Com paredões de mil metros de altitude, que cercam o horizonte e te engolem com suas fendas imensas cobertas de mata, a Serra Geral oferece um cardápio de trilhas no extremo sul de Santa Catarina. O cânion da Pedra fica no limite norte do Parque Nacional da Serra Geral, e o topo dos paredões marca a divisa com o Rio Grande do Sul – lá em cima, no planalto, o território é gaúcho; junto ao rio, é catarinense.
A região tem diversos cânions. As trilhas mais visitadas são a do Rio do Boi, que percorre o interior do Itaimbezinho, e a do Tigre-Preto, no interior do Fortaleza, pertencentes aos parques nacionais Aparados da Serra e da Serra Geral, respectivamente. A área onde fica o cânion da Pedra está sob tutela da família Ronsani, que só permite a entrada de turistas se acompanhados por um guia credenciado.
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– Esse, apesar de ser menos vendido, é meu cânion preferido. Tem mais aventura, mas a trilha é mais difícil – explica o guia Sérgio Lopes.
Nenhuma trilha na região é fácil, mas uma pequena escalada, obrigatória para quem quer chegar até a cachoeira Ana Schiratta, e um trecho bastante estreito entre duas paredes de pedra tornam o cânion da Pedra mais desafiador. Além disso, são oito quilômetros de caminhada, ida e volta, pelo leito do rio, ascendendo aproximadamente 400 metros de altitude. Atividade que demora cerca de oito horas.
O Parque Nacional da Serra Geral, que envolve o de Aparados da Serra dentro do seu território, fica entre as cidades de Cambará do Sul (RS), Praia Grande e Jacinto Machado (ambas em SC). Ao todo, são 300 quilômetros quadrados de área preservada, onde se pode conhecer os cânions pelo território gaúcho e observar as fendas do alto ou fazer trilhas pelo interior deles, em Santa Catarina.
Nenhuma das trilhas no interior dos cânions pode ser feita sem o acompanhamento de guias. Quedas e escorregões ocorrem mesmo entre os mais experientes. Mas também há cobras venenosas como a jararaca na região, e o risco de enchentes repentinas. Por estar entre dois morros íngremes, toda a água deságua no rio e, se a tempestade é muito intensa, o nível sobe rápido.
Para operar na região, os guias passam por treinamentos e experiências antes de assumir a responsabilidade de conduzir um grupo, como cursos de primeiro socorros, rapel e orientação turística. Mas mesmo com essa atenção, é necessário que cada um cuide de si.
– A dica mais básica é, quando caminhar, apenas caminhe. Não tire fotos ou se distraia, porque tropeçar é muito fácil – recomenda o guia Sérgio Lopes, acrescentando que fraturas de dedos e braços são os acidentes mais comuns.
Banhos de cachoeira e rio no Cânion da Pedra
Atravessar o cânion da Pedra, em Jacinto Machado, no sul de Santa Catarina, é submeter-se à força avassaladora da imensidão verde da mata e dos morros por todos os lados. É render-se ao eterno fluxo do rio de água pura e cristalina, que molda pedras, cachoeiras e piscinas naturais.
As cinco horas de caminhada que antecedem a cachoeira Ana Schiratta são repletas de banhos de cachoeira e saltos em piscinas. É um constante tirar a camiseta e largar a mochila para um mergulho em um lugar novo. E até mesmo nos lugares onde o Rio Pai José se infiltra sob seu próprio leito, deixando os seixos expostos à secura, a paisagem encanta.
No início, o calor é intenso, e os banhos de rio são em sequência. Aos poucos, o espírito de diversão se sacia, e a imponência da beleza do final da trilha, aos pés da cachoeira, deixa quem a contempla acomodado. O silêncio perde espaço para o som da água, e a vontade é de observar e absorver o instante.