O tubarão de 1m8cm saiu da água se debatendo, e Fabián Pina Amargós e sua tripulação o puxaram rapidamente para o barco de pesquisa. Uma equipe começou a trabalhar, imobilizando a boca e a cauda do animal, jogando água sobre ele para mantê-lo respirando e prendendo uma etiqueta de plástico amarela em um pequeno buraco perfurado em sua nadadeira.
– Qual é o estado dele? – perguntou Tamara Figueredo Martín, mulher de Pina.
– Excelente, está excelente – disse Pina, antes de a equipe cuidadosamente erguer o tubarão e devolvê-lo ao mar.
Biólogo marinho e diretor do Centro de Pesquisa do Ecossistema Costeiro de Cuba, Pina passou a maior parte de sua carreira estudando a abundância de peixes e outros animais selvagens neste arquipélago a 80 quilômetros da costa sul do país, uma região tão fecunda que foi chamada de Galápagos do Caribe.
Ele tem um amor profundo por sua riqueza biológica: os exuberantes manguezais, os tubarões e as garoupas, os cardumes de diferentes espécies de peixes de cores brilhantes e o recife de coral vibrante, praticamente intocado de agressões, um ponto brilhante em uma lista muitas vezes deprimente do declínio do mundo oceânico.
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Como aluno da Universidade de Havana, Pina participou da primeira pesquisa oceânica em Jardines de la Reina (Jardins da Rainha) depois que o governo cubano estabeleceu uma reserva marinha de 950 quilômetros quadrados aqui em 1996, com forte restrição ao turismo e proibindo a pesca, com exceção de lagosta, parte importante da economia de Cuba.
Os tubarões são uma atração turística – em dois dos muitos pontos de mergulho, são alimentados para garantir maiores números –, mas, para cientistas como Pina, sua presença aqui é um indicador da robustez do recife de coral. As pesquisas têm ligado a saúde dos recifes à presença de peixes grandes, e a ausência de tubarões e outros predadores é frequentemente o sinal de um recife em declínio.
– Se você gosta de recifes de coral, precisa gostar de tubarões. Eles são extremamente importantes para o equilíbrio da população. Se eles se forem, as algas podem tomar conta do recife e sufocá- lo – disse David E. Guggenheim, cientista marinho que tem trabalhado extensivamente em Cuba e que frequentemente visita Jardines de la Reina por meio de sua organização, a Ocean Doctor.
Mesmo assim, a simples preservação não pode assegurar a proteção dos tubarões e de outros grandes predadores, espécies que viajam longas distâncias e que não respeitam os limites dos santuários. Embora a pesca seja proibida na pequena reserva marinha, ela ainda é permitida na maior área protegida que Cuba transformou em parque nacional.
Enquanto os tubarões e outros peixes grandes continuarem em Jardines de la Reina, os turistas também virão. Muitos deles irão se hospedar no Tortuga, um pequeno hotel flutuante perto da estação de pesquisa operado pela Avalon, uma empresa italiana, que tem um contrato com o governo.
O turismo é importante para a preservação marinha, para a economia de Cuba – está classificado entre os 50 melhores pontos de mergulho do mundo, e 60% dos mergulhadores citam os tubarões como a atração principal, disse Pina – e como um incentivo para manter a proibição de pesca.
A garoupa golias também é uma grande atração.
– Todo mundo gosta de animais grandes, e essa garoupa parece um elefante na água – observou Pina.
Porém, muito turismo é uma ameaça em si. No ano passado, sob os limites do governo, menos de 3 mil mergulhadores e pescadores visitaram Jardines de la Reina. Só que, com a abertura das relações entre Cuba e os Estados Unidos, muitos turistas mais podem vir em breve.
*The New York Times