila Nova de Gaia mesmo, onde se tem a melhor vista panorâmica do Porto, ou na margem oposta. Para ir de uma cidade a outra, basta uma caminhada de dois ou três minutos sobre a ponte Luis I. Em Gaia, diárias de hotel podem variar de perto de R$ 300 a mais de R$ 1 mil.
- Onde comer: uma boa pedida é fazer pelo menos uma refeição à margem do Douro e provar uma francesinha - prato típico da região, essa espécie de sanduíche de carnes coberto por queijo custa cerca de 10 euros (R$ 55). O complexo WOW tem 12 opções com diferentes estilos e preços, e o hotel Yeatman conta com um restaurante com duas estrelas Michelin. Costuma exigir reserva em razão da demanda e fecha na baixa temporada (verão no Brasil). O menu de degustação não sai por menos de R$ 1 mil.
- Passeios: é possível circular a pé, mas há muitas subidas e descidas. Outra opção é fazer passeios guiados ou navegar pelo Douro (a partir de algo como 15 euros, ou pouco mais de R$ 80 por pessoa). Entre os pontos de interesse estão o Mosteiro da Serra do Pilar, em um dos pontos mais altos da cidade, e visitas para degustação nas várias caves localizadas em Gaia.
- Teleférico: o passeio sobre o calçadão, embora curto, vale a pena pela vista e pela possibilidade de registrar belas imagens. O trajeto de ida e volta custa 9 euros, ou cerca de R$ 50 por pessoa.
*O repórter viajou a convite da Fladgate Parnership