Antígua permite que você chegue e se instale aos pouquinhos e se revela com cuidado, em seu ritmo próprio, sem pressa - que você pode nem perceber, caso se vire rápido demais. Percebi o fascínio que muitas pessoas veem na ilha quando acordei na primeira manhã da minha estadia ali.
A luz pálida do alvorecer se filtrava no meu quarto e os pássaros amarelos e pretos, minúsculos, batiam as asas a caminho das palmeiras frondosas, buganvílias e bananeiras que havia além da minha sacada. A seguir veio o barulhinho da vassoura do jardineiro nas trilhas lá embaixo e o murmurar do mar a poucos metros de mim. Não demorou muito e lá estava eu, descalça na areia quente, de pé à beira d'água, admirando o sol.
É isso que atrai milhares de visitantes a Antígua todos os anos: os resorts luxuosos, as 365 praias praticamente intocadas e as baías, enseadas e portos escondidos. A ilha, um amontoado de colinas de 14,5 por 19 quilômetros de litoral recortado, tem moradores e visitantes ilustres (Eric Clapton tem casa, Oprah está sempre ali), mansões multimilionárias como a Mellon, no exclusivo Mill Reef Club, e uma regata de nível internacional que se realiza no English Harbour, onde fica a base a Marinha britânica do século 18 que ganhou o nome de Horatio Nelson.
Os especialistas em Caribe sabem dizer a diferença entre Antígua e Anguilla, Santa Lúcia e Saint Barths, mas a maioria dos turistas em busca de descanso chega, sai do aeroporto direto para o hotel, visita alguns locais históricos e puxa papo com hóspedes em busca mais ou menos das mesmas coisas. Se explorar um tiquinho mais a fundo, porém, vai ver que há mais.
- Antígua é como se fossem dois mundos: de um lado, tudo isso, praias lindas, mar azul; do outro, a história escondida. Há um lado sombrio - diz Reginald Murphy, arqueólogo da ilha.
E é nessa mesma história que Murphy passava os dias mergulhado, supervisionando as escavações em English Harbour e no enorme canavial de Betty's Hope e a descoberta de esqueletos humanos - que se acredita serem restos mortais de marinheiros britânicos dos séculos 18 e 19 - em Galleon Beach, vários anos atrás.
Eles são lembretes da narrativa menos conhecida da ilha, que já foi um centro colonial escravagista de açúcar. E, como muitos países vizinhos, mudou de mãos repetidas vezes: os siboney, arawaks e caribes a viram ser tomada pelos espanhóis e pelos britânicos, que trouxeram os escravos africanos. Ganhou emancipação em 1834, e em 1981 tornou-se independente.
O choque de culturas em Antígua - a negra, de renda média e baixa, a outra branca, predominantemente rica - que Jamaica Kincaid descreve em seu livro de memórias de 1988, A Small Place, parece menos corrosivo e hostil do que aquele que ela viveu, na década de 1950 e início dos anos 60, mas as distinções de raça e classe ainda são bem visíveis.
Enquanto o arqueólogo Reginald Murphy e eu discutíamos o assunto, absorvi o clima tranquilo do hotel à minha volta: as flores e palmeiras exuberantes, apesar da seca perene em Antígua; a recepção, cheia de mulheres joviais e atenciosas; a senhora de chapéu que vendia camisetas e maiôs sob um coqueiro; o casal de meia-idade brincando na água na força do sol do meio-dia; o hóspede cochilando na espreguiçadeira, à sombra, refrescado pela brisa do mar.
Era um contraste gritante com a história que Murphy tinha me contado - e uma vez que você toma conhecimento da existência da "outra" Antígua, ver apenas a destinada aos turistas parece incompleta.