Ponto ocidental mais extremo da África, Dacar é uma paisagem cosmopolita no deserto que avança rumo às águas verdes do Oceano Atlântico. Com seus micro-ônibus de tons berrantes, barcos de madeira e moda bem colorida, a capital do Senegal é um paraíso descolado. Os homens, de roupa de borracha até a cintura e prancha de surfe debaixo do braço, zanzam pela rua, indo ou voltando da praia; as mulheres, com ares de sereia, vendem sanduíches recheados de ovos, batata frita e lentilhas que não deixam nada a dever aos food trucks mais hipsters de Nova York. O que não falta são bares de cobertura e restaurantes, e os estabelecimentos à beira-mar também oferecem poças de maré e espreguiçadeiras para quem quiser tomar sol. Com quase seis meses por ano de dias ensolarados e noites fresquinhas, a cidade é uma das mais confortáveis da região. A cultura de hospitalidade senegalesa, conhecida como "teranga", reforça o clima de simpatia – e não se espante se algum morador o convidar para compartilhar uma refeição ou tomar uma xícara de café touba, temperado com pimenta e cravo-da-índia.
Sexta, 14h
Pegando onda
Comece a viagem em um dos points mais badalados do surf mundial, com um mergulho e uma aula na École Surf Attitude. A aula particular, que custa 25 mil francos CFA, ou cerca de US$ 43, dá direito à prancha e à roupa de borracha, de que você certamente vai precisar entre dezembro e maio. Os professores, bem animados, vão ajudá-lo a dominar as ondas do mar bravio, explorando a amplidão da Yoff Beach ou a costa da ilhota de Ngor, respeitando sempre seu nível de habilidade, as marés e a previsão do tempo. A aula começa na areia, com alongamento e aquecimento. O curso é ótimo para iniciantes e até crianças pequenas, que aprendem a se equilibrar na prancha e pelo menos pegar uma onda ou duas. É preciso reservar com antecedência.
17h
Ao pôr do sol
Tome uma chuveirada na ducha externa do restaurante Chez Fatou e se acomode para provar alguns aperitivos e beliscar os amendoins produzidos localmente enquanto observa os surfistas dominando as ondas. A parte externa do estabelecimento oferece a vista perfeita das marolas violentas que banham a cidade, em meio aos rochedos pontiagudos. O bartender faz um Moscou Mule forte, carregado no gengibre, para os adultos; já o mojito virgem é sucesso entre a criançada. Admire as cores do fim de tarde se espalhando pelo céu com um "bissap", a bebida local feita a partir de flores de hibisco, ou o smoothie de baobá, chamado bouye. Os drinques alcoólicos saem, em média, por 5 mil francos CFA.
18h
Peixe grelhado
Antes de o sol se pôr completamente, dispense as crianças, entre em um dos muitos táxis disponíveis por toda parte e peça ao motorista que o leve à Terra Mágica. No estacionamento, de frente para o parque de diversões esquisitão, vá para a direita e passe entre os prédios até chegar a uma prainha muvucada, onde se vendem os melhores peixes do continente, e basta apontar para a sua preferência que ela será preparada na hora. O "thiof", espécie de garoupa branca, é muito saboroso, servido com molho de cebola com fritas e salada. A escuridão vai cair enquanto você estiver sentado à mesa de plástico bamboleante nessa praia que de impecável não tem nada, mas que oferece uma vista sensacional, e ainda é povoada por alguns gatos. A refeição para duas pessoas sai por 15 mil francos CFA, mas o preço é negociável. Se preferir algo mais requintado, vá a um dos restaurantes do luxuoso Terrou-Bi Hotel para apreciar os pratos da cozinha europeia ou algumas amostras da gastronomia local ao lado de uma piscina infinita bem-iluminada, tendo o mar como pano de fundo.
22h
Dançando no escuro
Se quiser dançar com o pessoal local, prepare-se para ficar acordado até altas horas: na maioria das casas noturnas, a balada não começa antes da meia-noite, fato ainda mais impressionante quando se pensa que muitos dacarenses não consomem bebida alcoólica. Se você for corujão, vá para o Le Vogue, onde poderá se perder em meio à fumaça exalada pelos narguilés (que aqui se chamam shisha) até o público descer para a pista de dança lá pelas duas da manhã. Se preferir encerrar a noite mais cedo, passe pelo La Calebasse, restaurante onde a música geralmente começa por volta das dez. O Le Vogue não cobra couvert às sextas.
Sábado, 10h
Hora do café
O Lulu Café é um dos poucos lugares da cidade que servem um expresso decente. O café da manhã inclui doces, frutas e iogurte caseiro, ou omelete com batatas e legumes refogados. A versão completa custa 8.200 francos CFA. Dê uma espiada nos livros de intelectuais senegaleses nas prateleiras, como Boubacar Boris Diop, ou dê uma volta na loja ao lado, onde pintores e artesãos locais vendem mochilas, tapetes, espelhos e mesinhas. Há também uma seção de brinquedos exclusivos e móveis recobertos com tecidos coloridos e divertidos, onde dá até para escrever, e que dão um charme a mais para o quarto dos pequenos.
