Em um dia ensolarado de verão, quem visitava o Centro de Arquitetura de Chicago tinha apenas de atravessar a movimentada Wacker Drive, entrar em um dos barcos e fazer o tour para conhecer e admirar os símbolos arquitetônicos dispostos de ambos os lados do rio que dá nome à cidade. A bordo, os passageiros apontavam para verdadeiros monumentos como o Edifício Wrigley, em terracota branca, concluído em 1924, e as torres da Marina City, que lembram espigas de milho, de 1967, projetadas por Bertrand Goldberg.
O itinerário altamente instagramável, considerado a principal atração local no TripAdvisor, há tempos é o programa mais popular da ONG antes conhecida como Fundação de Arquitetura de Chicago. Depois de se mudar, no ano passado, para o One Illinois Center, projetado pelo modernista Ludwig Mies van der Rohe, a oito quadras da sede original, a instituição, além de ganhar nome novo, se viu também estabelecida em local de destaque às margens do rio, com uma plataforma para contar a história do design de Chicago e sua influência global.
— Estamos de frente para as docas dos barcos de passeio, no último prédio que Mies projetou no local em que ficava o Forte Dearborn, onde a cidade foi fundada — conta a presidente e CEO Lynn Osmond, enfatizando a centralidade geográfica e histórica do Centro de Arquitetura de Chicago.
A ONG já atraía quase 700 mil visitantes por ano antes de inaugurar o novo endereço – e, com a mudança, deixou de atuar apenas como ponto de partida de passeios de inspiração arquitetônica para incluir uma galeria de quase 840 metros quadrados (antes eram menos de 150 metros quadrados), que está usando para justificar Chicago como a cidade do design, em exposições que abordam desde a conservação de recursos até projetos de arranha-céus em diferentes partes do mundo.
Ao lado da porta principal, há uma maquete de 12 metros de altura da Jeddah Tower, que será erguida na Arábia Saudita, projetada pelo arquiteto local Adrian Smith, e que deverá ser o primeiro prédio do mundo a ter mais de mil metros de altura. O modelo mostra uma estrutura que vai se afunilando conforme se ergue da base, no térreo, para quase tocar o teto do mezanino, na recepção cujo pé-direito tem quase oito metros de altura. A galeria, arejada e bem iluminada graças aos janelões do chão ao teto, onde recentemente se misturavam estudantes de arquitetura e visitantes de Ohio e da Inglaterra, exibe modelos de prédios altíssimos famosos espalhados pelo mundo, incluindo o elegante Chrysler Building de Nova York e o edifício londrino criado por Norman Foster, apelidado de “Gherkin” (Pepino).
— Chicago inventou os arranha-céus, e continuamos construindo os prédios mais altos do mundo, ainda que não só aqui — diz Osmond, referindo-se ao Home Insurance Building, de 1885, considerado o primeiro arranha-céu oficial moderno, mas já demolido, e o Burj Khalifa, em Dubai, o mais alto do mundo, concluído em 2010, criado também por Smith, que na época trabalhava na Skidmore, Owings & Merrill.
Capítulo contemporâneo
A visita começa no térreo, onde mais de 4 mil edifícios compõem uma miniatura tridimensional da cidade, destaque de uma mostra multimídia que ilustra o desenvolvimento urbano. Durante a apresentação, a iluminação dramática tinge o núcleo dos prédios cinza de laranja para ilustrar o incêndio de 1871, que destruiu mais de 17 mil estruturas. De fato, é da tragédia o crédito de atrair os arquitetos que reconstruíram Chicago com uma estética nova do século 20.
Embora estrelas como a torre do 875 N. Michigan Ave., antes conhecida como John Hancock Center, e a Willis Tower sejam grandes atrações da exposição, e arquitetos antigos famosos, incluindo Daniel Burnham e Louis Sullivan, recebam grande atenção, outras exibições se concentram nos projetos de bairro e na arquitetura vernácula em estilos como o bangalô e a estrutura de dois apartamentos (two-flat), para mostrar como a cidade se desenvolveu ao redor da indústria, do planejamento urbano e de recursos naturais como o Lago Michigan.
Depois de entender as forças que geraram o plano urbano de Chicago, Osmond espera que os visitantes “saiam e olhem a metrópole com outros olhos”.
Do ponto de vista prático, a nova sede centraliza as atrações internas e externas oferecidas pelo centro: além das mostras do museu, ele agora é ponto inicial/final de seus inúmeros passeios. São 75 itinerários a pé e 20 de ônibus, bicicleta ou no trem elevado “L”, além dos fluviais, que zarpam do outro lado da rua. As opções de caminhada variam desde a “Must-See Chicago”, com atrações imperdíveis como o Edifício Wrigley, até arranha-céus modernos. A maioria dura, em média, uma hora e meia.
Durante o tour A Arquitetura de Chicago: um Passeio pelo Tempo (US$ 26), Eileen Jacobs começa falando das origens da cidade como posto comercial de peles, no século 17, para rapidamente chegar ao Grande Incêndio que deixou mais de 100 mil desabrigados. Para ela, o advento da construção à base de molduras leves de aço foi visto como solução para “o tipo de solo local horrendo, escuro e molenga, parecido com pudim de chocolate”.
Apesar de nunca se afastar mais do que cinco quadras do centro, a excursão para em um banco de 1928 construído pela firma Rapp & Rapp, que tem um esquilo (squirrel, em inglês) na fachada, referência ao local onde o dinheiro é guardado (squirreled away); o Chicago Motor Club, de Holabird & Root, da era art déco, com murais de época no saguão dentro do que hoje é um Hampton Inn; o Edifício Carbide & Carbon, de 1929, que lembra uma garrafa de champanhe dos tempos opulentos antes da Grande Depressão.
O passeio termina no Vista Tower. Ainda não concluído, mas já revelando sua forma ondulada, o projeto da arquiteta local Jeanne Gang representa um capítulo contemporâneo na história do design da cidade.