Filas de check-in não costumam ser uma experiência agradável, mas na noite de quinta feira (12) foi diferente. Os passageiros foram recebidos por uma funcionária cabo-verdiana, já se acostumando com o sotaque português que os esperava nas ilhas. No balcão da Cabo Verde Airlines, no aeroporto Salgado Filho, espumante e canapés.
A recepção especial era para comemorar o voo inaugural entre Porto Alegre e a Ilha do Sal, uma das 10 que compõem o arquipélago cabo-verdiano, previsto para sair pouco depois,
às 20h55min. Serão três ligações semanais em cada sentido, deixando a África a menos de oito horas do Rio Grande do Sul.
Na fila, saboreando a bebida enquanto esperavam atendimento, havia muitos gaúchos que tinham como destino final a Europa, um dos alvos da companhia, que tem rotas para Lisboa, Paris, Roma e Milão e planeja consolidar o Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, no Sal, em um importante hub de conexões entre Brasil e Europa. Também era possível encontrar na fila vários imigrantes senegaleses, voltando para uma visita a sua terra, um ou outro com mulher e filho brasileiros (a Cabo Verde Airlines voa para a Capital senegalesa, Dacar, e também para Lagos, na Nigéria).
Os mais animados da fila eram cabo-verdianos que haviam chegado poucas horas antes, no primeiro voo entre o Sal e Porto Alegre, e retornavam para casa carregados de sacolas de lojas brasileiras.
Na hora marcada, a aeronave estava pronta, com todos os passageiros a bordo do Boeing com 182 lugares, mas foi preciso esperar uma hora e meia até que ele levantasse voo. Segundo anúncio do comandante, o atraso ocorreu porque, tratando-se de um voo inaugural, houve demora no plano de voo.
Vinhos nacionais
A viagem de sete horas foi tranquila e contou com vinhos produzidos na Ilha do Fogo, em Cabo Verde. Na chegada, os passageiros puderam apreciar de cima um vulcão se erguendo no meio de uma ilha de resto árida e quase sem vegetação. Ainda que recentemente renovado, o aeroporto local é modesto, com um ar retrô. Não há fingers, então todos os passageiros devem apanhar ônibus até o terminal, de instalações espartanas e dotado de um minúsculo duty free com pouca coisa nas prateleiras – basicamentes bebidas, doces e perfumes.
Ainda que muitos dos passageiros tenham apanhado conexões para outros destinos, outros desembarcaram para conhecer a Ilha do Sal (a Cabo Verde Airlines oferece até sete dias de stopover sem custos adicionais no bilhete). A principal atração da ilha são as praias de água turquesa, abençoadas por tempo bom permanente (é raríssimo chover) e temperaturas variando na faixa perfeita dos 20ºC aos 29ºC em qualquer época do ano.
Até 20 anos atrás, a cidade principal, Santa Maria, era um lugarejo esquecido e sonolento, sustentado por imigrantes cabo-verdianos emigrados nos Estados Unidos. De lá para cá, tudo mudou. Inúmeros resorts de cadeias internacionais foram erguidos ao longo da costa e se enchem de turistas europeus que se refugiam do frio nessa espécie de caribe africano (também já se ouve, à beira-mar, variados sotaques brasileiros, cortesia dos voos que a Cabo Verde Airlines já tem a partir de cidades do Nordeste como Fortaleza, Recife e Salvador).
Hoje, a Ilha do Sal vive do turismo, com uma boa oferta de passeios e atividades e infraestrutura. Um calçadão está em construção ao longo da orla. A "turistificação" também trouxe os tópicos incômodos, como o assédio constante de vendedores, algo inimaginável nos anos 1990, quando os cabo-verdianos espantavam pela inocência no que dizia respeito a tentar arrecadar recursos dos raros forasteiros.
Voo de volta
O retorno do primeiro voo (Ilha do Sol-Porto Alegre) acabou tendo uma escala em Fortaleza (CE) sobre a qual a companhia aérea não tinha uma explicação muito clara, já que ele também deveria ser direto Ilha do Sal-Porto Alegre.
*O repórter viajou a convite da Cabo Verde Airlines