Tênis e chinelo de dedo. Turistas que visitam Ilha Grande, em Angra dos Reis, não precisam outro tipo de calçado para os passeios que combinam praias e trilhas. O contato direto com a natureza da Costa Verde do Rio de Janeiro atrai aventureiros e famílias que querem simplicidade e pé na areia na maior parte do tempo.
O destino é perfeito para quem entra em férias com a intenção de percorrer quilômetros em meio à mata, mas encanta todos os públicos. Não há quem resista a um mergulho com peixes na Lagoa Azul – a cor dela, como o próprio nome diz, é de gastar a memória do celular com imagens dignas de cartão-postal.
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O tamanho, às vezes, assusta quem não conhece Ilha Grande e tem dúvidas de onde ficar – são mais de 193 quilômetros quadrados de área e 113 praias. O receio de estar "longe de tudo", porém, é infundado: comércio, hotéis e pousadas se concentram na Vila do Abraão. São muitas as opções de hospedagem e restaurantes, assim como agências de turismo, que fazem pacotes de passeios aos pontos mais famosos.
Como os preços variam bastante, uma dica para economizar é não ficar apenas nos arredores da Rua da Praia, umas das principais vias utilizadas para ir de um lado a outro em Abraão. Adentrar a vila e caminhar pelas ruelas sem calçamento pode ajudar a encontrar um serviço mais em conta e, também, fazer o turista se sentir em casa com a hospitalidade dos nativos, que não se intimidam em oferecer auxílio.
Difícil é conseguir experimentar tudo o que o lugar oferece de lazer, diversão e aventura. Há passeios de lancha e de bike, snorkel, mergulho, surfe e stand-up paddle – para citar os mais comuns –, mas o destino é mesmo famoso pelas 16 trilhas oficiais sinalizadas por placas. Todas são numeradas – não têm nome específico – e podem ser feitas por qualquer pessoa com bom preparo físico. Os trajetos, com duração de poucas horas ou até mais de dois dias, brindam os visitantes com cachoeiras, mirantes e muita fauna.
A maioria das agências de turismo oferece guia para as trilhas mais conhecidas. Se o visitante já tem experiência com esse tipo de passeio e prefere ir por conta própria, não vai faltar fonte de informação, seja por placas ou com a ajuda de moradores locais.
Três horas é a duração média da viagem a Ilha Grande saindo do Rio de Janeiro. Esse tempo considera o percurso por terra até Conceição de Jacareí, bairro de Mangaratiba, mais os 20 minutos de lancha rápida até o cais da Vila do Abraão, principal ponto de desembarque dos turistas na ilha.
Há ainda a opção de pegar transporte aquático nos municípios de Angra dos Reis, Mangaratiba ou Paraty. Empresas (como a Top Transfer) oferecem serviço de deslocamento desde o aeroporto ou do local onde o visitante estiver hospedado no Rio até a ilha. Os valores ficam em torno de R$ 200 ida e volta.
Carros não entram na ilha. A locomoção é a pé, de bicicleta ou por água. O que não preocupa os visitantes de perfil aventureiro que escolhem o lugar pela possibilidade de chegar às praias por meio de trilhas. Para quem tem muita bagagem e pouca força, talvez o fato cause certo alarme. Mas só até chegar no cais da vila, onde é possível achar carreteiros que cobram em torno de R$ 30 para levar as malas com uma espécie de carrinho de madeira. O preço varia conforme a localização da hospedagem.
Turistas que fazem reserva em pontos distantes da Vila do Abraão também têm opção. Com valor um pouco mais elevado, as lanchas do tipo barco-táxi ficam ancoradas ao redor do cais à espera de quem precise de carona.
Lopes Mendes
O percurso para a praia de Lopes Mendes é um dos mais famosos e está entre os mais tranquilos: a caminhada é considerada leve, e o acesso, fácil. A trilha começa no canto direito da Vila do Abraão, onde termina a faixa de areia. São três trilhas até chegar à praia, que, por ser em mar aberto, atrai grande número de surfistas. A primeira parte, de dificuldade moderada, é a mais longa: leva cerca de uma hora e termina na Enseada das Palmas. Para seguir adiante, basta atravessar a praia e começar a segunda parte, que termina em Pouso. Dali, resta apenas mais uma trilha (a T11) de cerca de um quilômetro.
