Engana-se quem pensa que o Cisne Branco limita-se ao tradicional passeio pelas ilhas do Guaíba. Novinho em folha, após uma reforma motivada pelo naufrágio no ano passado, a embarcação símbolo do esmorecido turismo náutico no Rio Grande do Sul retomou o roteiro que marcou a sua inauguração, na década de 1970 – uma viagem pelas águas do Rio Jacuí.
No sábado, ocorreu a primeira saída de 2017 do longo passeio, de seis horas de duração, depois de uma tentativa de reativá-lo há dois anos. Em 2016, o plano de retomada foi frustrado pela tempestade que, em janeiro, acometeu Porto Alegre e fez o barco virar.
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Foram necessários 58 dias para reflutuar a embarcação e mais 75 para concluir a reforma na estrutura e no mobiliário, um processo que custou R$ 2,5 milhões. Agora, o ícone porto-alegrense quer recuperar o prejuízo navegando em outras águas.
– É uma releitura de um roteiro que aconteceu com a inauguração do Cisne Branco, em 1978, quando íamos de barco até Rio Pardo e agregávamos, no retorno, outro modal, o trem. Depois de ter naufragado, essa é a primeira viagem, o que, para nós, é motivo de muito orgulho – comemora a proprietária do Cisne Branco, Adriane Hilbig.
Hoje, o antigo roteiro está de cara nova. A viagem começa de manhã, bem cedo, no armazém B3 do Cais do Porto. Às 7h30min, a embarcação desponta do atracadouro e deixa para trás o clássico cenário composto pelos armazéns e pela Usina do Gasômetro e segue em direção a Santo Amaro do Sul, distrito do município de General Câmara. Já no início da travessia, fica evidente a graça do passeio – avistar conhecidas paisagens do Estado, mas de outro ângulo.
– Estou relembrando 30 anos atrás. Eu acho que todos deveriam fazer esse passeio, principalmente nós, gaúchos, pela paz, pela beleza, pela paisagem desses lugares que nunca vemos, a partir do rio – diz a aposentada Ingrid Secato, 78 anos, que costumava fazer o antigo passeio, quando mais jovem.
Sob a perspectiva da água, avista-se, por exemplo, o contraste formado pelos casebres da Ilha dos Marinheiros e as mansões da Ilha das Flores. Na viagem que percorre os municípios banhados pelo Jacuí – Eldorado do Sul, Charqueadas, Triunfo e São Jerônimo – também se veem os muros da Colônia Penal General Daltro Filho, as chaminés do Polo Petroquímico do Sul e uma espécie de cemitério de cascos de navio.
Mas é verdade que, do rio, pouca diferença há entre os cenários que compõem a Região Carbonífera. Assim, a principal companhia do viajante acaba sendo o verde da Mata Atlântica e a água turva do Jacuí ao longo dos cerca de 90 quilômetros percorridos em uma velocidade média de 18 km/h.
O ponto alto da travessia está justamente em seu fim, na chegada a Santo Amaro do Sul. É quando a embarcação chega à barragem de Amarópolis, onde está uma das quatro eclusas do Estado. Entre a tripulação, o comentário era a semelhança com o Canal do Panamá, guardada as devidas proporções. Mas, de fato, o sistema é o mesmo.
Perto das 13h30min, o Cisne Branco ingressou no corredor ao lado da barragem, a comporta traseira foi fechada e, lentamente, os passageiros perceberam a água subindo. Foi assim até que a elevação chegasse a 3,4 metros e atingisse a altura do Jacuí no outro lado. Aí, chegou a hora de descer do barco.
A partir do distrito, o roteiro repaginado inclui um segundo, e mais comum, meio de transporte. De ônibus, os passageiros seguem para conhecer a vila de Santo Amaro do Sul, tombada pelo patrimônio histórico, e sua igreja de estilo barroco. Depois, seguem durante uma hora, em estrada de chão, até Santa Cruz do Sul.
No município do Vale do Rio Pardo, os turistas participam de um típico jantar alemão, com cuca, linguiça e chope, no Centro Cultural 25 de Julho, no Parque da Oktoberfest. Após pernoite em hotel no centro, o itinerário também prevê um passeio pelos principais pontos da cidade, como a Gruta dos Índios. A volta em Porto Alegre, dessa vez de ônibus, ocorreu na tarde de ontem.
Nesta reestreia, o roteiro foi procurado mesmo por aposentados – a média etária entre os 42 passageiros era de 65 anos. Mas não que se trate de um programa rejeitado pelos mais jovens, acredita Adriane:
– É um passeio para todas as idades, mas o público mais maduro valoriza muito mais as culturas do Estado. Não criamos um roteiro para um público específico, mas ele acaba ganhando essa identidade.
Próximas datas
Neste ano, o Roteiro Hidro-rodoviário a Santa Cruz do Sul a bordo do Cisne Branco sairá em mais três datas: 13 de maio, 7 de outubro e 2 de dezembro. Informações: (51) 3224-5222.