Naquela manhã de domingo com temperatura amena no pé da montanha, o guia de turismo português Gonçalo Costa chega e já começa a listar uma série de preocupações para o grupo de nove jornalistas brasileiros que o aguardava: "tenham calma", "evitem correr", "avisem-me imediatamente caso não se sintam bem". É preciso preparar o fôlego, porque vamos subir a 3.454 metros de altitude. Em menos de uma hora e meia, conheceremos Jungfraujoch. É o "Topo da Europa", onde fica a mais alta estação ferroviária do continente.
Lá nas alturas, estão também as nossas expectativas. Nos sete dias anteriores, havíamos visitado mais de uma dezena de cidades suíças, uma mais encantadora do que a outra. Deslumbrados com aquelas paisagens, tínhamos dificuldade em acreditar nos suíços que nos recebiam e empilhavam adjetivos assim que anunciávamos nossa excursão à região de Jungfrau.
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– É possível encontrar um lugar ainda mais bonito? – duvidou um de nós, depois de uma das visitas durante aquela semana do fim de maio.
Embarcamos no trem em Grindelwald em busca da resposta a essa pergunta. A composição deixa a estação exatamente às 10h25min, como programado – não se podia esperar algo diferente em um país onde o atraso de míseros três minutos é capaz de levar o maquinista a acionar no alto-falante um pedido de desculpas pelos transtornos. Quando a viagem começa, as primeiras imagens que aparecem na nossa janela confirmam todos os clichês associados à Suíça: chalés típicos adornam a paisagem, em meio a vacas, com sinos no pescoço, que pastam nos campos verdejantes e com picos nevados ao fundo.
A primeira surpresa está reservada para minutos mais tarde, em uma das duas paradas de cinco minutos para que o organismo dos viajantes se acostume com a altitude. A beleza se descortina num dos mirantes: as montanhas esbranquiçadas pela neve formam um cenário raro, levando a multidão de asiáticos com quem dividimos o trem a tirar uma foto após a outra. Bastaria apenas este momento para valer a viagem – mas o ápice ainda está por vir.
Ao desembarcarmos em Jungfraujoch, sentimos uma ponta de frustração, lançada pelo tempo carrancudo. O clima hostil compromete, mas não impede a contemplação da geleira Aletsch, o mais longo rio de gelo da Europa, com 22 quilômetros, ou do pico Mönch (4.107 metros) ou de Jungfrau (4.158 metros). Se o cenário deslumbra mesmo em dia nebuloso, imagine quando o sol colabora.
Outro encanto da viagem está escondido a 20 metros da superfície. No Palácio do Gelo, os passos lentos não só nos ajudam a evitar tombos no piso escorregadio, mas também permitem apreciar as esculturas, que vão de animais a peças de decoração. Para muita gente, o local se compara à Fortaleza da Solidão apresentada nas cenas iniciais de Superman (1978), quando o herói Clark Kent ainda mora na casa de cristal no Planeta Krypton.
É aqui que nos avisam que a diversão no Topo da Europa se aproxima do fim. Voltamos ao trem e, só agora, ladeira abaixo, começamos a sentir os efeitos do ar rarefeito. Parte dos passageiros do vagão cai no sono. O sonho daquela viagem tinha de continuar.
As atrações de Jungfraujoch
Snow Fun Park
A geleira Aletsch oferece a chance da prática de esportes de inverno em pleno verão. Os visitantes podem descer a encosta em boias de neve, esquis ou snowboards. Ainda têm a possibilidade de, na tirolesa, voar 250 metros ladeira abaixo, seguros por um cabo de aço.
Restaurantes da geleira
Com mil lugares, cinco restaurantes oferecem desde pratos típicos suíços até a exótica culinária indiana. Mesmo sendo um ponto turístico, os preços não diferem dos valores cobrados pelos estabelecimentos das cidades próximas – o que não quer dizer que seja barato (a Suíça é um dos países mais caros da Europa). Com cerca de 40 francos suíços (pouco mais de R$ 130), o visitante faz uma refeição completa diante de uma vista das montanhas.
Terraço de Sphinx
Se os 3.454 metros de altitude não bastam, o turista tem a possibilidade de subir ainda mais alto. Basta embarcar no elevador mais rápido da Suíça. Em 27 segundos, o visitante atinge 3.571 metros e chega ao terraço de Sphinx, uma estação que conta com uma cúpula para estudos astronômicos. Em dias claros, a vista alcança paisagens de países vizi-nhos, como o Vosges, uma cadeia de montanhas da França, ou a Floresta Negra, uma cordilheira que corta o sudoeste da Alemanha.
Palácio do Gelo
Esculpido em uma caverna em uma área de 1 mil metros quadrados, a 30 metros abaixo da geleira, um labirinto com um sem-número de vãos e passagens diverte crianças e adultos. As grutas escondem esculturas de ânforas (vasos de origem grega), de animais como águias e pinguins e até de personagens da franquia da Disney A Era do Gelo. Como o calor gerado pelos milhares de visitantes derrete as obras, o local precisa, de forma permanente, estar resfriado a -3ºC.
Alpine Sensation
O circuito de 250 metros conta a epopeia de quase duas décadas, iniciada pelo magnata industrial Adolf Guyer-Zeller, para fazer os trilhos de trem chegarem até Jungfraujoch. Por meio de imagens, sons e luzes, os visitantes conhecem os esforços – que levaram a vida de operários e custaram 16 milhões de francos (o dobro do previsto) – para permitir com que os turistas chegassem a uma das mais belas paisagens suíças desde 1912.
Centro de compras
O visitante encontra uma gama de artigos que vão de suvenires a relógios, passando por roupas com a marca Top of Europe e pelos canivetes. O local ainda abriga a maior loja da Lindt no mundo, com seis exposições interativas em que o turista conhece os segredos da produção de chocolates.
*O jornalista viajou a convite do Presença Suíça, órgão do Ministério de Relações Exteriores do país