Do alto, Copenhague parece uma construção feita de Lego, o mais famoso brinquedo dinamarquês. Os telhados avermelhados e os prédios baixos chamam atenção nesta cidade horizontal, repleta de canais e pontes, e onde um dos principais meios de transporte é a bicicleta – inclusive, para a realeza.
A capital da Dinamarca foi escolhida pela editora de guias de turismo Lonely Planet para encabeçar a lista das melhores cidades para se visitar em 2019. Com cerca de 2 milhões de habitantes, Copenhague fica na ilha de Zelândia, a mais populosa do país, que tem mais de 400 ilhas, sendo somente cerca de cem delas habitadas. A época ideal para viajar à cidade é o verão europeu, quando os jardins estão verdes e floridos e a temperatura é amena.
O destino costuma ser incluído em roteiros em conjunto com outros países nórdicos, como Noruega e Suécia. Embora haja atrações para vários dias, 48 horas é tempo suficiente para conhecer as principais atrações.
Mesmo pertencendo à União Europeia, a Dinamarca não utiliza o euro. A moeda oficial é a coroa dina-marquesa, que equivale a cerca de R$ 0,57. Ainda assim, Copenhague não é barata, mas há opções “menos caras”, como observou a guia argentina que me conduziu em um walking tour em espanhol. Aliás: essa é uma boa dica para economizar. Nesses roteiros, guias credenciados e preparados (que geralmente usam a atividade para ter uma renda extra) se dispõem a mostrar a cidade aos turistas ao longo de cerca de duas ou três horas, a pé, geralmente pelo centro antigo. No final, o viajante paga o que achar justo. É uma forma econômica de explorar o destino e já recolher dicas preciosas.
Depois que se tem uma noção da cidade e com um mapinha em mãos, é bastante fácil percorrer Copenhague. Se você não se importar em caminhar, pode visitar quase todas as principais atrações a pé, pois não ficam muito distantes umas das outras.
Outra opção é alugar uma bicicleta, meio de transporte superutilizado pelos dinamarqueses e que tem o uso incentivado pelo governo. Foi fixado o objetivo de que ao menos 40% dos moradores se desloquem ao trabalho de bicicleta. Atualmente, a marca é de 36%. Mas a bicicleta é usada, ainda, para todas as atividades cotidianas, como ir à escola, fazer compras e até ir a festas. Todos os dias, as pessoas percorrem de bicicleta 1,1 milhão de quilômetros em Copenhague.
Os free walking tours, de diferentes empresas e também em inglês, partem várias vezes ao dia da Rådhuspladsen, em frente à prefeitura, que tem um campanário em estilo italiano. O local fica bem próximo à estação central de ônibus e trens e pertinho dos famosos jardins de Tivoli, construídos em 1843, e que constituem o segundo mais antigo parque de diversões do mundo.
O lugar é famoso por ter servido de inspiração a Walt Disney para construir seu megacomplexo na Califórnia e abriga o carrossel mais alto do mundo, com 80 metros. Porém, o brinquedo mais popular é uma montanha-russa de 1914 com carrinhos de madeira.
A entrada no Tivoli custa 120 coroas dinamarquesas e, fora isso, é necessário pagar separado para andar em cada brinquedo. No local, também há jardins, restaurantes e quiosques. Além disso, em datas especiais, é decorado de forma temática, como no Halloween.
Seguindo em direção à cidade antiga, fica Strøget, o maior calçadão de lojas da Europa, com 1,1 quilômetro de extensão e estabelecimentos de marcas caras e famosas, mas também com quiosques de suvenires. É ali que fica a principal loja da Lego na capital dinamarquesa. Essa rua foi transformada para impedir a passagem de veículos em 1962, virando inspiração para outras cidades pelo mundo.
Casas coloridas
Principal cartão-postal de Copenhague, Nyhavn, o porto novo, com suas casinhas coloridas, é repleto de bares e restaurantes. Por ser o ponto mais popular da cidade, os preços são bem salgados, mas nada impede que você compre bebidas e lanches em um supermercado próximo e curta um belo piquenique à beira do canal, como os moradores costumam fazer.
Os restaurantes caros de hoje nada lembram a antiga reputação do local, construído por soldados em 1670 para possibilitar que navios descarregassem mercadorias no centro da cidade.
No século 19, após o apogeu do porto, com as guerras napoleônicas, Nyhavn entrou em declínio, com restaurantes e hotéis de baixo nível, além de bordéis. Em três casas da região, viveu, por mais de 20 anos, o escritor Hans Christian Andersen, famoso por contos como A Pequena Sereia e O Patinho Feio.
É de Nyhavn que partem os passeios de barco mais populares, que custam entre 50 e 80 coroas e duram cerca de uma hora. As partidas ocorrem a cada 30 minutos, e o trajeto passa por pontes baixinhas e casas-barco. O pôr do sol a bordo é incrível.
A realeza
A casa real dinamarquesa é a mais antiga da Europa, com origem na civilização viking, e segue sendo muito admirada pela população. Não raro, os nobres são vistos pelas ruas em atividades cotidianas. Diversas vezes, a princesa Mary, casada com o príncipe herdeiro Frederico, foi fotografada levando os filhos de bike para a escola – mesmo com neve. Uma curiosidade é que, desde os anos 1500, os nomes dos herdeiros do trono se alternam entre Cristiano e Frederico. Por isso, grande parte dos monumentos e dos palácios tem esses nomes.
