Entre o Oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes, a Região dos Lagos do Chile tem quase 49 mil quilômetros quadrados recortados por parques nacionais, lagos de origem glacial e vulcões com picos nevados. Como o deslocamento é fácil, devido à proximidade das atrações, o turista pode conhecer muito do destino em um roteiro de até cinco dias. A seguir, confira algumas dicas.
Puerto Varas
Fundada em 1854 por colonos alemães e suíços, é considerada irmã da gaúcha Gramado, lembrando bastante a cidade da Serra. Ambas estão sob a influência do clima temperado e da colonização alemã, evidenciados na arquitetura, na gastronomia e até na presença das tradicionais hortênsias.
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Puerto Varas conta com a melhor infraestrutura turística da região, com hotéis, lojas, cassino e ampla oferta gastronômica – destacam-se as cervejas artesanais, as carnes e a confeitaria. Conheça a colorida Igreja do Sagrado Coração de Jesus e faça um passeio a pé pela orla, de onde os vulcões Calbuco e Osorno podem ser admirados, junto às águas do Lago Llanquihue.
Parque Nacional Vicente Pérez Rosales
A 64 quilômetros de Puerto Varas, o parque nacional Vicente Pérez Rosales, com aproximadamente 250 mil hectares, é o mais visitado (450 mil visitantes ao ano) e mais antigo (fundado em 1926) do Chile. Além dos lagos, tem em seus limites os vulcões Pontiagudo, Casablanca, Osorno e, já na fronteira com Bariloche (Argentina), El Tronador. Conta ainda com fontes termais.
O parque dispõe de boa sinalização para trekkings. Não é necessário contratar passeios em agências, pois pequenos ônibus fazem o transporte a partir de Puerto Varas. Áreas de camping, refúgios para montanhistas, hotéis, restaurantes e lanchonetes completam a infraestrutura. No Vicente Pérez Rosales, encontram-se dois expoentes do turismo local: os Saltos de Petrohué e o vulcão Osorno.
Saltos de Petrohué
Um dos lugares mais lindos que conheci. A região é cercada por lagos, como Llanquihué e Todos os Santos. No meio deles, está o vulcão Osorno. Em uma erupção, as lavas deste vulcão interromperam a ligação dos dois lagos. A lava endurecida formou os Saltos de Petrohué, que são pequenas cachoeiras de água esverdeada e gelada.
Vulcão Osorno
A visita a esse colosso de 2.661 metros – adormecido há quase dois séculos – já vale pela sinuosidade da estrada e pela vegetação que a acompanha. Situado a 60 quilômetros de Puerto Varas, o vulcão de pico nevado pode ser visto de várias partes da região, dominando a paisagem. Há uma estação de esqui chamada Volcán Osorno (com 12 pistas em uma área de 600 hectares), que mantém seus teleféricos em atividade o ano inteiro. Também há a possibilidade de, em vez de chegar de carro à base da estação, subir em passeios organizados de trekking.
Puerto Montt
Puerto Montt não é tão encantadora como as demais cidades, mas serve de ponto de partida para outros destinos, por ser a sede administrativa da região. A diversão fica por conta de curtas caminhadas pela orla. Em um passeio pelo centro, não deixe de visitar a Catedral, a Igreja Jesuíta e a Casa de Arte Diego Rivera. No Palafitos de Angelmó, um mercado de produtos marinhos com restaurantes simpáticos, você encontra comida típica e também artesanato, uma vez que a cidade vive, principalmente, do cultivo do salmão e do comércio.
Puerto Octay
Ao norte do Lago Llanquihue, Puerto Octay (que já foi um importante porto lacustre) parece suspensa no tempo – tão aprazível como silenciosa. As construções no estilo germânico e em madeira (muitas transformadas em hospedagens) e a bela vista para o lago fizeram da cidade uma "zona típica", como são chamadas as regiões colonizadas por imigrantes. A sugestão é, a partir da Praça de Armas e visitar o Museu do Colono, que conta a história de Puerto Octay desde sua formação geográfica e a conquista do território até a chegada dos imigrantes.
Calbuco
A 56 quilômetros de Puerto Montt, Calbuco nasceu como um forte espanhol. Ao andar por suas silenciosas e desniveladas ruas, é inevitável compará-la a Chiloé. As semelhanças são muitas, principalmente pela gastronomia e pela produção do curanto, iguaria muito apreciada na região (saiba mais no quadro "Gastronomia típica"). Com grande variedade de mariscos e artesanato, o mercado municipal também merece uma visita.
