À simples menção da palavra Provença, meu imaginário se enche de fantasias, a mente divaga por campos de lavanda, os olhos se iluminam com os amarelos dos girassóis – os mesmos que Vincent Van Gogh (1853-1890) tanto pintou –, e a boca começa a salivar só de lembrar dos seus vinhos rosé e da doçura de suas frutas. A região é como um ímã que a todos atrai: uns vão em busca do sol, que brilha a maior parte do ano, outros procuram seu estilo de vida descontraído e sua gastronomia, mas também seus sítios romanos, sua riqueza cultural e as paisagens de tirar o fôlego.
Voamos até Paris, onde pegamos o trem rápido, o TGV, ali mesmo no aeroporto Charles de Gaulle até a cidade de Avignon, já na Provença. Sempre acho melhor escolher um ou dois lugares de base para explorar o destino do que perder tempo trocando de hotel todos os dias. Na Provença, dois lugares estratégicos para escolher de base são Avignon e Aix-en-Provence.
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A partir de Avignon, você explora várias cidadezinhas lindas que ficam na região do Parque do Luberon, como Gordes, Roussillon, Ménerbes e L'isle-sur-la-Sorgue. O centro histórico de Avignon é pequeno, e pode-se percorrê-lo todo a pé. A principal atração é o Palácio do Papas, que foi residência papal de 1309 a 1377. A visita é bem interessante – muitas salas estão conservadas como um retrato da época.
Depois, começamos a explorar os pontos mais próximos, a começar pela Pont du Gard, antiga ponte romana próxima a Avignon. Em L'Isle-sur-la-Sorgue, às margens do Rio Sorgue, chegamos em dia de mercado, o que é uma festa para os olhos e para o estômago. Fizemos um rancho de queijos, embutidos, frutas e uma baguete crocante para um piquenique logo mais em algum campo florido e tranquilo. É um programa delicioso – não esqueça de conferir na internet o dia de mercado nas cidades que você pretende visitar.
Outro lugar digno de visita é Gordes, uma cidade com feições bem medievais no alto de uma montanha, com uma linda vista de todo o vale. Nas redondezas, aproveitamos para conhecer a Abadia de Senanque, famosa em todos os cartões-postais da Provença pelas lindas plantações de lavanda.
Chegamos a Roussillon no final da tarde, e a luminosidade se fundia com os prédios, todos pintados em cores ocres. Ela também fica no alto e conta com uma vista incrível. A próxima parada foi em Saint Rémy, cidade pequenina onde fica até hoje o sanatório onde Van Gogh foi internado após a briga com Paul Gauguin (1848-1903). Além disso, foi onde nasceu Nostradamus (1503-1566).
A partir da nossa outra base, Aix-en-Provence, cidade natal de Paul Cézanne (1839-1906), você explora lugares como Les Baux, Arles e Cassis. Sua avenida principal é o famoso Cours Mirabeau, que rivaliza com os bulevares mais belos de Paris. Durante a semana, são realizados vários tipos de mercado. No próprio Cours Mirabeau, eles se revezam entre antiguidades (encontramos verdadeiras barganhas e coisas lindas), roupas e frutas e legumes.
Aix tem um centro histórico pequeno e fácil de percorrer. Cidade universitária alegre, com muitos restaurantes e bares, não é daqueles lugares que às 22h ficam vazios. Ao contrário: à noite, depois do forte calor da tarde, as pessoas ganham as ruas. É só sentar em uma calçada do Cours Mirabeau com um bom vinho rosé que a distração está garantida.
Em um dia, fomos até Arles, que fica entre Avignon e Aix-en-Provence. Importante província romana no passado, tem em seu anfiteatro uma das principais atrações. A construção data do século 1 d.C e, até hoje, recebe corridas de touros, concertos e óperas. Arles tem uma energia diferenciada – foi ali que Van Gogh se estabeleceu quando decidiu sair de Paris em busca do sol. Infelizmente, a casa amarela na Praça Lamartine, retratada pelo pintor, foi destruída por bombardeios na II Guerra Mundial (1939-1945).
Nossa próxima parada foi a praia de Cassis, de onde saímos para desbravar as belíssimas calanques, formações rochosas conhecidas como "fiordes do Mediterrâneo". São várias opções de trilhas – umas mais fáceis, para iniciantes, e outras muito exigentes, destinadas só para aqueles que estão no auge do preparo. O lugar é simplesmente fantástico.
Nossa viagem terminou em Cannes, que foi perfeita para uma última parada antes de voltar ao Brasil. Passamos dois dias absolutamente livres para vagar pela praia, pelas lojas e pelos restaurantes – enfim, desfrutar de um dolce far niente. Uma boa opção é caminhar pela famosa La Croisette, avenida à beira-mar cheia de restaurantes charmosos e ótimas lojas.
Um alerta: evite realizar este roteiro nos meses de julho e agosto. Além de fazer muito calor, tudo é mais difícil e disputado. No resto do ano, a Provença é uma festa para todos os sentidos.