Diferentemente de outras capitais europeias, não espere encontrar em Copenhague dezenas de prédios com mais de 500 anos e construções suntuosas. Dois grandes incêndios no século 18 consumiram quase todos os prédios da era medieval. As novas construções são grandiosas e impressionantes, mas bem menos luxuosas do que as de outras monarquias.
Atualmente, a família real mora no palácio de Amalienborg. Tratam-se de quatro edifícios dispostos em uma praça octogonal, com a estátua do rei Frederico V ao centro. Cada um dos quatro edifícios foi construído para um nobre, mas, após um incêndio em 1794, passou a ser a residência da realeza.
Ao meio-dia, é possível assistir à troca da guarda real de graça. Em frente ao palácio, fica a Igreja de Mármore, com a maior cúpula dos países da Escandinávia. A igreja começou a ser construída em 1749, mas foi concluída apenas em 1894 –145 anos depois.
Outro local utilizado pela realeza é palácio de Cristiansborg, cujo prédio principal atual só foi construído em 1928. Porém, o pátio original, em forma de ferradura, é do século 18. Outros dois palácios com o mesmo nome ficavam ali, mas foram destruídos por incêndios, em 1794 e 1884. Hoje, a família real usa as salas de estar para receber visitas oficiais, e o local abriga o parlamento e a Suprema Corte. Da torre principal, é possível ter uma vista panorâmica da cidade – o acesso é gratuito.
As joias da coroa estão no castelo de Rosenborg, onde se encontram milhares de objetos reais. É uma construção renascentista, de 1606, idealizada para ser residência de verão da família real. É possível visitá-lo, mas caminhar pelos jardins de seu entorno já vale o passeio. Bem pertinho dali, está o Jardim Botânico, com um imenso borboletário.
A Pequena Sereia
Uma estátua às margens de um canal é um dos locais que atrai o maior número de turistas: A Pequena Sereia. Feita em bronze, em 1913, foi presente do fundador da cervejaria Carlsberg, Carl Jacobsen. A estátua, do escultor dinamarquês Edvard Eriksen, representa a personagem principal da fábula de Hans Christian Andersen e retrata a sereia pensativa, sentada em uma pedra, observando o estreito de Øresund. Os passeios de barco possibilitam vê-la de outro ângulo.
Perto dali, está Kastellet, cidadela em forma de estrela de cinco pontas, cercada de água por todos os lados. Datada de 1626, foi reconstruída em 1663 após um ataque sueco. É uma das fortificações mais preservadas da Europa e conta com dois portões de acesso, ao norte e ao sul. Dentro da fortaleza, estão edifícios ainda em uso pelos militares, um moinho do século 19, canhões antigos e muita área verde.
Arquitetura moderna
Em Copenhague, os prédios históricos dividem lugar com construções modernas. Nessa cidade, passado e presente convivem de forma harmoniosa. Exemplo disso é a Biblioteca Real da Dinamarca. O novo prédio, inaugurado em 1999 e conhecido como Diamante Negro, pelos vidros escuros e granito importado do Zimbábue, é ligado por pontes ao antigo prédio, datado de 1906. Outra grandiosa obra construída nesse século é a Opera House, que custou mais de US$ 450 milhões. Ela foi um presente de A.P. Moller, cofundador de Maersk, uma empresa de transporte marítimo. A construção começou em 2000 e durou seis anos.
Um dos melhores lugares para observar a ópera é da outra margem do estreito de Øresund, próximo ao Amaliehaven (Jardim Real), inaugurado em 1983 e que fica entre o porto e o palácio de Amalienborg. Antes da casa de ópera, os espetáculos eram realizados no Teatro Real da Dinamarca, de 1872, que fica em frente a Kongens Nytorv, a Praça Nova do Rei, criada há mais de 300 anos.
Bairro Christianshavn
Um dos lugares mais fascinantes e diversos de Copenhague é o bairro de Christianshavn, que completa 400 anos em 2018. Por seus canais, circulam os passeios turísticos de barco, lembrando muito a atmosfera de Amsterdã, na Holanda, mas com suas peculiaridades. Nele, está a Igreja de Nosso Salvador, com uma escadaria externa de mais de 400 degraus no pináculo espiral, anexado à igreja em 1749. Subir até o topo é uma tarefa para corajosos, compensados com uma vista fenomenal.
Contrastando com os antigos prédios coloridos, está a novíssima Cirkelbroen (ponte do círculo), inaugurada em 2015, exclusiva para pedestres e ciclistas. Seu design, inspirado em navios, celebra a história marítima local.
É nesse bairro que fica também a mundialmente conhecida cidade livre de Christiania. Herança da era hippie, foi fundada em 1971 por pessoas que invadiram uma antiga área militar abandonada com o sonho de construir uma sociedade livre e alternativa. O governo preferiu não criar conflito e não desocupou a área. Hoje, cerca de mil pessoas vivem no local, que tem suas próprias leis e é autogerido. É possível visitar Christiania, que conta com bancas de artesanato, lojinhas, restaurantes e até fábrica de bicicletas.