Se tivesse filhos, faria uma promessa a eles: um dia, os levaria a Valência, na costa leste da Espanha, a cidade que permite que qualquer pessoa, de qualquer idade, volte a ser criança. Valência requer coragem de não se ter medo de simplesmente sentir.
Este é um bom destino em qualquer época do ano, mas, no verão, é especialmente bonito. Ruas largas e modernas margeadas por prédios antigos – mesclando janelas desenhadas por metais retorcidos e balcões – são cortadas por ruelas de pedra que acabam nas praias ou no rio.
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Em dias quentes, como os que fazem em julho, os termômetros podem até chegar aos 40°C, mas o vento quebra o calorão e a brisa invade o centro histórico, onde ficam os charmosos bairros El Carme e Ciutat Vella. É bem comum, a qualquer hora do dia, ver gente caminhando em direção à praia levando nos braços (ou na cintura ou na cabeça) boias daquelas bem clássicas.
Na dúvida sobre por onde começar a desbravar a cidade, siga quem vai à praia – afinal, o sol só deixa de brilhar por volta das 22h no verão. Nessa época, uma empresa instala uma grande roda-gigante à beira-mar. Ver o sol se pôr lá de cima faz os 10 euros (R$ 36) investidos parecerem pouco frente ao espetáculo.
Mas o melhor de Valência é a cidade construída pelos arquitetos Felix Candela e Santiago Calatrava (o mesmo do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e do World Trade Center Transportarion Hub, em Nova York).
A Ciudad de las Artes e las Ciencias é um complexo de cultura e entretenimento que surpreende. E por mais que se diga o quanto é magnífico, só se tem ideia da grandiosidade ao chegar lá.
O primeiro maravilhamento é com o Palau de les Arts Reina Sofía que, por si só, já é uma obra de arte. Ao lado, a maior sala de cinema da Espanha, o Hemisférico, que se dedica a projeções astronômicas. Em seguida, o interativo Museu das Ciências, em que se tem contato com experimentos sobre a evolução da vida (da biologia à engenharia) e o Umbracle, um gigantesco e impressionante jardim. Na sequência, destaca-se o azul da Ágora, um grande centro de convenções e afins. E, por fim, o lugar que faz o coração parar. Diante do Oceanográfico, é impossível não voltar à infância.
O maior aquário da Europa
Cada parte do Oceanográfico de Valência tenta dar conta de um ambiente aquático: o Mediterrâneo, as zonas úmidas, temperadas e tropicais, os oceanos, o polos e o Mar Vermelho. Siga o roteiro sugerido na entrada do local, você não vai se arrepender.
O final do primeiro prédio leva a um grande corredor que dá a impressão ao visitante de que ele faz parte do grande aquário. E, dali em diante, adultos e crianças se misturam, se perdem, se encontram, se abraçam felizes pelo contato íntimo com a vida marinha.
O mais legal é, em dado momento, descobrir que o propósito do Oceanográfico não é só entretenimento, mas educação. O lugar produz pesquisas científicas, junto à Universidade de Valência, e cuida de animais que sofreram com a ação do homem.
Como uma criança, confesso que corria de um lado ao outro, pulava de emoção com um novo ambiente, apontava, ria, chorava e ansiava pelo momento de encontrar os tubarões. E é no ponto 14 do mapa (são 26 ambientes), que se dá o encontro com esses animais, no maior aquário do lugar.
Há três formas de combinar a entrada no Oceanográfico. O ingresso normal, em 2016, custa 28,50 euros (cerca de R$ 103). Se você quiser conhecer também o Hemisférico e o Museu das Ciências, o valor é de 36,90 euros (cerca de R$ 133).
Sugestão: dedique um dia inteiro ao Oceanográfico. Abre às 8h e, entre julho e setembro, fecha às 21h. Nessa época, também há uma programação especial para mais tarde ainda, como o "dormir com tubarões". Só ficar ligado.
Valência para comer
A cidade não é lugar de junkie food. Você até pode encontrar um ou outro restaurante que oferece comida desse tipo, mas a oferta de lugares que fazem o turista querer sentar e contemplar as ruas e as pessoas é tão melhor. Há opções para todos os bolsos. Para o café da manhã, saiba que Valência desperta um pouco mais tarde. Só vale a pena sair cedo de casa se for para ir à Cidade das Artes e das Ciências. Caso contrário, o movimento começa só pelas 9h. Parar em um café e pedir um pão com tomate e azeite de oliva é a melhor forma de iniciar o dia.
Quem vai a Valência precisa experimentar uma bebida típica do lugar: a horchata, feita com uma espécie de tubérculo produzido só naquela região. Você encontra em qualquer lugar por diferentes preços, mas o mais clássico é a Horchataria Santa Catalina, que, como anuncia a fachada, tem dois séculos de tradição.
A paella valenciana é diferente da que se pede em Madri ou Barcelona, mas é deliciosa. Comer em Valência, aliás, não é caro. Facilmente se encontra um bom restaurante que oferece o prato típico por entre 10 e 15 euros por pessoa na região histórica – à beira-mar, o preço é um pouco mais salgado.
À noite, vários restaurantes, assim como na capital espanhola, oferecem uma espécie de rodízio de tapas. Vale muito a pena conhecer, na Ciutat Vella, o Lizarran, uma cervejaria típica valenciana, e o L'angolo der Grillo, pequena pizzaria em estilo romântico.
Valência para se movimentar
Prepare as pernas, porque Valência não é uma cidade para conhecer de carro. Aproveite o tram, o metrô e, principalmente, as bicicletas. Dá para alugar aquelas tipo BikePoa ou em locais especializados. O preço é parecido, mas nessas lojas há mais flexibilidade em relação ao tempo que se fica com a magrela.
A cidade parece ter sido planejada para privilegiar primeiro os pedestres, depois os ciclistas e, em seguida, os motociclistas. Os veículos maiores respeitam muito essa hierarquia, e se tem a sensação de que, sim, é possível viver em um lugar com mobilidade civilizada. Deve ser um lugar maravilhoso para se morar.
Ainda assim, não dispense caminhar, sem hora para voltar, pelos Jardins do Túria. O parque foi planejado ao lado e sobre o Rio Túria. Antigamente, a área era marginalizada. Em 1957, Valência viveu uma grande enchente que causou a morte de uma centena de pessoas. Um ano depois, a ideia de modernizar o lugar foi tirada do papel. Mais do que resolver o problema da segurança, os nove quilômetros dos jardins se transformaram em um ponto turístico e no pulmão da cidade. Para as crianças (grandes e pequenas), há brinquedos. Um deles em formato (enorme) do boneco de Gulliver (inspirado mesmo no livro As viagens de Gulliver).
Na Ciutat Vella, não deixe de visitar o Mercado Central, o maior da Europa dedicado a produtos frescos.
Não deixe de fora
O milenar barrio El Carmen: bom para percorrer a pé e comer. O lugar é cercado por duas muralhas, a muçulmana e a cristã, e por ruazinhas que parecem labirintos.