Uma das formas de chegar à casa da escritora Agatha Christie é em um trem a vapor a partir da cidade de Paington. Um vídeo publicado por Caderno Viagem ZH (@viagemzh) em Mar 24, 2015 às 12:58 PDT
Além de fazer uma viagem no Expresso Oriente (ainda que não seja mais aquele Expresso Oriente do livro) e assistir à peça A Ratoeira em Londres, visitar Greenway é uma das experiências dos sonhos para os fãs de Agatha Christie. A partir de 1938, a escritora passava em média três meses por ano em sua casa de veraneio em Devon. E dá para entender: o local é extremamente agradável.
Há várias opções para se chegar lá. A preferida é por barco, percorrendo o cênico Rio Dart. Quando fui, o nível do rio estava muito baixo, e precisamos apelar para o plano B. Mesmo assim, foi encantador. Embarcamos em um trem a vapor na estação de Paignton para uma viagem de meia hora até Greenway Halt (8,5 libras). É possível também ir de ônibus, bicicleta e a pé.
O ingresso de 9,90 libras dá acesso a toda a propriedade. Durante o dia, o jardineiro-chefe faz tours guiados pelo vasto jardim, com saída em frente à loja de suvenires. Como os ingleses são grandes amantes da jardinagem, prepare-se para longas explicações sobre as espécies de plantas que vocês encontrarão pelo caminho (inclusive sobre como se comer pinhão - e não é da nossa forma).
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A ampla casa está aberta à visitação desde 2009, após uma grande reforma feita pela National Trust, instituição que administra muitas das propriedades históricas do país. Greenway foi doada por Rosalind Hicks, filha única da escritora, em 1999 - mas ela e o marido moraram na residência até morrer, em 2004 e 2005, respectivamente. Até então, apenas os jardins estavam liberados para o público.
Fachada de Greenway. Foto: Priscila De Martini, Agência RBS
A National Trust garante que, fora as reformas estruturais, tudo está como Rosalind e o marido deixaram, o que inclui uma vasta coleção de objetos pertencentes a Agatha e ao segundo marido da autora, o arqueólogo Max Mallowan (1904 - 1978). Boa parte deles foi adquirida nas viagens do casal à África e ao Oriente Médio, lugares que os dois visitaram muitas vezes devido às escavações de Max - e que foram cenário para numerosos mistérios da escritora. Há guias voluntários (na maioria, aposentados) que podem fazer um tour gratuito.
Quem conhece bem a obra de Agatha encontra muitos objetos que certamente inspiraram as tramas. Em pouco tempo, avistei ao menos três: o baú iraquiano de O Mistério do Baú de Bagdá (1939) e A Aventura do Pudim de Natal (1960), o gongo de A Segunda Batida do Gongo (1924), e a bolsa com tacos de Assassinato no Campo de Golfe (1923).
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A escritora colecionava caixas, então você pode encontrar inúmeras espalhadas pela casa. Também há retratos de Agatha e de outros integrantes da família, a máquina de escrever que ela usava e até o título de dama do Império Britânico perdido em um armário cheio de porcelanas e quinquilharias (foto abaixo).
Foto: Priscila De Martini, Agência RBS
O quarto em que a autora e Max dormiam ainda conta com a cama original e um closet cheio de roupas. Perto, há uma sala em que os visitantes podem sentar e apreciar alguns livros da coleção. Já a sala de jantar recebia quase todos os anos eventos e as festas de aniversário de Agatha. No andar de baixo, uma cozinha lembra as melhores passagens com criados nos livros.
Closet com roupas de Agatha Christie. Foto: Priscila De Martini, Agência RBS
Mas um dos cômodos mais interessantes é a biblioteca. Durante a II Guerra Mundial, os Estados Unidos requisitaram a propriedade para o ensaio do que ficou conhecido como o Dia D, um dos episódios mais emblemáticos do conflito. O tenente Marshall Lee pintou no topo das paredes a trajetória da Flotilha 10 da Guarda-Costeira americana desde a saída de Key West até seus dias em Greenway. Quando a casa foi devolvida, Agatha não quis apagar a obra por ser uma importante memória histórica.
Biblioteca com o friso pintado por tenente durante a II Guerra. Foto: Priscila De Martini, Agência RBS
Do lado de fora, próximo ao rio, está a casa de barcos que inspirou o livro A Extravagância do Morto. Ela, inclusive, foi usada como locação na adaptação da obra para a televisão em 2013, na célebre série Poirot de Agatha Christie (1989 - 2013).
Mas só o gramado em frente à residência já é um convite para a contemplação. Em um dia de sol como o que apreciamos, sentar no chão e observar o Dart já é uma experiência privilegiada. É um delicioso passeio de dia inteiro (ou muito mais do que isso para os fãs mais entusiasmados).
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