11h
Manhã no museu
Siga para o centro para visitar a mais nova atração do continente, e também a mais impressionante: o Museu das Civilizações Negras. Situado em um prédio moderno construído por chineses, oferece uma seleção variada de peças, incluindo ferramentas de tempos pré-modernos e obras de arte e esculturas de temas pós-modernos. A coleção pode até parecer meio aleatória, mas funciona, principalmente as fotos e esculturas de ferro dos artistas da África Ocidental homenageados durante a Bienal de Dacar. Não perca. Entrada para os adultos, 2 mil francos CFA; criança paga 500 francos CFA.
13h
Almoço nas docas
Almoce no Le Lagon 1, nem que seja só para conferir a decoração do salão, verdadeira réplica de um barco de luxo em pleno alto-mar – e que, aliás, poderia bem servir de cenário para uma sequência de "A Vida Marinha com Steve Zissou". Localizado em uma doca comprida, é decorado com todo tipo de objeto de inspiração marinha dos anos 70. No cardápio, muito camarão, frutos do mar e peixe. O almoço sai, em média, por 9.400 francos CFA. Leve roupa de banho para explorar a praia particular depois, ou alugar um caiaque logo ao lado, na Oceanium.
15h
Comprando lembrancinhas
Vale escolher um corte de tecido e receber uma peça feita sob medida; as estampas mais populares são de pássaros.
Vá à feira Soumbédioune, onde você terá de se desviar dos pescadores e suas pirogas para chegar às barraquinhas com seus tesouros: entalhes, bijuterias e pinturas sob o vidro (especialidade local). Vale escolher um corte de tecido e receber uma peça feita sob medida; as estampas mais populares são de pássaros. Não se esqueça de que a ordem ali é pechinchar, ou seja, nem pense em pagar mais de 2.500 francos CFA por uma sacola de viagem, por exemplo.
20h
Jantar de cobertura
O hotel butique Le Djoloff tem um cardápio escrito na lousa, que muda toda noite, mas geralmente inclui porções pequenas de frutos do mar para dividir ou, como quando estive por lá, abóbora refogada. A bebida que leva o nome da casa (goiaba, gengibre e bissap) sai por 3 mil francos CFA; já a versão alcoólica tem suco de limão, vodca, gengibre e uma substância misteriosa que deixa a bebida azul e custa 5 mil francos CFA. No térreo, The Cave oferece uma noite de jazz em um espaço aconchegante. É bom fazer reserva.
Domingo, 9h
Café da manhã na padoca
Faça como o pessoal local e entre na fila da Graine D'Or, uma padaria divina com fileiras e mais fileiras de delícias para todos os gostos, incluindo pães de passas, sonhos, croissants levinhos, baguetes de todo tipo e um pain au chocolat perfeito. Nas datas especiais, Papais Noéis e coelhinhos de chocolate – essa sociedade muçulmana tolerante adora os ícones cristãos. Prepare o farnel para um piquenique e pegue um táxi para a próxima parada. Uma baguete crocante sai por apenas 400 francos CFA.
10h
Explorando a ilha
A Isle des Madeleines é uma ilha/parque nacional próxima da costa, com enseadas verde-esmeralda e contornos rochosos. Um guia o acompanhará – a ninguém é permitido zanzar na ilha sozinho – a partir do barquinho de madeira, com direito a coletes salva-vidas. Com exceção de uns poucos baobás anões, de contornos estranhos, a ilha é desabitada. Lembrancinhas, dinheiro e leite são oferendas deixadas para o espírito que supostamente vive dentro de uma das árvores. Nas pequenas poças de maré, veem-se estrelas-do-mar e polvos transparentes, o que as tornam mágicas para as crianças. A taxa de admissão sai por mil francos CFA; o guia e a piroga custam 9 mil francos CFA/grupo.
Meio-dia
Brunch no farol
O Farol Mamelles, um restaurante e clube localizado na base de um farol, oferece uma das melhores vistas da cidade. Dá inclusive para explorar a estrutura antes de se deliciar com o café da manhã que inclui pães e doces, suco de frutas, ovos e batata frita. Para sentir a ventarola lá no cume, pegue a van do restaurante. O brunch sai por entre 8.500 e 17.500 francos CFA. (Nos fins de semana há bailes no farol, começando às dez da noite, para um público de expatriados.)
Onde ficar
O ultramoderno Radisson Blu está ligado ao único centro de compras da cidade. Por estar localizado na costa, oferece a oportunidade de longas caminhadas ou corridas bem na frente da entrada, onde o pessoal local pratica em peso no finzinho do dia. Sua piscina enorme, aliás, é cenário perfeito para um coquetel noturno ou dois. Diárias dos quartos duplos a partir de 150 mil francos CFA nos fins de semana.
A qualidade dos Airbnbs varia drasticamente em Dacar, onde muito se promete, mas pouco se cumpre; porém uma opção garantida são os quartos da adorável Loman Art House Villa, cujos quartos espaçosos se estendem aos espaços cheios de obras de arte. Além disso, oferece uma belíssima piscina, cercada por uma escultura intrincada de metal criada pela artista que é dona do lugar. E ela pode até deixá-lo usar sua cozinha enorme e bem decorada para preparar suas refeições. Diárias a partir de US$ 75.
Por Dionne Searcey