Geografia dramática, selvagem e mutante transformou o arquipélago português, antes um tanto esquecido, em um dos mais cobiçados destinos de natureza e aventura do planeta.
Maravilha da natureza
A Lagoa das Sete Cidades, paisagem mais famosa dos Açores, é formada por duas lagoas que se comunicam entre si, uma de cor verde, outra azul. Localizada em uma zona interior da ilha de São Miguel, essa maravilha tem apenas 600 anos de idade. Trata-se de um complexo de quatro lagoas, sob as quais situa-se o mais ativo vulcão do arquipélago. Por volta de 1400, uma erupção provocou gigantescos desmoronamentos de montanhas e originou as crateras, que se encheram de água.
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Há duas formas obrigatórias de explorar o local. Uma é indo até lá. As lagoas verde e azul são unidas por um canal estreito, sobre a qual passa uma ponte que pode ser percorrida a pé ou de carro. O cenário envolve água, mata, montanhas e uma pequena povoação. Mas a vista mais impressionante é do alto, tendo as duas lagoas de tonalidades distintas ao pé. O ponto de observação perfeito é a Vista do Rei, a pouca distância de Ponta Delgada. Ali, no topo da ilha, ao lado de um hotel cinco estrelas abandonado que funcionou por um breve período na década de 1980, você vai tirar as melhores fotos de sua vida.
No centro da ilha fica a Lagoa do Fogo, outra vista de tirar o fôlego. Ocupa a cratera de um vulcão que se ergue a 600 metros de altura. Vale a pena subir toda a encosta para descobrir que lá, dentro do maciço, esconde-se um mundo de água.
Banho termal
Os Açores são um paraíso de água quente, cortesia dos vulcões, e a melhor forma de aproveitar essa característica é uma visita ao Parque Terra Nostra, no interior da ilha de São Miguel. Ali, no século 18, um antigo cônsul norte-americano construiu um tanque para onde as nascentes aquecidas foram direcionadas. Ampliações posteriores converteram o tanque em uma ampla piscina de água ferruginosa e fumarenta, cercado de vegetação nativa.
Na beirada, canalizações despejam com força a água termal natural, a 40ºC, dentro da piscina. É um bom lugar para se posicionar, recebendo o jato massageante direto nas costas.
O parque está ligado a um hotel quatro estrelas, mas não é preciso hospedar-se para ter acesso. Ele é aberto ao público em geral. Pode ser visitado até nos dias frios e chuvosos, que foi o que eu fiz. Afinal, você vai se molhar mesmo, e a água termal o protege contra qualquer temperatura baixa.
Cozido açoriano
Você pode preparar em casa pratos típicos de países distantes, mas o cozido açoriano é irrepetível. A não ser que você tenha um vulcão no quintal de casa. Porque a peculiaridade da mais conhecida das receitas do arquipélago é o modo de preparo: os ingredientes são colocados em buracos escavados no solo, e a própria natureza se encarrega de cozinhá-los.
O cozido é feito no Vale das Furnas, uma zona no meio da ilha de São Miguel de onde fumarolas escapam do solo. Os moradores tiveram a ideia de usar essa energia em prol da culinária. Enchem panelões com carnes variadas (porco, frango, gado, linguiça), vegetais (batata, couve, cenoura, inhame) e temperos e levam-nos até o local. Envoltas em panos, as caçarolas descem por buracos escavados no solo e passam seis horas fechadas debaixo da terra. O calor vulcânico produz o cozimento. Por alguma razão, o processo faz maravilhas pelo sabor e também pela textura – as carnes se dissolvem ao toque.
A notícia boa é que você não precisa ir até o vale com suas próprias panelas e ficar horas à espera. Os restaurantes da região tomam essa providência nas primeiras horas da manhã, para servirem o prato no almoço. Quando sentei à mesa e fiz o pedido, um funcionário do estabelecimento saiu à rua e deslocou-se até as furnas, a alguns quilômetros de distância, para desenterrar minha refeição.