Paris encanta, enfeitiça e é cobiçada. Predicados não faltam para que ela seja uma das cidades mais visitadas do mundo. Mas a França é pluralista, vai bem além de sua capital e merece ser desvendada em todas as suas expressões.
Da histórica Marselha aos suntuosos castelos do Loire, passando pela bem preservada Nimes até a serena e espiritual Lourdes, há boas razões para o viajante seguir com um sorriso no rosto.
Leia mais
Castelos encantam visitantes no Vale do Loire, na França
Atrações para encantar as crianças em uma viagem a Paris
Saiba qual é o melhor horário para visitar a Torre Eiffel, em Paris
Marselha, pré-histórica e contemporânea
Poucas cidades na Europa têm raízes tão extensas e fascinantes como Marselha, segunda maior e mais antiga da França. Há registros de ocupação que datam de 30 mil anos, mas foram os gregos, em 600 a.C., que fundaram a metrópole que passou por histórias incríveis de invasões, guerras, pobrezas e até pestes (uma dizimou metade da população em 1720), mas que hoje ressurge como um destino vibrante, autêntico e referência do sul do país.
A capital da Provença nada se assemelha à paisagem rural dos campos de lavandas e dos vinhedos que decoram uma das regiões mais românticas do velho continente. Marselha é marítima, de essência mediterrânea, de pescadores e mercantes. Sua singularidade é enriquecedora, com praias paradisíacas, como as de Calanques, já na icônica Riviera Francesa, que se estende até a badalada Cannes.
Muito foi feito em Marselha nas últimas décadas. De temida no passado por altos índices de violência, passou a ser reconhecida pelo acelerado ritmo de melhora na qualidade de vida e por imprimir uma mistura acertada de vanguardismo e originalidade.
Do repaginado cais do porto ao bairro histórico, o turista tem a opção de se guiar por roteiros de caminhadas marcados com desenhos nas calçadas. Entre as ruelas que levam até a imponente Catedral de Santa Maria Magioori, lojas de design e paredes grafitadas dividem espaço com marcas tradicionais, como a dos emblemáticos sabonetes de azeite produzidos ali há mais de 600 anos.
A base da gastronomia é marítima, dos pescados frescos aos saborosos ouriços servidos como porções no vinagrete e o emblemático bouillabaisse (sopa de peixes e legumes que pode também ser encontrada como guisado). Aos amantes de doces, há os deliciosos chocolates feitos com azeite, livres de manteiga e aditivos e vendidos no formato de folha de oliveiras, e ainda os tradicionais navettes, biscoitos sem fermento – confeccionados com água de laranjeira –, que são abençoados em uma procissão católica anual e guardados por um ano antes de serem degustados.
A história dessa cidade de 2,6 mil anos é retratada também nos diversos museus, como o imperdível MuCEM – das civilizações europeias e mediterrâneas –, com arquitetura arrojada e localizado no porto antigo, ao lado dos fortes Saint Jean e Saint Nicolas. A esplanada já virou ponto de encontro de moradores e é excelente escolha para curtir o pôr do sol.
Também é imperdível o passeio até a Basílica de Notre Dame de La Garde, mais importante referência religiosa para os marselheses, considerada a protetora dos pescadores. Barquinhos de madeira pendurados no teto da sala principal reforçam a relação de fé com os profissionais do mar. Do alto dos 162 metros, a vista de 360 graus é impressionante. Dá a exata dimensão do tamanho e da força de uma cidade milenar, repleta de cultura e cada vez mais comprometida com a arte de se reinventar.
Nimes, a autêntica franco-romana
Um trajeto de 1h20min de trem separa Marselha da simpática Nimes. Pouco conhecida no Brasil, a cidade, que rivaliza turisticamente com a vizinha Montpellier, é reconhecida pela intensa herança deixada na ocupação romana em território francês. Plana e bem organizada, tem um clima agradável, com um toque de interior e a energia de universidades que dão um tom jovial a um lugar de história milenar.
Cinco minutos de caminhada da estação central, e lá está o colossal anfiteatro, o mais bem preservado do mundo romano. Chamado de Arena de Nimes, o gigante com mais de 1,9 mil anos abriga espetáculos, as famosas corridas de touros e shows musicais para 17 mil pessoas. Estrelas como Elton John e Bob Dylan já tocaram por lá e, neste ano, o festival – realizado em julho – terá nomes como David Gilmour e Jean Michel Jarre.
Outro monumento incrível é o Maison Carrée, o templo mais intacto do império romano, construído no reinado de Augusto. A obra marca o local central onde surgiu a cidade, erguida para ser um marco de exaltação, admiração e respeito.
Animados são os dias do festival de Pentecostes – um dos mais aclamados do país – e da festa da Vindima, de uvas que gerarão vinhos da região de Languedoc-Roussillon-Midi-Pyrénées, cujos rótulos têm melhorado em qualidade nos últimos anos.
Imperdível também é a visita ao pitoresco Mercado Central, para provar as famosas Tellines – pasteizinhos recheados de brandade de bacalhau –, prato emblemático na região.
Patrimônio Mundial da Unesco, a Pont du Gard é outro símbolo que confirma como este pedaço da França era verdadeiramente especial para a velha Roma. A cerca de 15 minutos de carro de Nimes, a ponte-aqueduto foi uma obra-prima do império, construída, em apenas cinco anos (em 50 d.C.), para abastecer a cidade.
O monumento é o segundo mais alto do mundo romano, com 48 metros, atrás apenas do Coliseu, na Itália. Hoje, o local recebe eventos e conta com um moderno museu que retrata a história da construção e da adoração dos romanos pela água. É possível entrar no aqueduto, literalmente dentro da ponte, de onde tem-se uma vista belíssima da região, cercada por bosques.
Lourdes, paz aos pés dos Pirineus
Serenidade talvez seja a primeira sensação ao desembarcar na pequena Lourdes, distante pouco mais de cinco horas de trem de Nimes e quatro de carro de Barcelona, na Espanha. Sob a proteção da famosa cadeia de montanhas que divide a França da Espanha, a cidade é uma das mais procuradas pelo turismo religioso – a terceira entre os peregrinos católicos, atrás apenas de Roma e Jerusalém.
O governo local não tem o número exato, mas estima-se que, a cada ano, cerca de 3 milhões de turistas visitam Lourdes, segunda cidade no país em oferta de leitos, perdendo apenas para Paris. São hotéis práticos – não há cinco estrelas –, e mais de 80% deles fecham no inverno.
As razões que levam multidões à pitoresca vila de pouco mais de 15 mil habitantes estão no famoso Santuário (de livre acesso), com três igrejas e a gruta onde Santa Bernardette teria visto por 18 vezes a Virgem Maria, em 1858. Peregrinos de todo o mundo formam filas com velas nas mãos para tocar a parede em que ela costumava aparecer.
Duas vezes ao dia, são feitas orações e, entre 21h e 22h, rezas são toadas em diversas línguas como uma celebração à diversidade e à tolerância religiosa. A última das três igrejas foi construída em apenas 18 meses, toda em concreto, e é uma das maiores do mundo, com capacidade para 25 mil pessoas. Uma proposta ousada, erguida em 1950, e que hoje se transformou em símbolo da pluralidade religiosa.
Além do turismo religioso e dos passeios nos arredores da cidade – com estações de esqui e trilhas incríveis –, vale conhecer o Castelo de Lourdes, de onde se avista todo o Santuário e se tem um lindo panorama das montanhas. A origem do forte é remota, de 778, dos tempos de Carlos Magno. Sede do Museu dos Pirineus, o lugar traz um pouco da história da região, que mescla influências espanholas e francesas.