Dá pra vir passar uns dias em Floripa sem botar o pé na areia? Tem que ser muito mazanza pra fazer isso. Mas tem um mundaréu de gente que faz o contrário: esquece que entre uma praia linda e outra tem uma cidade de verdade, onde a gente vive, compra cueca, faz compra de supermercado, onde vai numa quinta à noite ou em um sábado de manhã quando o vento sul tá medonho, morrinha, sei lá, em agosto.
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E acho mesmo que vocêgi, gaúnchos, têm altas vantagem pra viver isso: gostam de aprender sobre as coisas, são uma raça que gosta de ler mais que a média do Brasil, só pra ficar nesse exemplo. Então, ixpia, ô:
Começa dando uma banda pelo nosso Mercado Público (foto acima), que tá altos e foi reformado faz alguns meses. Duvido que toque o Alegrete, mas tem programação musical estendida, opção de cerveja de garrafa 600ml (menos Polar) e umas artesanais pra dar um brilho. Fora da temporada, quem chega depois das 11h já tá se estapeando por uma mesa.
Águas termais são destino para quem busca relaxar
Te digo pra ti: no sábado, vai mais cedo, umas 9h, e ixpia o nosso Viva a Cidade, uma feira de antiguidades que não uma baita como a de Montevidéu, Curitiba ou Viena aos domingos, mas tem muita coisa legal, som ao vivo e, de vez em quando, foodtrucks.
Ao redor da Figueira e da Praça XV, tem muita coisa que faz com Floripa o que vocêgi costumam fazer com o Rio Grande: colocar no centro do mundo. Qué vêsh?!
Tu podes fazer de graça uma visita com audioguia ao Museu Vitor Meirelles, principal pintor da coroa portuguesa no final do século 18. Do outro lado da Praça XV, o Palácio Cruz e Sousa, hoje museu, faz referência ao negro e poeta simbolista mais importante da história, e que era de Desterro, antigo nome de Florianópolis.
Da sacada desse mesmo prédio estilo Eclético, o ex-presidente militar Figueiredo enfrentou uma multidão e se envolveu em um rolo que virou fato histórico: a Novembrada. Dá um Google e assiste ao curta sobre o assunto. Aí, quando fores lá, debaixo do prédio cor de salmão, é só reconstruir mentalmente.
Se nada disso for muito a tua cara, pelo dá voltas em sentido horário ao redor da Figueira pra garantir casamento (e anti-horário se for pro contrário) e caminha uma quadra pra comer um pastel do Keko com laranjinha - programa mais mané, impossível.
Mesmo na praia, estimado, tu também podes aprender sobre a Ilha só falando sobre os nomes dos lugares: Jurerê, vem de Ijurerê-Mirim, do tupi-guarani - índios que (também) habitavam nosso litoral. Significa algo como boca pequena, um referência à região da Ilha mais próxima ao continente.
Ingleses, praia do Norte, lembra um naufrágio de embarcacação britânica. Canasvieiras, também no Norte, rememora um canavial sem fim e conta-se que a família Vieira era dona daquelas terras.
Lá no Súli do súli da Ilha, Naufragados, onde só se chega de barco ou a pé, ganhou esse nome depois que em 1753, duas embarcações lotadas de imigrantes açorianos fez água.
Bem antes, por 1516, outro naufrágio mudaria a história do súli do mundo: os sobreviventes de parte da expedição de Juan Dias Solís, primeiro europeu a chegar ao Rio da Prata - ele morreu lá, entre Argentina e Uruguai, e uma das embarcações naufragou entre o súli da Ilha e Palhoça, há exatos 499 anos. Por séculos, a Ilha seria ponto de apoio para navegadores do mundo todo.
Sambaqui, praia/bairro onde tem um pôr-do-sol que dá um banho no do Guaíba, Vem de tamba (conchas) ki (amontoado) e que possivelmente já era admirado pelos nossos primeiros habitantes, os homens do Sambaqui, há coisa de 8 a 5 mil anos.
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Perfil
Rodrigo Stüpp é jornalista e guia de turismo manezinho. Visitou 19 países nos últimos cinco anos e está cada vez mais convencido de que Floripa tem muito a oferecer do que mais que praias e baladas caras.
-mazanza = tolo
-mundaréu = muita, muitos
-medonho = neste caso
-vocêgi = plural de tu
-gaúncho = vocês do RS
-altas = grande
-raça = muita gente
-ixpia = presta atenção
-dar um brilho = ficar levemente bêbado
-Te digo pra ti = exagero pra dar ênfase na fala que vem a seguir
-Qué vêsh?! = querem ver só?
-rolo = confusão, discussão
-súli = sul
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Florianópolis tem diversas opções de lazer, entre as quais os passeios de barco que levam a ilhas próximas.
Marco Aurélio Torres Antunes
De Porto Alegre, em abril de 2014
Procurando um lugar mais tranquilo em minha viagem com os filhos para Florianópolis, me indicaram uma praia pouco conhecida da ilha: a Galheta. É de naturismo opcional, acessada apenas por uma trilha leve que sai da Praia Mole. Diferentemente da vizinha, a Galheta é tranquila, frequentada principalmente pelo público GLS, argentinos e também algumas famílias. Não há muitas opções de comes e bebes. Para quem quer tranquilidade, sem preconceitos, é uma boa opção. Na foto, Melissa e Michael Schmitt Fracaro.
Lúcia Schmitt
De Porto Alegre, em fevereiro de 2014
Canasvieiras é um bairro e uma praia localizados ao norte da Ilha de Floripa. A areia é fina e amarelada, boa para andar descalço. O mar é calmo e quente, apropriado para crianças. Na foto, meu pequeno sobrinho Miguel Tamiozzo curtindo o pôr do sol.
Maria Marina Serrão Cabral
De Porto Alegre, em julho de 2015
Na seção Seu Olhar, os leitores do caderno Viagem compartilham suas experiências em destinos pelo mundo de acordo com desafios propostos por ZH semanalmente. Confira mais desafios.