Por Elaine Glusac
Excursões, cruzeiros, acomodações compartilhadas, companhias aéreas de baixo custo – tudo isso contribui para a saturação do turismo nas cidades europeias mais disputadas. Mas há lugares que oferecem proteção contra as multidões.
Distantes mais ou menos cem quilômetros uma da outra, Dubrovnik, na Croácia, e Kotor, em Montenegro, são cidades muradas no Adriático. Já faz tempo que Dubrovnik é a estrela croata costeira, atraindo visitantes antes mesmo de se tornar locação para a série Game of Thrones. A atenção de Hollywood, agregada à expansão do setor de viagens marítimas na última década, levou a um número recorde de turistas – na alta estação, cerca de mil moradores se viam sem condições de lidar com 100 mil visitantes por dia. Em 2016, a Unesco alertou Dubrovnik de que seu status de Patrimônio da Humanidade estava em risco, a menos que algo fosse feito para aliviar a pressão. E algo foi feito: criou-se a campanha Respeite a Cidade, que agora limita a 4 mil o número de passageiros dos navios que atracam de manhã e 4 mil à tarde.
Se ainda assim lhe parece um exagero, pense em visitar Kotor. No extremo da baía de mesmo nome (com contornos de fiorde) e cercada de montanhas, a área central da cidade se assemelha à de Dubrovnik, uma fortaleza erguida entre os séculos 12 e 14 lotada de igrejas, cafés e casas com telhados de terracota. A diferença é que, em 2018, recebeu apenas 140 mil turistas (média de 383 por dia).
A principal atração de Kotor é reservada para quem está em boa forma: uma escadaria de pedra rústica que leva ao topo da montanha que traça um muro protetor para a Fortaleza de São João, um bom lugar de onde observar o sol se pôr sobre a baía. Uma trilha com cerca de 70 zigue-zagues chega a 914 metros morro acima.
Na cidade, os padres ortodoxos papeiam com os fiéis na porta das igrejas e gatos carismáticos tomam conta das ruas de paralelepípedos (tem até um Museu do Gato). Passeios de barco levam os visitantes à Nossa Senhora das Pedras, igreja situada em uma ilhota da baía. De volta ao centro, admirar a arquitetura da área, que inclui a torre do relógio construída em 1602, é um bom passatempo a qualquer hora da noite ou do dia.
Após o sol se esconder, peça uma mesa no pátio do Bastion, ao lado do portão norte, para saborear frutos do mar. A seguir, volte pelo portão principal, passando por vielas e praças também tomadas por felinos, crianças jogando bola e marinheiros bebendo cerveja Niksicko Pivo.
Em vez de Barcelona, Valência
Por Andrew Ferren
Não se sabe qual será “a próxima Veneza” – cidade italiana que sofre na pele com o excesso de turistas –, mas Barcelona, com 1,6 milhão de moradores e cerca de 30 milhões de visitantes ao ano, certamente é uma das candidatas mais sérias.
Para experimentar uma dose de charme mediterrâneo cosmopolita menos frenético, siga mais 350 quilômetros pela costa até Valência, a terceira maior cidade da Espanha, com 800 mil habitantes e 2 milhões de visitantes ao ano. Fundada para ser uma comunidade de soldados romanos aposentados, ela tem muitos atributos de Barcelona, como um centro amplo, semelhante a um labirinto, com uma mistura dos estilos gótico, românico, renascentista e barroco – e todos, aliás, se mesclam na catedral da cidade, erguida entre os séculos 13 e 18. Não perca o Mercado da Seda, do século 15, considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Circundando o centro, há parques no espaço que já foi o Rio Turia, desviado nos anos 1950 após enchentes terríveis. Em uma das extremidades, fica a Cidade das Artes e Ciências, com uma casa de ópera de ares alienígenas, um museu de ciências e o maior aquário da Europa, todos projetados por Santiago Calatrava.
Estruturas modernistas do século 20, os mercados Central e Colón estão entre os mais belos da Europa. Bairros mais agitados, como El Carmen e Russafa, atraem tipos criativos de todo o continente, e consequentemente estão lotados de galerias, cafés e arte de rua estimulante.
