Conheci a Rota das Emoções no final de junho do ano passado e, desculpe a redundância, é difícil expressar tantas emoções vividas nessa viagem. Fiz a rota em uma semana, mas já vou avisando de largada que foi corrido. O ideal são pelo menos 10 dias para que seja possível absorver tanta energia em locais que sensibilizam o olhar e provocam sensações únicas.
O roteiro foi criado em 2005 para integrar as principais atrações turísticas e belezas naturais de três Estados do Nordeste brasileiro: Ceará, Piauí e Maranhão. A rota inclui 14 municípios e tem três grandes destaques considerados santuários ecológicos: o Parque Nacional de Jericoacoara (Ceará), a Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba (Piauí) e o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (Maranhão).
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Afora o ecoturismo, a viagem surpreende pela oferta de passeios, praias de rios e lagoas, boa gastronomia e pelas manifestações culturais. Anote: quem viaja em junho pode pular a fogueira e se esbaldar com as cores e imagens das festas de São João, principalmente no Maranhão, onde o período do arraial é um momento expressivo e incrível de se vivenciar. Para os mais esportistas, a região é famosa pelas excelentes condições para kitesurfe e windsurfe, especialmente em Jericoacora (CE) e Barra Grande (PI), dois redutos dessas modalidades.
Você pode fazer o roteiro completo da Rota das Emoções, pelos três Estados, ou apenas parte dele, unindo seus pontos principais ou de seu interesse. Pode-se começar por São Luís do Maranhão ou por Fortaleza, no Ceará.
Pela minha experiência, indico fortemente a ajuda de uma boa operadora de turismo para reservar passeios e, principalmente, o transporte terrestre – afinal, a estrada é uma senhora aventura, sendo ora de areia, ora de asfalto, com alguns buracos, e ora sob dunas em divertidas "jardineiras" 4x4.
A emoção começou no dia em que chegamos a Jijoca (cidade próxima de Jericoacoara, a 300 quilômetros de Fortaleza). De lá, partem os veículos 4x4 em um caminho feito de dunas de areia rumo ao Parque Nacional de Jericoacoara. E acredite: só Jeri, como é carinhosamente chamado esse vilarejo charmoso, já valeria a viagem até a Rota das Emoções.
Uma praia completamente pé na areia (até a rua principal é de areia!), com um ritmo muito particular. Sem semáforos, sem postes de luz (a rede elétrica é subterrânea), um paraíso que apaixona. Somente carros autorizados (a maioria buggys) podem entrar na vila, uma forma de controlar a área preservada e administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
O que fazer? Você logo descobre as principais atrações: curtir o pôr do sol da duna na praia e se jogar nos passeios de buggy por Pedra Furada, Árvore da Preguiça, Praia do Preá e na formosa Lagoa do Paraíso (um dos grandes cartões-postais de Jeri).
E ainda: provar a torta de banana da Tia Angelita, uma moqueca de arraia no Rústico e Acústico e uma noite romântica e gastronômica no Freddyssimo ou no Casa Dela. Para se hospedar, há várias categorias: do hotel mais chique à beira-mar à pousada charmosa e mais em conta que fiquei, a Maxitalia. O preferido de artistas e amantes do kitesurfe é a ecochic Rancho do Peixe.
Depois de dois dias em Jeri, partimos de Jijoca (CE) em uma van em direção ao próximo destino: Piauí. Por volta das 15h, chegamos ao Porto dos Tatus, em Ilha Grande (a nove quilômetros de Parnaíba), de onde partem os passeios de barco e lancha pelo Delta, considerado o único das Américas em mar aberto.
A área tem 2,7 mil quilômetros quadrados, com mais de 70 ilhas, mangues, dunas e uma paisagem sem igual. Além do banho de rio e das praias desertas, foi possível observar de longe a revoada dos guarás junto ao pôr do sol no Rio Parnaíba, um fim de tarde abençoado. Para finalizar o dia, teve sorvete com sabores de frutas típicas do Nordeste na famosa Sorveteria Araújo (Porto das Barcas), compras de artesanato no belo trabalho do Trançados da Ilha e jantar no Calçadão Cultural em Parnaíba.
Partimos cedo de Parnaíba rumo à simpática cidade de Tutoia, no Maranhão, uma das portas de entrada do Delta. Foi lá que embarcamos de "toyoteiro" (veículo 4x4 com bancos na caçamba, também conhecidas como jardineiras) e fomos guiados à beira-mar até a Praia de Caburé, onde pegamos uma lancha voadeira pelo Rio Preguiças.
Sentiu a adrenalina? Muita gente visita os Lençóis Maranhenses, mas perde esse passeio pelo rio, que é incrível. Passamos o dia entre povoados (Mandacaru, Vassouras e Casa da Farinha), praias de rio, lagoas entre as dunas e igarapés. Dormimos em Barreirinhas, denominada a “capital” dos Lençóis Maranhenses.
Foi próximo à praça central da cidade que tivemos um jantar delicioso no Deck Bistrô. Dia seguinte, estávamos ansiosos pelo que prometia ser um dos pontos altos da rota: os Lençóis. Patrimônio Natural da Humanidade, é considerado o único deserto do mundo com inúmeras lagoas formadas a partir do acúmulo das chuvas entre os 155 mil hectares de dunas. Um banho para sair renovado.
Os principais circuitos turísticos são o da Lagoa Azul e o da Lagoa Bonita, feitos com guias da região. Com pouco tempo disponível, fizemos apenas o Circuito da Lagoa Azul, que contempla quatro horas e meia de tour (prepare as pernas para subir as dunas!) diante de uma paisagem que mais parece uma miragem. Passamos por Lagoa Preguiça, Toyoteiros, Esmeralda e Azul. A temperatura da água era um absurdo de agradável.
À tarde, após o almoço, pegamos um ônibus para São Luís do Maranhão, onde, no dia seguinte, o grupo partiria de avião de volta para a casa. Ainda deu tempo de fazer um rápido city tour, provar pratos típicos no restaurante Feijão de Corda (como o arroz de cuxá, o caranguejo), ver a apresentação na Praça Maria Aragão do Cacuriá de Dona Tetê (dança típica do Maranhão) e visitar o belo (mas abandonado e malconservado, uma pena!) centro histórico de São Luís, onde o Mercado das Tulhas é visita obrigatória. Provar camarão seco com açaí e farinha de café da manhã no mercado foi a minha última emoção nessa rota inesquecível.
*A publicitária Alexandra Aranovich é colunista do caderno Vida e autora do blog Café Viagem