Se for feito a pé, todo o trajeto dura cerca de duas horas. Quem não confia no preparo físico tem a opção de barcos e lanchas que saem em diferentes horários todos os dias de Abraão e deixam os turistas em Pouso ou na Enseada das Palmas. A última trilha, que leva cerca de 15 minutos, é indispensável, porque barcos não costumam ancorar em Lopes Mendes.
Outra dica é sair de Abraão nas primeiras horas da manhã, ir até Lopes Mendes por trilha e voltar por água. Os barcos costumam sair da Praia do Pouso em torno das 15h, a um custo de cerca de R$ 15 por pessoa. É proibido acampar em Lopes Mendes ou nas redondezas, e há pouca opção de alimentação na praia – apenas três ambulantes oferecem lanches, bebidas e aluguel de pranchas de surfe a preços salgados.
Trilha noturna
Os quase mil metros de altura tornam o Pico do Papagaio o segundo ponto mais alto de Ilha Grande. Das trilhas, é a mais difícil e uma das mais longas – cerca de três horas só de ida –, mas nada que impeça turistas de se arriscarem até o topo. A paisagem vale a pena! Principalmente, se for admirada com o sol nascendo no horizonte do mar.
A caminhada começa na madrugada, por volta das 2h, na Vila do Abraão. Após uma hora e meia apreciando o nascer do sol, o grupo começa o retorno, que tem chegada à ilha prevista para 9h30min. A equipe da Sunrise Pioneers faz o passeio com um grupo fechado e guia a R$ 150 (cartão) ou R$ 135 (dinheiro) por pessoa. O valor inclui lanterna, cajado para ajudar na subida e imagens em foto e vídeo.
Como qualquer descuido pode levar o trilheiro a se perder em meio à mata, é fundamental subir com um guia ou um veterano no trajeto. Cuidar da alimentação no dia anterior é também importante para garantir um condicionamento físico melhor. Outra dica é levar uma segunda peça de roupa na mochila, além de muita água e lanches.
Passeios de lancha
Mesmo aqueles que preferem tênis e mochila nas costas não resistem a um mergulho com peixes em pontos favoráveis a esse tipo de atividade. As lagoas Verde e Azul são passeios indispensáveis. Embora haja trilhas que chegam até lá, o percurso leva horas, o que faz a maioria dos turistas optar por passeios pela água.
É raro encontrar uma agência de turismo em Ilha Grande que não ofereça tour de lancha ou barco até as duas lagoas. Os pacotes mais tradicionais são o "volta à ilha" ou "meia volta", que, além da parada obrigatória nas águas transparentes das lagoas, levam o turista para conhecer outras praias daquela região da ilha, como a Enseada das Estrelas, Saco do Céu e Japariz. Ao final do tour, os visitantes ainda são contemplados com um pôr do sol assistido da água.
Os preços variam conforme a duração do passeio, o tipo de barco e a temporada, mas não há muita diferença entre as agências. A "meia volta" com lancha rápida para cerca de 10 passageiros, com cinco paradas, em baixa temporada, por exemplo, sai de R$ 100 a R$ 150 por pessoa.
O passeio dura quase sete horas, e o almoço não costuma estar incluído. Em alta temporada, o valor pode ficar até duas vezes mais caro.
Circuito Abraão
Os quase dois quilômetros de trilha leve e plana do Circuito do Abraão são uma alternativa para quem não curte ficar sem fôlego ou para aqueles que querem um dia de descanso após uma maratona de aventuras. O trajeto tem início no canto esquerdo da praia e pode ser feito no primeiro dia na vila, tanto a pé quanto de bike. A duração é de uma a duas horas.
O passeio também é uma boa pedida para as amantes de história. A área já abrigou uma fazenda de cana-de-açúcar, um lazareto (hospital de quarentena, de 1886 a 1913) e um presídio federal (1932-1954). Vestígios dessas construções são encontradas no percurso, que abriga também o mirante da Praia Preta e a Cachoeira dos Escravos, mais conhecida como Poção.
Além do trajeto sinalizado como Circuito do Abraão, a vila oferece outras praias com faixas de areia menores e menos aventura. Seguindo o caminho do canto direito do povoado, há uma estrada que dá acesso às praias de Júlia, Bica, Comprida, Crena, Guaxuma e Abraãozinho. Esta última é a mais distante de Abraão – cerca de um quilômetro –, por isso, visitantes costumam chegar a ela de barco-táxi.
*As dicas desta reportagem são da estudante de Jornalismo Mariana Fritsch