Berço da paella, a região é conhecida como “a horta da Espanha”. Para uma refeição digna de reis, vá ao Saiti, de Vicente Patiño, ou ao Ricard Camarena Restaurant, dono de duas estrelas do Guia Michelin.
E, em uma cidade com mais de 300 dias de sol por ano, as praias são um estilo de vida. O porto construído para a competição de vela America’s Cup, em 2007 e 2009, e o Las Arenas Resort & Spa levaram a uma revitalização de luxo.
Em vez de Florença, Luca
Por Ingrid K. Williams
Em matéria de arte e história renascentistas, Florença, na Itália, é incomparável. Casa do Davi de Michelangelo, das galerias Uffizi e da cúpula de Brunelleschi, a capital toscana é lotada de obras-primas artísticas e arquitetônicas – e de turistas. Em 2018, mais de 10 milhões deles passaram pela cidade, cuja população é de 380 mil.
Se você quiser conferir a glória da Renascença com um pouquinho mais de espaço para respirar, escolha Luca, 80 quilômetros a oeste. Situada às margens do Rio Serchio, talvez seja mais conhecida pelas muralhas bem preservadas que cercam a cidade. A fortificação renascentista mais tarde se transformou em parque público, uma trilha elevada de quatro quilômetros com vista para rampas verdejantes e telhados de terracota.
Sob as fachadas fotogênicas há também tesouros culinários e culturais. No cardápio, massa fresca com ovos e ragu de coelho – ou, melhor ainda, trufas de verão – e o bolo com passas conhecido como buccellato. A música também é componente central dessa cidade intelectual, berço de Puccini. Em homenagem ao compositor, todas as noites há concertos na Igreja de San Giovanni, de março a outubro, que variam de recitais intimistas a apresentações com orquestras inteiras. No verão, a Piazza Napoleone vira palco do Festival de Verão de Luca, que, neste ano, contou com Janelle Monáe, Elton John e Sting.
O verdadeiro apelo de Luca, porém, está nos prazeres cotidianos – no primeiro bocado do gelato de nozes da Cremeria Opera; na brisa fresca que bate no rosto enquanto se pedala uma bicicleta alugada sobre as muralhas; no aperitivo de começo de noite na Piazza San Michele, onde a visão da magnífica Igreja de São Miguel no Fórum, com seu campanário do século 12, convida a um segundo Campari spritz. Está também em um simples prato de tordelli lucchese, a massa recheada de carne servida com ragu que consta do cardápio de toda trattoria; na passeggiata noturna ao longo das antigas vielas de pedra; no início da manhã no topo da Torre Guinigi, do século 14.
Em vez de Santorini, Tinos
Por Liz Alderman
O pôr do sol luminoso em Oia, na ponta setentrional da ilha de Santorini, na Grécia, tornou-se um dos eventos mais “instagramáveis” do mundo: a bola de fogo alaranjada afundando atrás do horizonte azulado; o céu espelhando um brilho perolado; nuvens cor-de-rosa tingindo as paredes caiadas de um vilarejo encarapitado em um despenhadeiro vulcânico. É um momento mágico... tirando os milhares de corpos suados que entopem as ruazinhas estreitas, braços estendidos para registrar a cena perfeita.
Uma Grécia mais sossegada você acha em Tinos, no arquipélago das Cíclades, a meia hora de Mykonos. Pontilhada por vilazinhas escondidas no interior para protegê-las dos piratas, a ilha é composta de uma rede de casinhas do século 18 empoleiradas nas encostas e acima das ravinas. A igreja Panagia Evangelistria, na capital, Chora, construída ao redor do que dizem ser um ícone milagroso, é destino de peregrinos do mundo todo.
Enquanto Santorini tem um vulcão, Tinos, com sua serra e formações rochosas incomuns, é reconhecida pelo mármore branco puro usado na construção de casas, arcos, ruas, igrejas e chafarizes. No centro da ilha, fica a paisagem sobrenatural de Volax, com rochas imensas espalhadas por toda parte, algumas da altura de pequenos prédios. Na Grécia antiga, Tinos era conhecida como a casa de Éolo, o rei dos ventos, que castigava as montanhas e criava esculturas gigantescas no granito escuro. Pyrgos, no extremo norte, é cheia de ateliês de escultores, trilhas pitorescas e entalhes em mármore emoldurados por pés de buganvília rosa-choque.