Por Odete Pinzetta*
Ao retornar de uma viagem ao Sudoeste Asiático, com conexão no Catar, aproveitei a oportunidade para conhecer um pouco desse país árabe que ocupa uma península do Golfo Pérsico.
A história dessa terra localizada no Oriente Médio é muito antiga. Dominado por persas durante milhares de anos, depois por turcos otomanos e, por último, pelos britânicos, o povo catariano viveu na pobreza, dependente da pesca e da extração de pérolas, até a década de 1940, quando o país passou por uma grande transformação econômica e social, a partir da descoberta de grandes reservas de petróleo e de gás natural. Independente desde 1971, hoje lidera a lista das nações mais ricas do mundo e é a segunda com melhor renda per capita. A população é de 2 milhões de habitantes, mas apenas 250 mil são catarianos nativos – os quais têm muitos privilégios, inclusive o de não pagar impostos.
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Em 2004, incentivado pela Sheikha Mozah, a mais conhecida e influente das três esposas do então emir, iniciou-se um processo de modernização arquitetônica e turística. Atualmente, há guindastes por todos os lados, e construções são erguidas 24 horas por dia. Submetidos a jornadas de 12 horas diárias, os trabalhadores que podem optam pelo horário noturno (17h às 5h) – de dia, precisam enfrentar uma temperatura que, no verão, varia de 40°C a 50°C.
A capital, Doha, que abriga mais de 80% da população do país, concentra o processo de modernização arquitetônica e turística do Catar e faz por merecer a curiosidade que desperta nos turistas. Cheguei naquele horário da madrugada em que o céu começa a ficar rosado. A imagem do moderno skyline da cidade, ao passar de táxi pela Corniche, o belo calçadão costeiro enfeitado por palmeiras, é impactante (foto abaixo).
A inspiração em Dubai fica evidente em diversos pontos, especialmente, no complexo The Pearl Qatar, o primeiro território do país disponível para propriedade plena de estrangeiros (foto abaixo). Formados por ilhas artificiais no formato de uma ostra aberta com uma pérola no meio, os conjuntos setorizados de arquitetura mediterrânea, árabe e asiática abrigam lojas, restaurantes, hotéis, além de área residencial e marina.
Outro ponto com hotéis superluxuosos e restaurantes badalados é o conjunto arquitetônico avistado na chegada, ao longo da Corniche. Os mais modernos edifícios do mundo reproduzidos à beira da baía (foto abaixo) têm sua melhor vista a partir do Museu de Arte Islâmica (MIA), construção arrojada de inspiração árabe projetada pelo arquiteto americano de origem chinesa I. M. Pei (o mesmo da pirâmide de vidro do pátio do Louvre, em Paris). Inaugurado em 2008, o museu abriga importante acervo do universo islâmico, com coleções de cerâmica, tecidos, tapetes, moedas e peças metal da Ásia Central e do norte da África.
Visita ao Souq
Pelas águas do Golfo Pérsico, que margeiam o museu, circulam embarcações de madeira típicas da região. Bem perto dali, fica o Souq Waqif, mercado mais antigo da cidade, formado por ruelas repletas de lojas. Com aspecto de novo, pois suas instalações foram recentemente modernizadas (como tudo neste país), o "souq" mantém a tradição árabe da barganha no comércio de especiarias, frutas secas, antiguidades, pérolas, perfumes, tecidos e roupas tradicionais.
Mas um passeio pelo mercado árabe de Doha não será completo sem uma visita ao Mercado de Falcões, onde estão à venda as aves de rapina adestradas utilizadas pelos beduínos para caçar pequenos animais no deserto. A arte da falcoaria é uma tradição tão forte que, recentemente, foi inaugurado em Doha um hospital especializado para atendimento de falcões.
Na região do mercado, também há ótimos restaurantes e belos cafés para beber um chá e observar os locais curtindo um narguilé, espécie de cachimbo conectado a um vaso cheio d'água, com fumo aromatizado. Beber algo mais forte ali, nem pensar. O consumo de bebida alcoólica em público é proibido, embora seja tolerado nos hotéis internacionais.
Muitos contrastes
No Catar, a modernização da arquitetura contrasta não apenas com as tradições, mas, também, com as leis locais. Cada catariano pode ter até quatro esposas ao mesmo tempo, desde que a primeira concorde com a escolha da segunda, ambas com a da terceira, e todas com a quarta, pois devem conviver em harmonia. Ainda mais chocante para a cultura ocidental é constatar que continuam sendo aplicadas punições como apedrejamento, açoite e decepamento de mão.
À espera da Copa de 2022
Um paraíso não apenas para quem gosta de compras é o Villaggio Mall, o shopping mais sofisticado de Doha. Com arquitetura interior inspirada na Itália, conta com canais por onde se pode passear de gôndola, como se estivesse em Veneza, e uma ala semelhante à Galleria Vittorio Emanuele, onde estão as grifes de luxo, que faz se sentir em Milão.
O Villagio Mall está localizado na região do parque esportivo Aspire e está conectado por um túnel subterrâneo ao luxuoso Hotel The Torch Doha, que tem um restaurante giratório no topo. Completando o complexo, está o Khalifa Stadium, com capacidade para 50 mil pessoas, que será um dos estádios oficiais da Copa de 2022.
Isso se a Copa realmente for realizada lá, pois, após a divulgação dos recentes escândalos da FIFA envolvendo, inclusive, a escolha do Catar como sede, já não se pode ter tanta certeza. Certo, porém, que, se confirmada a Copa 2022 no Catar, o país estará pronto para receber os turistas.
*Leitora do Viagem, Odete Pinzetta já conheceu mais de 85 países, de roteiros convencionais aos mais exóticos