Quando o assunto é subir a Serra, a associação imediata é com o inverno e temperaturas frias. Não que esteja errado, já que é nessa estação a alta temporada desse tipo de destino. Mas, aos poucos, os visitantes estão descobrindo que as atrações duram o ano inteiro - inclusive, no verão. Em geral, as cidades conservam um perfil mais histórico e cultural, mas os atrativos compreendem desde o descanso - em clima ameno nos meses mais quentes e gelado nos meses mais frios - até aspectos culturais bem específicos como a vindima e parques temáticos.
Além de abrir os olhos para outros períodos ao longo do ano, turistas de todo o Brasil também começam a abrir o leque de opções quando o assunto é o destino. O Rio Grande do Sul se notabilizou por oferecer um turismo luxuoso ao Brasil em Gramado e Canela, com ápices no Festival de Cinema, no Natal e na Páscoa, seguidos por outras datas comemorativas. A atração de congressos corporativos e acadêmicos também se destaca.
Eles continuam se aperfeiçoando na arte de receber visitantes, mas a própria serra gaúcha tem mostrado outros recantos que podem ser tão interessantes como os clássicos. A receita parece estar na vocação dos nativos: cidades de colonizações alemã e italiana apostam na reprodução da história dos imigrantes para atrair turistas.
Ao conhecer o passado, é possível deparar também com o presente e até mesmo o futuro. Com olhar atento à inovação, cidades como Nova Petrópolis, Bento Gonçalves e Garibaldi se consolidaram como polos industriais de malhas, vinhos e espumantes, respectivamente, e abrem as portas para mostrar seu modo de produção como mais um importante atrativo turístico em meses que, antes, ficavam reservados para ir ao litoral.
História e clima inspiram as cidades serranas
Fazer compras, conhecer a história dos imigrantes alemães e italianos ou da família real portuguesa, curtir o frio à beira do fogo, degustando um bom fondue, como rege a tradição, ou fazer trilhas ao ar livre e contemplar o pôr do sol, nos períodos mais quentes? Definitivamente, algumas das cidades serranas do Brasil se especializaram em receber turistas com praticamente qualquer objetivo, em diferentes épocas, até no verão. Há parques temáticos, passeios de trem e atrações para todas as idades.
Entre as comodidades, estão vastas opções de hospedagem em hotéis, pousadas, camping e aluguel direto com proprietários via internet. Passeios guiados também estão disponíveis.
Opções pelo país
A receita é seguida por Petrópolis, na serra do Rio de Janeiro. Fundada em 1843 pelo Imperador Dom Pedro II, tem no circuito histórico seu principal apelo turístico. Uma das primeiras cidades planejadas do país, era o destino da família real ao longo dos verões. Mas não fica restrita a isso: atrações gastronômicas, cervejeiras e vasto calendário de eventos mantêm a rede hoteleira repleta nas quatro estações.
Já em São Paulo, a cidade mais alta do Brasil é marcada pelo clima frio. Campos do Jordão tem prédios interessantes, com modelos arquitetônicos inspirados em diferentes regiões da Europa. O charme faz do destino um dos mais procurados do país no inverno.
Mas, além do aconchego das lareiras e do fondue, a cidade oferece mais. Se a pedida é por aventura e conexão com a natureza, há opções de arvorismo, passeios a cavalo e brinquedos para grandes e pequenos.
Onde quer que estejam, os destinos turísticos se reinventam para receber visitantes o ano inteiro. Da vocação original, se desdobram outros tipos de atrações, impulsionando a economia regional e transformando o turismo em um dos principais motores até mesmo em regiões marcadas pela presença da indústria, como na serra gaúcha. A seguir, veja algumas das principais ofertas pelo Brasil.
Nova Petrópolis (RS)
A cidade fica na Região das Hortênsias da serra gaúcha, mais caracterizada pela colonização alemã. Tanto que a principal atração no centro do município é um parque que reproduz uma aldeia completa, com prédios da época que foram transportados para lá: cooperativa, igreja, escola, tudo exatamente como era.
Os 10 hectares do Parque Aldeia do Imigrante abrigam lagos, pedalinhos, restaurantes e trilhas em meio à vegetação. Perto dali, a Praça das Flores é parada obrigatória para adultos e crianças brincarem em um labirinto que surpreende.
