A Bolívia foi o primeiro destino das minhas últimas férias, em julho – apesar dos olhos arregalados das pessoas que ficavam sabendo do meu roteiro. É um país que ainda pouco entra na rota dos brasileiros, mas vale muito a pena pensar com carinho em visitá-lo.
Sim, é uma região pobre e muito simples, mas, por lá, encontrei um povo alegre e carismático, sempre disposto a ajudar. Isso sem falar nas belezas naturais exuberantes, que garantem uma paisagem rara aos nossos olhos. Uma mistura de deserto, com montanhas nevadas, lagos e formações rochosas curiosas.
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Foram três dias em La Paz, capital da Bolívia, e dois em Uyuni, no sudoeste do país, onde está localizado o Salar, uma das principais atrações turísticas bolivianas. É um destino barato e que impressiona pela multiculturalidade. Para montar seu próprio roteiro, aí vão algumas dicas.
PASSEIOS EM LA PAZ
Três dias em La Paz são suficientes para conhecer os principais pontos turísticos da região. Alguns são dentro da própria cidade e, outros, nos arredores.
Centro Histórico
Programei-me para conhecer as principais atrações do Centro Histórico no meu primeiro dia em La Paz. Com muito chá de coca – tem por todo lado –, ignorei a altitude de 3,6 mil metros e fiz todo o caminho a pé, o que me rendeu um dia mais cansativo do que o normal, ainda mais nas subidas e descidas das ruas de lá.
No mesmo passeio, é possível conhecer pelo menos cinco locais diferentes. A Plaza Murillo é a praça principal, rodeada pela Catedral Metropolitana e pelo Palácio do Governo. Se estiver a pé como eu, a melhor coisa a fazer será sentar em um dos bancos ou nos degraus de uma escadaria e ficar observando o movimento dos bolivianos até recuperar o fôlego. O local tem muitas pombas, e um dos programas dos moradores é alimentá-las com grãos de milho.
Descendo algumas ruas (para baixo todo santo ajuda), é possível chegar à Igreja e Convento de São Francisco, principal construção da época colonial em La Paz – e a mais imponente, talvez. A algumas quadras dali, fica o tradicional Mercado das Bruxas. São ruas com lojas esotéricas, que vendem desde amuletos e ervas medicinais a simples suvenires. Causa um certo estranhamento de início, mas vale a visita para, especialmente, conhecer um pouco mais dos costumes locais.
Mirador Killi-Killi
Se estiver passeando pelo Centro Histórico, o Mirador Killi-Killi fica algumas quadras para cima. É o principal de La Paz e garante uma vista incrível da cidade inteira e das montanhas nevadas ao redor. Não ouse, como eu, subir todo o caminho a pé no primeiro dia de altitude.
É mais fácil, e bem menos cansativo, pegar um táxi. Vá por mim – cheguei a pensar várias vezes que poderia estar sedentária demais, mesmo sabendo que isso não influi muito no fôlego. O fato é que, depois de várias paradas pelo trajeto – algumas delas simplesmente sentada no cordão da calçada –, cheguei ao mirador e tudo valeu a pena. O vento lá em cima é mais forte, e a vista para La Paz realmente renova a alma.
Monte Chacaltaya
Apesar de estar a apenas 30 quilômetros de La Paz, chegar ao topo do Monte Chacaltaya leva pelo menos uma hora e meia de van. A estrada até lá é íngreme e estreita, além de boa parte ser de chão batido. Então, prepare-se para o frio na barriga ao olhar pela janela.
A região costumava dar lugar à estação de esqui mais alta do mundo, a cerca de 5,4 mil metros de altitude, mas, com as mudanças climáticas dos últimos tempos, ela foi desativada – hoje, não há neve suficiente para a prática do esporte. De qualquer forma, ainda é possível visitar o local.
Você pode comprar o passeio em qualquer hotel – costuma ser vendido em conjunto com o tour pelo Valle de la Luna, ponto turístico bem ao sul de La Paz. A van leva o grupo até a base da estação desativada, mas de lá ainda faltam 200 metros para chegar ao cume, trajeto que é feito a pé por aqueles que querem se arriscar. Acho que levei uns 45 minutos para completar o percurso, muito lentamente e com várias paradas. Mais uma vez, a vista compensa e emociona.
Valle de la Luna
Localizado a cerca de 20 minutos do centro de La Paz, o Valle de La Luna é uma das principais atrações da cidade. Tem esse nome em referência à superfície lunar. Você pode comprar o passeio conjugado com o tour ao Monte Chacaltaya ou ir até lá sozinho, basta pegar um táxi.
O percurso – há dois, de 15 e de 45 minutos – é bem fácil e demarcado, com placas e passarelas. A única desvantagem é estar sem guia para receber as explicações.
Pode parecer sem graça, à primeira vista, encontrar um parque cheio de crateras em plena cidade grande, mas eu gostei do passeio. Por lá, o terreno é arenoso, e, como o sol pode ser bem quente e seco, leve uma garrafa de água. Se estiver chovendo, é melhor nem ir em função de possíveis deslizamentos.
Não perca
O sítio arqueológico de Tiwanaku fica a cerca de 60 quilômetros de La Paz e guarda ruínas da civilização de mesmo nome que habitou a Bolívia antes de os incas dominarem o Peru. Tem esculturas incríveis, com vários metros de altura e muitas toneladas, esculpidas em uma única pedra. Vale a pena passar um dia por lá.
Gastronomia
Na Bolívia, come-se muito frango e muita batata, tudo bem apimentado. Como todas as outras capitais, La Paz conta com restaurantes especializados em diferentes tipos de culinária, mas procurei aqueles em que podia provar os sabores típicos do país. Também há bastante comida de rua, mas confesso que não tive coragem de experimentar, apesar de ver um vendedor em cada esquina.
Em La Paz, recomendo dois restaurantes com gastronomia boliviana, mas bem diferentes um do outro. O tradicional Luciernagas tem um menu de almoço delicioso com pratos muito bem servidos (comi couvert, entrada, prato principal e sobremesa por um preço próximo a R$ 15).
Já o contemporâneo Gustu está presente na lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina e é comandado, veja só, por uma chef dinamarquesa. É possível escolher pratos à la carte ou optar pelo menu degustação, em que você só descobre o que vai comer quando o prato chega à mesa.
Se curtir vinhos, experimente os rótulos bolivianos. São deliciosos.
Um pouco de futebol
Quem gosta de futebol sabe bem: a altitude é o terror dos times que não estão acostumados a ela. E para os fãs do esporte, não dá para sair de La Paz sem conhecer o estádio Hernando Siles, o principal da capital boliviana.
Quando ouvi no rádio que haveria uma partida de oitavas de final da Libertadores durante minha estadia por lá – o jogo era entre The Strongest e Lanús, da Argentina –, rumei para a bilheteria para garantir meu ingresso. Cheguei a pé – todas as ruas ao redor do estádio são fechadas para os carros – e sentei no setor que fica em cima das organizadas.
Lá, todos veem o jogo sentados, por mais nervosos que estejam.