Le Dôme, uma suíte de quase 84 m² do Le Cinq Codet, no centro de Paris, ganhou esse nome por causa da vista espetacular que proporciona do Dôme des Invalides, sob o qual Napoleão está enterrado – mas se essa paisagem não o interessar, você pode chegar até o outro lado do terraço particular, passando pela meia dúzia de espreguiçadeiras (todas suas) e admirar a Torre Eiffel. E, se ainda assim, o visual cansar, tem sempre a banheira de hidromassagem, de onde pode apreciar as águas-furtadas nos telhados do 7º arrondissement bebendo o champanhe e comendo os bombons que deixaram na sua ausência. Dentro dela há um sofá em forma de meia-lua, uma TV com tela curva OLED, dois banheiros, um quarto de vestir e uma banheira enfeitada com pétalas de rosas brancas.
Quanto custa tudo isso? No mínimo, US$2 mil/noite. E não levante a sobrancelha, não: Le Dôme (ou a "suíte prestígio", como é chamada no site) é uma das suítes de luxo mais acessíveis hoje em dia. Basta compará-la à nova Suíte Imperial do St. Regis Dubai, por exemplo, que começa em US$20.500; ou a Katara, no Excelsior Hotel Gallia de Milão, em US$22 mil. E só para pisar na cobertura de mais de 1.110 m² do Mark Hotel, em Manhattan, é preciso desembolsar US$75 mil – coincidentemente, o mesmo que, segundo os pesquisadores da Princeton, é preciso ganhar em um ano para ser totalmente feliz.
Será que esses quartos valem o que cobram?
– Alguns hotéis estão apostando que sim; afinal, de acordo a Pesquisa de Afluência e Riqueza de 2015 da Time Inc. e a empresa de pesquisa de mercado YouGov, a previsão era de que o consumo de artigos de luxo nos EUA cresceriam 6,6 por cento no ano passado. "Os gastos dos super-ricos alcançaram níveis inéditos", revela o estudo. Até os turistas da Geração Y estão esbanjando: 45 por cento deles estão dispostos a pagar mais por acomodações verdadeiramente luxuosas, segundo o Retrato do Viajante Norte-Americano de 2015 da empresa de marketing de viagem e hospitalidade MMGY Global. Dos EUA a Hong Kong, os setores de hotelaria mais robustos atualmente são o econômico e o de luxo.
Leia mais
Os usuários do Tinder também estão atrás de relacionamentos sérios
Portland, no Oregon, a capital norte-americana do tango
Transforme seu animal de estimação em um terapeuta
– Nossa evolução política e econômica está literalmente ligada ao setor hoteleiro, afirma Parag Vohra, gerente geral da Sojern, companhia de tecnologia de viagem. Quando a classe média estava em ascensão, o mesmo aconteceu com os hotéis medianos. – Agora ele se esvaziou, mas os dois extremos estão indo muito bem, completa.
Para quem tem condições, há um novo site para reservas de suítes de luxo – o Suiteness.com, financiado por investidores que incluem a Structure Capital e a Keystone Capital, inaugurado no ano passado oferecendo mais de cinco mil quartos em quinze hotéis de Las Vegas. Desde então, já inclui opções em Los Angeles, Miami, Nova York; logo virão as de Londres. Para usar a ferramenta, é preciso se registrar. Uma pesquisa recente para Los Angeles levantou 163 resultados com as diárias entre US$316 e US$25 mil, uma variação estratosférica que nos leva a uma pergunta fundamental: o que é uma suíte?
Palavras como "suíte" e "luxo" significam coisa diferentes em culturas, lugares e contextos diferentes. De fato, a primeira nem sempre foi associada à segunda. – Era uma melhoria, um produto mais espaçoso, mas não necessariamente luxuoso, explica ele.
– A própria ideia de suntuosidade varia de uma região para outra: no Ocidente, geralmente inclui elegância (cores sutis, muita luz natural). Na Ásia e no Oriente Médio, ele se resume à opulência e ao serviço, ou seja, ter gente para cuidar do hóspede no próprio quarto e acompanhá-lo ao restaurante, como acontece no Oberoi Udaivilas de Udaipur, na Índia, prossegue Vohra, cuja experiência hoteleira inclui passagens pelo Wyndham International e Marriott International.
Em outras palavras, uma suíte de luxo não se resume às dimensões físicas do cômodo; inclui também prestígio e um certo nível de mordomia. Em março, por exemplo, o Rocco Forte Hotels anunciou um novo programa de três níveis. Os hóspedes do mais exclusivo, por exemplo, o das Suítes Forte, são recepcionados no aeroporto e levados às respectivas acomodações – lotadas com seus itens favoritos, incluindo flores – para um check-in particular. Entre as primeiras instauradas nessa categoria está a Kipling, no Brown's Hotel de Londres, cuja diária começa em US$8.938 (incluindo as taxas de valor agregado).
– O luxo nunca se resumiu apenas ao espaço. Fazer isso seria limitá-lo e banalizá-lo, comenta Vohra.
É por isso que a palavra "suíte" é tão flexível: pode se referir a seis cômodos ou um só; pode englobar 46 m² ou 836 m²; pode incluir um terraço com vistas de tirar o fôlego ou não ter nenhum espaço externo; pode representar um gasto de US$20 mil ou US$200 por noite. No ano passado, o Hilton Chicago O'Hare Airport introduziu as "suítes familiares" de 45 m² – ou seja, um cômodo só – com diárias a partir de US$134. O Ritz-Carlton em Buckhead, na Geórgia, reformou duas de suas suítes e agora cobra US$479/noite em cada uma. É bom dar sempre uma olhada nas particularidades do quarto antes de fazer a reserva para ter certeza de que a sua ideia de suíte é a mesma do hotel.
Para muitos viajantes, US$479/noite é esbanjamento ou simplesmente fora de questão; para outros, é um roubo e infinitamente pior que a Sterling Suite do Langham, em Londres – uma cobertura com piano, home theater e mordomo pessoal disponível 24 horas, a partir de US$35 mil/noite. Independentemente do quanto se planeja gastar, a questão aqui parecer ser: se vou pagar muito, o que ganho em troca?
Há seis anos, escrevi sobre a descoberta de um grupo de cientistas sociais, que concluiu que gastar em uma experiência – como um período de férias – deixa as pessoas mais felizes, em longo prazo, do que investir em objetos como um relógio ou peça de mobília. A lógica aqui se baseia na adaptabilidade do ser humano; nós nos acostumamos às coisas rapidamente e, com o tempo, elas perdem seus atrativos. E como também foi observado, outra pessoa pode ter o mesmo relógio que você, por exemplo, o que o torna menos especial.
Isso não acontece com as experiências; elas são únicas. E, mesmo se compartilhadas, cada um as interpreta de formas diferentes. Elas são suas para sempre. De fato, os pesquisadores também descobriram que reviver as lembranças alegres gera felicidade.
Decidi então contabilizar os momentos mais marcantes – as "experiências" como dizem os especialistas – resultantes da única noite que passei no Dôme; não os confortos ou os direitos adquiridos, mas os lampejos de felicidade.
E eles incluem: ver, do outro lado da rua, amigos reunidos em uma sacada, copos de vinho nas mãos, rindo e conversando quando o sol começava a se pôr; ver a Torre Eiffel piscando na escuridão enquanto ainda estava de maiô, saindo da banheira de hidromassagem; trufas do Angelina à vontade; o brilho dourado do Dôme des Invalides quando o sol tentava surgir entre as nuvens carregadas – e a possibilidade de recordar a oportunidade em que tive a sorte de passar uma noite mágica em Paris.