O Ninho das Águias também vale a visita, principalmente no fim da tarde para contemplar o pôr do sol que a cada dia colore o céu de forma diferente. A vista alcança as cidades de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha, um ponto tão alto que é referência para a prática do voo livre.
Bento Gonçalves (RS)
Fundada em 1890, a cidade tem na produção de uva e vinho a principal vocação. Casas, pipas e adegas estão conservadas. Algumas mantêm funções originais, mas muitas foram transformadas em cantinas, restaurantes e lojas para receber turistas. A visita a vinícolas, que não foram criadas para o turismo, é uma experiência de imersão nos modos de produção do passado e do presente - e também do futuro, considerando o potencial de inovação da indústria da região.
Para diversificar, Bento Gonçalves conta até mesmo com opções radicais: o Parque Gasper possui o maior bungee jump da América Latina, com 157 metros de queda, pêndulo, passeio de quadriciclo e outras atrações.
— De janeiro a março, temos a grande ação que é o Bento em Vindima. As pessoas vêm participar da colheita da uva, com processo de pisa, e o merendin, que é um café servido embaixo do parreiral — exemplifica o secretário de Turismo da cidade, Rodrigo Parisoto.
Merendin era a refeição feita pelos imigrantes depois de algumas horas de trabalho árduo à sombra dos parreirais. A tradição é mantida como forma de reconhecer o esforço dos pioneiros e, ao mesmo tempo, atrair turistas. O lanche reforçado é acompanhado por músicas típicas e, claro, vinho.
Ainda há seis rotas turísticas: Caminhos de Pedra, Vale dos Vinhedos, Cantinas Históricas, Vale do Rio das Antas, Encantos de Eulália e Via Gastrô, com mais de 40 opções de restaurantes. Cada uma tem suas particularidades e são abastecidas com a rica culinária de origem italiana.
Petrópolis (RJ)
O lugar entrou na história do Brasil mesmo antes da chegada da família real. Por ali, passava o Caminho Novo, que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais. Depois de fundada por Dom Pedro II, recebia nobres, diplomatas, intelectuais e empresários, além de ter sido capital federal de 1894 a 1903.
Para saber mais, turistas podem visitar o museu Palácio Imperial (na foto), com significativo acervo da época. O palácio em estilo neoclássico era destino de verão da família do imperador, cuja coroa está exposta no local. Já o Palácio de Cristal foi palco da libertação dos últimos escravos da cidade, em cerimônia que contou com a presença da Princesa Isabel.
Esses e outros prédios históricos são palcos para uma série de atrações que não remetem diretamente ao passado. Os circuitos ecorrural, cervejeiro, gastronômico, religioso e de compras garantem entretenimento para todos os públicos.
Quem quer fazer compras também se diverte. A cidade se destaca por estar alinhada com as tendências da moda em todo o mundo. A Rua Teresa é o ponto principal, recebendo visitantes de todo o país em busca de roupas acessíveis e de qualidade. Mas outros endereços também oferecem opções em cosméticos, calçados, acessórios, óticas, relojoarias e decoração. Feiras de artesanato completam o cardápio.
Campos do Jordão (SP)
Com mais de 230 pousadas e hotéis e mais de 300 bares e restaurantes, a cidade se consolidou como um dos principais destinos serranos do país. A programação é intensa o ano todo e lugares para passear com a família incluem parques, boulevards e centros culturais.
O Palácio Boa Vista, residência oficial de veraneio do governador de São Paulo, funciona como um museu, onde podem ser vistas obras de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Anita Malfatti, entre outros. Já a Casa da Xilogravura reúne nada menos do que 5 mil obras feitas com essa técnica, de mais de 400 artistas.
Garibaldi (RS)
O turismo rural inclui a Via Orgânica e a Rota do Sabor, passando por propriedades que trabalham com agricultura e recebem os turistas para verem de perto o dia a dia dos descendentes da imigração italiana – e degustar alguns produtos. Recebeu o título de Capital do Espumante porque ali, em 1913, foi elaborada a primeira garrafa da bebida no Brasil. A vinícola se tornou uma das maiores do país e hoje integra a Rota dos Espumantes, junto com outras gigantes do setor e diversas empresas menores, que mantêm o caráter familiar da produção. O centro histórico é um show à parte, com o casario centenário preservado, lembrando uma cidade cenográfica. As ruas têm fiação subterrânea, postes de luz que remetem ao começo do século passado (foto) e diversas opções gastronômicas.