Frutillar
O trunfo turístico de Frutillar, a 40 quilômetros de Puerto Montt, é a arquitetura de origem alemã. Andar por suas ruas limpas, organizadas e rodeadas por jardins e construções de madeira do final do século 19 é muito prazeroso. O Teatro do Lago (teatrodellago.cl), inaugurado em 2010 e com vista para o Lago Llanquihue, recebe programação cultural diversa o ano todo, além de desenvolver projetos voltados à educação de jovens e crianças da região.
O maior evento da cidade é o festival de música clássica Semanas Musicais de Frutillar. Para quem quiser conhecer mais sobre a história e o legado dos imigrantes por ali, uma boa opção é visitar o didático Museu Colonial Alemão.
A rústica Chiloé
Reserve pelo menos dois dias para conhecer o arquipélago de Chiloé. Esse conjunto de 40 ilhas tem uma interessante mistura de misticismo, tradições e lendas entre as culturas indígena e espanhola.
O lugar conta com igrejas jesuítas erguidas entre os séculos 18 e 19. Dezesseis delas foram declaradas Patrimônio da Humanidade pela Unesco, por serem raros exemplos desse tipo de construção em madeira nas Américas. Além disso, palafitas coloridas e gastronomia típica dão a Chiloé um caráter único.
Minha expedição começou atravessando o canal de Chacau em um ferry (balsa). Ali, os moradores vivem, basicamente, da pesca e da agricultura, assim como em quase todo o arquipélago. Chilóe foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como um dos "Sistemas Engenhosos de Patrimônio Agrícola Mundial", pela diversidade e técnicas agrícolas conservadas por centenas de anos.
Ancud
Depois de um caminho pastoril, chego a Andud, polo agrícola da região. Para conhecer sua história, nada melhor do que visitar o Museu das Igrejas – para conferir os detalhes de como foram construídas e restauradas as edificações jesuítas tombadas pela Unesco – e o forte San Antonio, erguido pelos colonizadores espanhóis no século 19, que oferece uma bela vista da cidade.
Castro
A terceira cidade mais antiga do Chile (e capital de Chiloé) convida a caminhar, provar os pescados locais, visitar lojas de artesanato e contemplar as palafitas coloridas à beira-mar, um dos cartões-postais do sul do Chile. Algumas palafitas foram transformadas em hotéis, boutiques, restaurantes e lojas, tornando a região extremamente atrativa e charmosa. A igreja San Francisco de Castro merece ser admirada, assim como a feira de artesanato. Ambos estão localizados na praça principal da cidade.
Dalcahue
A somente 20 quilômetros de Castro, vale a pena percorrer o povoado de Dalcahue, onde você encontrará tradicionais agasalhos tecidos em lã de ovelha, peças artesanais de madeira talhada, comida autêntica e licores da região.
Nércon, Tenaún e Colo
São pequenos povoados rurais nos quais é possível contemplar a arquitetura de suas belas igrejas de madeira, admirar paisagens bucólicas e saborear deliciosas e típicas comidas caseiras.
Gastronomia típica
– Peixes (principalmente salmão) e mariscos estão na base da indústria alimentícia local. Em Chiloé, procure acompanhar a preparação do curanto, que é quase uma cerimônia de reverência à cultura chilote. Moradores da região dizem que é o momento em que mar e terra se abraçam, pois os mariscos e os peixes se misturam com os produtos cultivados pelos habitantes locais.
– O cozido de mariscos, carnes, batatas e legumes é feito diretamente em um buraco na terra, colocado sobre pedras quentes e coberto com grandes folhas de pange ou nalca. Os sabores se misturam, defumando os ingredientes.
– Prove também as cazuelas (sopa) e empanadas (tipo de pastel de massa assada ou frita com recheios variados).
Como é o clima
Além de ser mais frio do que em Santiago, chove bastante. No inverno e no outono, a temperatura média é de 7ºC, variando de 3ºC a 10ºC durante o dia. Dificilmente nevará – normalmente, só nas proximidades do vulcão Osorno. Na primavera e no verão, a máxima oscila entre 20ºC e 25ºC durante o dia, caindo à noite (pode chegar a 7ºC).
Leve na mala
Pelo menos um casaco pesado, botas ou tênis impermeáveis, luvas e cachecol. Roupas térmicas são ideais, pois mantêm o corpo aquecido sem fazer volume na mala. Protetores solar e labial e óculos de sol também são bem-vindos.
*A repórter viajou a convite da Aseet Lagos y Volcanes, do Serviço Nacional de Turismo (Sernatur) e do Governo Regional de Los Lagos de Chile